Vergonha e desmoralização para todos, diz Santos Cruz sobre ausência de punição para Pazuello
General da reserva afirmou em redes sociais sobre decisão de não punir ex-ministro da Saúde, após participação em manifestação política
Ex-ministro do governo Jair Bolsonaro, o general da reserva Carlos Alberto dos Santos Cruz afirmou em redes sociais que a decisão do Exército de não punir Eduardo Pazuello por participação em uma manifestação política, cedendo a uma pressão do presidente, é uma “vergonha” e uma “desmoralização para todos nós”.
“Sobre o conjunto dos fatos, é uma desmoralização para todos nós. Houve um ataque frontal à disciplina e à hierarquia, princípios fundamentais à profissão militar. Mais um movimento coerente com a conduta do presidente da República e com seu projeto pessoal de poder. A cada dia ele avança mais um passo na erosão das instituições”, escreveu Santos Cruz.
Santos Cruz foi ministro da Secretaria de Governo de Bolsonaro e é general da reserva. Depois de deixar a administração, ele converteu-se em um crítico de Bolsonaro, principalmente das tentativas do mandatário de interferir nas Forças Armadas.
“Não se pode aceitar a subversão da ordem, da hierarquia e da disciplina no Exército, instituição que construiu seu prestígio ao longo da história com trabalho e dedicação de muitos. Péssimo exemplo para todos. Péssimo para o Brasil”, continuou Santos Cruz.
Pazuello é general da ativa e foi ministro da Saúde de Bolsonaro entre maio de 2020 e março deste ano. Como titular da pasta no período do agravamento da pandemia e das negociações com farmacêuticas pela compra de imunizantes, ele é um dos principais alvos da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid.
O ex-ministro da Saúde esteve no centro do último episódio de tensão entre Bolsonaro e as Forças Armadas.
Ao participar de um ato político ao lado de Bolsonaro em 23 de maio, no Rio de Janeiro, ele violou regulamentos militares que vedam manifestações do tipo por integrantes da ativa.
Embora membros do alto comando tenham reconhecido internamente que houve transgressão e que a punição tenha sido defendida pelo próprio vice-presidente, general Hamilton Mourão (PRTB), Bolsonaro pressionou a instituição para que não houvesse castigo para seu subordinado -Pazuello foi nomeado para um cargo vinculado à presidência da República.
Como resultado, o comandante do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, aceitou a pressão e a interferência Bolsonaro e decidiu, na quinta-feira (3), livrar Pazuello de qualquer punição. Oliveira acatou o argumento de Bolsonaro, Pazuello e generais da reserva que integram o governo. Para eles, o ato político no Rio de Janeiro não teve conotação partidária.
Em sua publicação nas redes, Santos Cruz afirmou que “a politização das Forças Armadas para interesses pessoais e de grupos precisa ser combatida” e que trata-se de “um mal que precisa ser cortado pela raiz”.
Ele também criticou falas recentes de Bolsonaro, em que o mandatário usou a expressão “meu exército”. “À irresponsabilidade e à demagogia de dizer que esse é o ‘meu exército’, eu só posso dizer que o ‘seu exército’ não é o Exército brasileiro. Este é de todos os brasileiros. É da nação brasileira”.