Um dia após prometer vacina a todos, Bolsonaro anda de moto em Goiás
FolhaPress

Um dia após prometer vacina a todos, Bolsonaro anda de moto e vai a igreja no interior de Goiás

Presidente provocou pequena aglomeração em Formosa (GO), a 80 km de Brasília, nesta quinta (3/6), feriado de Corpus Christi. Passeio não constava na agenda oficial

Bolsonaro em igreja no interior de Goiás

O presidente Jair Bolsonaro andou de moto e provocou pequena aglomeração em Formosa (GO), a 80 km de Brasília (DF), nesta quinta-feira (3/6), feriado de Corpus Christi.

O passeio não consta na agenda oficial e ocorreu no dia seguinte ao mandatário prometer a entrega de vacinas contra a Covid-19 a toda a população ainda em 2021, em pronunciamento em rede nacional de rádio e televisão.

Em Formosa, Bolsonaro esteve em uma igreja e tirou fotos com apoiadores, que se aglomeraram para chegar perto do presidente. Ele usava máscara, segundo imagens publicadas em redes sociais de moradores da região.

O município tem cerca de 120 mil habitantes e 20 leitos de UTI dedicados a pacientes de Covid-19. Dados de quarta-feira (2), da Prefeitura de Formosa, apontam 85% das unidades ocupadas. Já o Governo de Goiás fala em 70%.

Pronunciamento

No pronunciamento transmitido na quarta-feira (2/6), Bolsonaro disse que todos os brasileiros que quiserem serão vacinados ainda neste ano, destacou o avanço do PIB (Produto Interno Bruto) e voltou a criticar políticas de isolamento social. “Neste ano, todos os brasileiros, que assim o desejarem, serão vacinados”, disse.

A transmissão em cadeia de rádio e televisão ocorre no momento em que o governo tenta contornar o desgaste causado pela CPI da Covid no Senado e por protestos de rua contra Bolsonaro. O pronunciamento foi seguido de panelaços em diversas cidades do país, como São Paulo, Recife, Salvador, Porto Alegre, Belo Horizonte e Rio de Janeiro. Em Brasília, na Asa Norte, houve ainda gritos de “fora” e “genocida”.

O mandatário iniciou seu discurso lamentando as mortes pela Covid-19. Mas em seguida voltou a queixar-se das medidas adotadas por governadores e prefeitos. “O nosso governo não obrigou ninguém a ficar em casa, não fechou o comércio, não fechou igrejas ou escolas e não tirou o sustento de milhões de trabalhadores informais”, afirmou.

Bolsonaro defendeu políticas adotadas por seu governo, como o auxílio emergencial e a destinação de crédito para pequenas empresas. Ele ainda celebrou o crescimento de 1,2% da economia no primeiro trimestre. “O PIB projetado para 2021 prevê um crescimento da economia superior a 4%. Só no 1º trimestre deste ano, a economia mostrou seu vigor, estando entre os países do mundo que mais cresceram”, declarou.

Em outro trecho, Bolsonaro reafirmou que o país deve sediar neste ano a Copa América. O torneio estava previsto para ocorrer na Colômbia e na Argentina, mas esses países anunciaram que não poderiam recebê-los.

No pronunciamento, Bolsonaro também afirmou que “considera o direto de ir e vir, o direito ao trabalho e o livre exercício de cultos religiosos inegociáveis”. Além das políticas de governadores, o presidente é um crítico da decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) que autorizou os governos locais a proibir cultos religiosos para evitar a disseminação do vírus.

O pronunciamento de Bolsonaro ocorreu horas após o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), prever a vacinação de toda a população adulta do estado (a partir de 18 anos) até o dia 31 de outubro.

CPI

Na CPI do Senado, os governistas são minoria. Os principais focos da investigação do colegiado são a demora nas negociações de vacinas, a defesa por Bolsonaro de remédios sem eficácia comprovada para a Covid e a formação de uma gabinete de aconselhamento paralelo sobre temas da pandemia.

O governo tem tentado reduzir a pressão política divulgando dados sobre a distribuição de imunizantes. No pronunciamento, Bolsonaro celebrou o número. “Hoje alcançamos a marca de 100 milhões de doses de vacinas distribuídas a estados e municípios.”

No entanto, 47,2 milhões das doses enviadas são da Coronavac, imunizante feito pelo Instituto Butantan em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac e que Bolsonaro chegou a anunciar que não seria comprado -pressionado, o governo acabou recuando.

A promessa de vacinar toda a população neste ano também é feita pelo Ministério da Saúde. As previsões do governo federal de aplicação das doses, porém, não têm se concretizado.

Vacinação 

Na última semana, o ministério autorizou a vacinação por faixa etária, em pessoas com menos de 59 anos, como forma de acelerar a campanha. Segundo dados da pasta, foram aplicadas até agora 64,8 milhões de vacinas, mas apenas 22,4 milhões de pessoas receberam as duas doses.

Embora o presidente tenha dito no discurso que o Brasil é o quarto país que mais vacina contra a Covid, dados da plataforma Our World in Data mostram que esse número se refere apenas ao total de doses aplicadas. Quando observada a proporção na população, por meio do parâmetro de doses por mil habitantes, o Brasil cai para a 61ª posição.

Em outro flanco de desgaste para o Planalto, milhares de manifestantes em várias cidades do país realizaram protestos contra Bolsonaro sábado (29). Houve atos em todas as 27 capitais brasileiras, com grandes concentrações em São Paulo e no Rio de Janeiro. Em declarações nesta semana, Bolsonaro minimizou os movimentos de rua.

O governo, por outro lado, celebrou nesta semana o avanço de 1,2% do PIB no primeiro trimestre, anunciado nesta terça (1º). “Lógico que ninguém está falando que vai crescer 6%, mas a previsão aí é no mínimo 4%, que já é um número bastante grande, levando-se em conta o uso político por causa da pandemia por parte de alguns”, afirmou o presidente no dia da divulgação do resultado do PIB.

A transmissão do discurso também ocorreu no momento em que Bolsonaro é pressionado por projeções eleitorais. Segundo a última pesquisa Datafolha, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aparece com vantagem para a disputa pelo Palácio do Planalto em 2022.

O petista alcança 41% das intenções de voto no primeiro turno, contra 23% de Bolsonaro. Em um eventual segundo turno contra o atual presidente, Lula levaria ampla vantagem, com uma margem de 55% a 32%. O pronunciamento desta quarta-feira foi o nono de Bolsonaro, em cadeia de rádio e TV, durante a crise sanitária da Covid-19.