Servidor do governo federal era ‘braço burocrático’ de organização criminosa em Brasília, diz MPF
Mamede era responsável por fiscalizar e vistoriar as obras
O MPF afirma no pedido de afastamento de Celso Mamede do Ministério do Desenvolvimento Regional que ele é o “braço burocrático” em Brasília da organização criminosa investigada por desvios em obras de açudes em regiões castigadas pela seca na Paraíba.
A dispensa de Mamede foi publicada no Diário Oficial da União na sexta (19) após a Justiça ordenar seu afastamento na operação Bleeder. Ele ocupava o cargo Secretaria Nacional de Mobilidade e Desenvolvimento Regional e Urbano, área do governo sob influência de indicados do Centrão.
Até outubro, a secretaria era chefiada pelo advogado Tiago Pontes Queiroz, também afastado do cargo após ter o sigilo quebrado em outra investigação sobre desvio de dinheiro, essa no Ministério da Saúde.
Foi Queiroz que em dezembro de 2020 designou Mamede como substituto eventual do cargo em comissão de Coordenador-Geral da Coordenação-Geral de Obras e Aquisições do Departamento de Estruturação Regional e Urbana.
Ao pedir o afastamento de Mamede, o MPF afirma que há indícios de que ele se “utiliza do seu cargo público para a prática de ilícitos criminais, especialmente em razão de sua atuação na aprovação de projetos e na fiscalização das obras de interesse” da organização criminosa.
No entendimento dos investigadores, se permanecesse no cargo, o servidor “poderia atuar internamente no sentido de dificultar investigações e encobrir rastros”.
Mamede era responsável por fiscalizar e vistoriar as obras e, segundo o MPF, se aliou a João Feitosa, apontado como líder da organização criminosa que utilizava empresas de fachada para fraudar as licitações e pagava suborno a servidores.
Os investigadores monitoraram visitas que ele fez a cidades da Paraíba, em 2020, para vistoriar obras de açudes e confirmaram os encontros do servidor com João Feitosa.
O MPF aponta que os projetos dos açudes eram elaborados “com a ajuda e a camaradagem do próprio vistoriador”, no caso Celso Mamede.
Por Camila Mattoso