União Brasil se aproxima de Bolsonaro, mas ACM Neto e Bivar resistem – Mais Brasília
FolhaPress

União Brasil se aproxima de Bolsonaro, mas ACM Neto e Bivar resistem

De acordo com aliados, Bivar gostaria de declarar apoio a Lula, mas não tem condições políticas

Foto: Reprodução/Youtube

Cobiçados tanto por Jair Bolsonaro (PL) como pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), dirigentes da União Brasil divergem sobre o rumo a seguir no segundo turno.

A maioria dos estados -segundo líderes do partido- tende a apoiar Bolsonaro, mas o respaldo ao chefe do Executivo esbarra em duas figuras-chave do partido: Luciano Bivar, que preside a União Brasil, e ACM Neto, secretário-geral.

De acordo com aliados, Bivar gostaria de declarar apoio a Lula, mas não tem condições políticas de fazer uma articulação interna que leve a sigla para esse caminho.

Outros integrantes da União, como Mauro Mendes, governador reeleito de Mato Grosso, querem empurrar a legenda para o campo de Bolsonaro. O governador reeleito de Goiás, Ronaldo Caiado, também sinalizou a correligionários que deve declarar apoio ao presidente.

A expectativa de dirigentes é que a posição da sigla saia até esta quinta-feira (6). Nesta eleição, a União Brasil elegeu 59 deputados, a terceira maior bancada da Câmara. O partido teve ainda uma candidata ao Planalto, Soraya Thronicke, que recebeu 0,51% dos votos.

A aproximação de integrantes da legenda com a campanha de Bolsonaro já começou. O vice-presidente da União Brasil, Antônio Rueda, participou nesta segunda (4) de reunião no Palácio da Alvorada para discutir os rumos da candidatura de Bolsonaro no segundo turno.

Já o ex-prefeito de Salvador ACM Neto esteve em Brasília nesta segunda, conversou com os correligionários e defendeu a liberação dos diretórios estaduais.

Ele disputa o segundo turno da eleição para o Governo da Bahia com Jerônimo Rodrigues (PT) e atua para evitar um apoio formal da União Brasil a Bolsonaro.

Na Bahia, Lula recebeu 49,73% dos votos, contra 24,31% para Bolsonaro. O candidato petista ao governo estadual, por sua vez, não venceu no primeiro turno por pouco: obteve 49,45% dos votos, contra 40,8% para ACM Neto.

O principal pedido do ex-prefeito é para que os estados tenham autonomia para resolver seus rumos, independentemente de uma orientação nacional da União Brasil.

Neto já decidiu que, no nível estadual, não deve declarar apoio a nenhum dos dois presidenciáveis.

A pressão para manter a neutralidade do diretório nacional da União Brasil é justamente para evitar uma decisão que acabe contaminando o quadro local –ele conta com eleitores que votam em Lula para o Planalto.

No domingo (2), após o fim da apuração na Bahia, Neto indicou que deve manter o discurso de neutralidade no segundo turno.

“Temos uma linha que não vou, de maneira nenhuma, modificar. Vou mostrar aos baianos que estamos prontos para governar com o presidente que o Brasil escolher”, disse.

Aliados de ACM Neto estimam que cerca de metade dos 3,3 milhões de votos obtidos pelo ex-prefeito no primeiro turno foram de eleitores de Lula. Em Salvador, tanto o ex-presidente como o ex-prefeito venceram em todas as zonas eleitorais da cidade.

Por outro lado, o ex-prefeito de Salvador precisa também dos 738 mil votos dos eleitores de João Roma (PL), que terminou a disputa para o governo baiano com 9%.

A conta não é simples. João Roma tem uma trajetória política que começou como assessor e secretário de ACM Neto, mas ambos romperam em janeiro de 2021. Na ocasião, Roma assumiu o Ministério da Cidadania no governo Bolsonaro.

O rompimento descambou para o campo pessoal na campanha, quando Roma disse querer distância do antigo aliado. ACM Neto rebateu acusando Roma de traição e lembrando que é padrinho da filha do ex-ministro.

Há a expectativa, porém, que alguns integrantes da União Brasil na Bahia declarem apoio a Bolsonaro. Dessa forma, pode haver uma mobilização entre militantes e bases eleitorais baianas para levar o voto de Roma a Neto.

Candidato ao Governo de Alagoas, Rodrigo Cunha (União Brasil) vive situação semelhante. Ele não apoiou Bolsonaro, embora tenha se aliado ao presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, principal fiador do presidente no Congresso.

Cunha disputa o segundo turno contra Paulo Dantas (MDB), candidato apoiado por Lula e pelo ex-governador Renan Filho (MDB). Até o momento, ele não se pronunciou publicamente sobre a eleição nacional.

Outros políticos do partido no Nordeste, que não concorrem no segundo turno, devem esperar as primeiras pesquisas de intenção de voto da corrida presidencial para avaliar os cenários e decidir qual rumo tomar.

A tendência na União Brasil hoje é liberar os estados, como fez o PSDB nesta terça. O ex-juiz Sergio Moro (União Brasil), eleito senador pelo Paraná, declarou apoio a Bolsonaro e irritou correligionários por não ter aguardado uma posição do partido.

O outro foco refratário a uma aproximação com Bolsonaro é Luciano Bivar, deputado federal que abrigou o presidente no antigo PSL. Ele rompeu posteriormente com o mandatário.

O deputado já foi procurado pela presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR).

“Eles [da União Brasil] têm uma situação mais difícil, porque a posição deles em vários estados é uma posição sempre mais à direita, mas temos um bom relacionamento. Pode ser que tenha setores da União Brasil que nos apoiem”, disse Gleisi.

Em entrevista à Folha em agosto, Bivar indicou se posicionar contra a reeleição de Bolsonaro. “Claro que a União Brasil se posiciona. Não é no segundo turno, posiciona-se hoje. Ela é a favor da democracia”, afirmou o dirigente, que à época avaliava haver risco de ruptura institucional.

Aliados dizem que, se dependesse de Bivar, o partido apoiaria Lula. Mas não há como construir maioria nesse sentido internamente.

Bolsonaro deu a largada no segundo turno com acordos importantes, fechando acordos com os governadores de três estados do Sudeste, a região com o maior número de eleitores no país. Ele recebeu o endosso dos governadores reeleitos Romeu Zema (Novo-MG) e Cláudio Castro (PL-RJ), além de Rodrigo Garcia, terceiro colocado na disputa pelo governo de São Paulo.

Já Lula conquistou adesão do PDT com aval tímido do ex-ministro Ciro Gomes (PDT) –que teve 3% no pleito deste ano e divulgou sua anuência sem citar o petista diretamente– e do partido Cidadania, além da sinalização apoio de Simone Tebet (MDB).

O PSDB, por sua vez, decidiu não se posicionar a favor de Bolsonaro nem de Lula e liberou os filiados para apoiarem quem quiserem no segundo turno da eleição.

Por Julia Chaib e João Pedro Pitombo