Uso de dinheiro vivo era para pagar pequenos fornecedores, diz defesa de Bolsonaro
As declarações foram dadas em entrevista coletiva após a revelação de que a Polícia Federal pediu a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telemático de um ajudante de ordens de Bolsonaro
A defesa de Jair Bolsonaro (PL) afirmou nesta segunda-feira (15) que o uso de dinheiro vivo para pagamento de despesas do ex-presidente e da família durante o mandato à frente do Executivo serviu para bancar custos com pequenos fornecedores.
Fabio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação do governo Bolsonaro, afirmou que será contratado um perito para “evidenciar que não há nenhum desajuste entre entradas e saídas de recursos” da conta do ex-presidente em meio às apurações em curso na Polícia Federal.
“Não há cruzamento de saques, 100% do custo de vida da família do presidente saiu exclusivamente da conta pessoal do presidente”, disse.
Ele também afirmou que a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro usava o cartão de crédito de uma amiga porque, segundo ela, Bolsonaro é “muito pão duro”.
As declarações foram dadas em entrevista coletiva após a revelação de que a Polícia Federal pediu a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telemático de um ajudante de ordens de Bolsonaro para investigar transações entre ele e uma empresa com contratos do governo federal, um deles custeado com dinheiro de emenda parlamentar.
Os pedidos foram autorizados pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal). As solicitações da PF têm como base as mensagens de Mauro Cid, braço direito de Bolsonaro e que foi chefe da Ajudância de Ordens da Presidência.
Wajngarten, porém, afirmou que não houve nenhuma irregularidade na atuação de Cid e que os saques feitos na conta de Bolsonaro serviram para pagamento de despesas familiares.
“Quando existente o CNPJ do fornecedor, o presidente pagava os boletos e todos os extratos serão apresentados pela defesa.”
Segundo ele, “no caso de pequenos fornecedores, fornecedores informais ou não possuidores de CNPJ”, Bolsonaro sacava “através do seu ajudante de ordem” alguns valores que estão em planilha e que, diz, ele serão colocados “à disposição da imprensa oportunamente”.
O ex-secretário também disse que a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro usava o cartão de crédito de uma amiga, Rosimary Cardoso, porque não tinha limite em um cartão próprio “por não ter receita compatível”.
“Ela aceita esse cartão em novembro de 2011. Como funcionava: dona Michelle fazia pequenas compras e reembolsava mês a mês a Rosimary”, disse, antes de afirmar que a defesa apresentará todos os reembolsos realizados.
“O cartão permaneceu vigente até agosto de 2021, quando, no meio do mandato, o banco ofereceu um cartão a ela e ela não mais necessitava desse cartão adicional”, disse Wajngarten.
A PF diz ter identificado uma possível articulação para desvio de dinheiro público no governo Bolsonaro a pedido da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.
Segundo a PF, a suspeita envolve a assessoria da esposa do ex-presidente e os seus funcionários da Ajudância de Ordens da Presidência, que foi chefiada por Mauro Cid.
Em setembro do ano passado, a Folha de S.Paulo revelou que a PF havia encontrado as transações suspeitas após analisar dados encontrados no celular e na nuvem de Cid, que foi o braço direito de Bolsonaro no governo.
Como revelou o UOL no sábado (13), áudios de conversas de duas assessoras da primeira-dama, Cintia Borba Nogueira e Giselle dos Santos Carneiro da Silva, entre si e com Mauro Cid sugerem preocupação com os pagamentos das contas de Michelle.
A Folha de S.Paulo também teve acesso à transcrição das conversas. Em um dos áudios, os envolvidos afirmam que a situação do cartão usado por Michelle é preocupante.
“A análise dos gastos realizados no cartão adicional em nome de Michelle, considerando a natureza e locais, como estabelecimentos de grande luxo, lugares de acesso complicado quanto ao grau de segurança e exposição, indicam que possivelmente foram expensas realizadas por terceira pessoa, diversa da primeira-dama”, diz a PF em documento obtido pela reportagem.
Por Matheus Teixeira