Polícia diz ter liberado a famílias 6 dos 26 corpos dos mortos em Varginha (MG)
Nenhum policial morreu ou ficou ferido na ocasião
A Polícia Civil de Minas Gerais anunciou ter liberado a familiares, nesta terça-feira (2), 6 dos 26 corpos dos suspeitos mortos em Varginha (MG no domingo (31), em ação conjunta da Polícia Militar e da PRF (Polícia Rodoviária Federal). Nenhum policial morreu ou ficou ferido na ocasião.
Os suspeitos mortos estavam escondidos em duas chácaras onde arquitetavam um roubo aos moldes do que a polícia chama de “novo cangaço”, tática também conhecida como “domínio de cidades”. A ação seria semelhante ao ataque ocorrido em Araçatuba (SP), quando foi planejado um roubo de R$ 90 milhões.
Relatório de inteligência da polícia mineira, ao qual a reportagem teve acesso, identificou 20 das 26 pessoas mortas. Outros dois nomes constam em lista divulgada pela polícia nesta terça.
De acordo com o documento, havia três núcleos de origem do grupo, identificados com base nos endereços dos suspeitos. Dois deles no interior de Minas Gerais e outro em Goiânia (GO). Ao menos seis dos mortos já tinham tido passagem pelo sistema prisional.
Oficialmente, contudo, a Polícia Civil de Minas Gerais havia divulgado até então o nome de apenas três dos mortos -um deles, Gerônimo da Silva Sousa Filho, não constava na lista interna da polícia, que traz fotos de 16 de 20 suspeitos, também depois de mortos.
Na lista de corpos liberados, constam Eduardo Pereira Alves, 42 anos, Brasília (DF); Gilberto de Jesus Dias, 29 anos, Uberlândia (MG); Nunis Azevedo Nascimento, 33, Novo Aripuanã (AM); Raphael Gonzaga Silva, 27, Uberlândia (MG); Ricardo Gomes de Freitas, 34, Uberlândia (MG); e Thalles Augusto Silva, 32, Uberaba (MG).
De acordo com a Polícia Rodoviária Federal, houve confrontos com os suspeitos em duas chácaras, e foram apreendidas armas, munições, granadas e veículos roubados.
O tenente-coronel Flávio Santiago, do setor de comunicação da PM de Minas Gerais, disse que a intenção era prender os dois grupos de criminosos, mas houve reação. Como, segundo Santiago, os policiais ocupavam uma posição privilegiada, nenhum deles ficou ferido.
Os corpos foram levados ao IML (Instituto Médico Legal) em Belo Horizonte, onde passam por necropsia e são identificados, disse a Polícia Civil de Minas Gerais. Na operação, foi apreendida uma carreta com um compartimento secreto que, segundo os policiais civis, seria usada na fuga após o assalto.
Em reação à operação, o governador de Minas, Romeu Zema (Novo), chamou os policiais envolvidos de “heróis” e disse que trabalha para que o estado continue sendo, segundo ele, o mais seguro do Brasil.
A corporação informou que as vítimas foram retiradas com vida do local, informação contestada por especialistas em Segurança Pública ouvidos pela reportagem.
“É uma informação, no mínimo, questionável. É difícil imaginar que todos os suspeitos sobreviveram inicialmente a uma troca de tiros com armas de alto poder de fogo. [A retirada dos corpos] Esvazia a investigação e o laudo de perícia de local. Não estou dizendo que houve uma adulteração da cena do crime, mas isso precisa ser investigado”, analisou Cássio Thyone Almeida de Rosa, perito federal aposentado e conselheiro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Luis Felipe Zilli, sociólogo, pesquisador da Fundação João Pinheiro e membro do Fórum, entende que a ação poderia ter sido mais bem planejada. “A Polícia Militar teve uma semana para planejar essa ação, que foi feita sem a participação da Polícia Civil. Com a morte dos suspeitos, também se perde a oportunidade de buscar informações que seriam fundamentais em investigações contra o novo cangaço no Brasil. A morte de todos eles sem prisão representa um fracasso da operação.”.
O Ministério Público de Minas Gerais e a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa irão investigar se houve algum tipo de irregularidade na operação, também monitorada pela OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).
O caso está sendo investigado pela Polícia Civil e pela própria PM, que instaurou um inquérito policial militar para apurar as circunstâncias da ocorrência.
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OS MORTOS NA OPERAÇÃO EM MG
Núcleo de Uberaba (MG):
– Thalles Augusto Silva, 32 anos – Tinha passagem pelo sistema prisional;
– Júlio César de Lira, 36 anos – Tinha passagem pelo sistema prisional;
– Dirceu Martins Netto, 24 anos;
– Itallo Dias Alves, 25 anos;
– Gleisson Fernando da Silva Morais, 36 anos;
– Arthur Fernando Ferreira Rodrigues, 27 anos;
– Francinaldo Araújo da Silva, 44 anos;
Núcleo de Uberlândia (MG):
– Raphael Gonzaga Silva, 27 anos – Tinha passagem pelo sistema prisional;
– José Rodrigo Dama Alves, 33 anos – Tinha passagem pelo sistema prisional;
– Gilberto de Jesus Dias, 29 anos – Tinha passagem pelo sistema prisional;
– Evando José Pimenta Júnior, 37 anos;
– Luiz André Felisbino, 44 anos;
– Ricardo Gomes de Freitas, 34 anos;
– Giuliano Silva Lopes, 32 anos;
Núcleo de Goiânia (GO):
– Isaque Xavier Ribeiro, 27 anos – Tinha passagem pelo sistema prisional;
– Romerito Araújo Martins, 25 anos;
– Zaqueu Xavier Ribeiro, 40 anos;
– Eduardo Pereira Alves, 42 anos – Morava em Brasília;
Os outros mortos:
– Adriano Garcia, Nunis Azevedo Nascimento e José Filho de Jesus Silva Nepomuceno;
– José Filho de Jesus Silva Nepomuceno, de 27 anos – Morava no Maranhão;
– Nunis Azevedo Nascimento, 33 anos – Morava em Porto Velho/RO;
– Gerônimo da Silva Sousa Filho, de 28 anos – Morava em Porto Velho/RO;
– Adriano Garcia, 47 anos – Único dos suspeitos que morava em Varginha, onde o grupo foi encontrado.