Viagem de Lula aos EUA deve ficar para depois da posse, diz Celso Amorim – Mais Brasília
FolhaPress

Viagem de Lula aos EUA deve ficar para depois da posse, diz Celso Amorim

Lula disse que queria discutir com Biden assuntos que iam do papel geopolítico do Brasil, democracia nos dois países, à guerra da Ucrânia

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A viagem do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aos Estados Unidos para um encontro com o presidente Joe Biden deve ficar para depois da posse, agendada para 1º de janeiro de 2023, informou nesta segunda-feira (5) o ex-chanceler Celso Amorim.

Principal conselheiro de Lula para a política externa, o ex-ministro participou do encontro de Lula com o conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan.

“O presidente comentou a situação interna, negociações diversas que ainda estão ocorrendo e disse que talvez não desse [para ir aos EUA antes de assumir]. Não disse não, mas que talvez não desse. Valorizou muito o fato de o convite ter sido feito dessa maneira, mas que talvez não desse para estar lá antes da posse”, afirmou Amorim. “Ele acha que dá para ir logo no início do ano [2023] também, já numa visita oficial como presidente.”

Sullivan viajou ao Brasil para fazer o convite a Lula e discutir “desafios comuns” aos dois países, incluindo crise climática, segurança alimentar, democracia e imigração.

Segundo relato de Amorim, a conversa de Lula com o representante de Biden foi “muito ampla, incluindo temas regionais, globais e mundiais”.

A pacificação do Haiti foi um dos temas contemplados. Segundo o ex-chanceler, tanto Lula quanto Sullivan demonstraram preocupação com a situação do país, mas o conselheiro americano não fez nenhum pedido especial ao futuro governo brasileiro.

“O próprio presidente [eleito] Lula lembrou o empenho que o Brasil teve no passado na questão do Haiti, enfrentando às vezes até oposição interna. E a preocupação que ele tem porque a situação atual aparentemente é muito pior que há 14, 15 anos”, comentou. Os militares brasileiros participaram da missão da ONU no Haiti de 2004 a 2017.

A crise na Venezuela foi outro assunto em pauta. Para os americanos, é fundamental que haja uma eleição que seja considerada justa no país venezuelano. Lula, por sua vez, falou da importância de se reconhecer realidades, lembrou experiências do passado e pregou o diálogo.

A reunião contou também com a presença do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT), integrante do grupo técnico de economia da transição e cotado para assumir o Ministério da Fazenda, e o senador Jaques Wagner (PT-BA).

Do lado americano, também estiveram no encontro o diretor-sênior para o hemisfério Ocidental do Conselho de Segurança Nacional Juan González, que cuida de assuntos ligados à América Latina, Ricardo Zúniga, secretário-adjunto de hemisfério Ocidental no Departamento de Estado e ex-cônsul em São Paulo, e o encarregado de negócios da Embaixada americana no Brasil, Douglas Koneff.

O encontro com o emissário de Biden com Lula já havia sido anunciado pelo presidente eleito na sexta-feira (2), durante entrevista a jornalistas no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil), onde está instalado o gabinete de transição. Na ocasião, Lula afirmou que acertaria os detalhes de sua ida aos EUA, mas que a eventual viagem só aconteceria após a sua diplomação, no dia 12.

Lula disse que queria discutir com Biden assuntos que iam do papel geopolítico do Brasil, democracia nos dois países, à guerra da Ucrânia.

“Eu acho que nós temos muita coisa para conversar, porque os EUA padecem de uma necessidade democrática tanto quanto o Brasil. O estrago que o [Donald] Trump fez na democracia americana é o mesmo que o Bolsonaro fez no Brasil”, afirmou Lula na ocasião.

O presidente eleito recebeu a comitiva americana nesta segunda no hotel onde está hospedado em Brasília, durante as atividades do gabinete de transição. O encontro durou quase duas horas. Mais cedo, uma equipe do esquadrão antibomba da Polícia Federal fez uma varredura no local. Trata-se de um procedimento de rotina.

Antes de conversar com Lula, Sullivan já tinha encontrado o senador petista Jaques Wagner. Na tarde desta segunda, o representante de Biden se reunirá ainda com o almirante Flávio Rocha, secretário especial de Assuntos Estratégicos do governo Jair Bolsonaro (PL).

Por Nathalia Garcia e Renato Machado