Sem dar prazo, Bolsonaro quer tirar do papel linha de metrô prometida há 20 anos em BH – Mais Brasília
FolhaPress

Sem dar prazo, Bolsonaro quer tirar do papel linha de metrô prometida há 20 anos em BH

Ainda não há data para a nova linha entrar em funcionamento

Bolsonaro
Foto: Jucimar de Sousa

Na série de viagens pelo país para marcar os mil dias de governo, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), visita nesta quinta-feira (30/9) Belo Horizonte para anunciar a criação da linha 2 do metrô na capital de Minas Gerais, uma obra prometida há 20 anos por sucessivos governantes.

Mas apesar do evento, ainda não há data para a nova linha entrar em funcionamento. Questionado, o governo federal não informou nem qual o prazo para o início das obras nem qual o valor necessário para concluir o projeto.
Parte da verba aprovada pelo Congresso para a obra será na verdade usada para pagar dívidas da CBTU (Companhia Brasileira de Trens Urbanos), estatal federal administradora do metrô de Belo Horizonte.

A companhia pode, inclusive, ser extinta, o que pode atrasar ainda mais a criação da nova linha, uma vez que será necessário achar uma empresa substituta para tocar o projeto.

A aguardada linha 2 faria a ligação do atual metrô ao Barreiro, que fica na região sudoeste da capital mineira e é uma das mais populosas do município. Hoje, os moradores dependem de ônibus para o transporte público no local.

Belo Horizonte tem proporcionalmente uma das menores ofertas de metrô entre as capitais brasileiras. São 19 estações na única linha que corta a cidade a partir de Venda Nova, na zona norte, até o bairro Eldorado, em Contagem, cidade na região metropolitana.

O anúncio da linha 2, que será feito na sede do governo mineiro, tem como base a aprovação, na segunda (27/9), do PLN (Projeto de Lei do Congresso Nacional) 15 de 2021, que abre um crédito de R$ 2,8 bilhões para o Ministério da Economia aplicar no metrô da capital mineira.

Procurados, a CBTU e a pasta não informaram quanto desse montante bilionário será destinado para pagar dívida da estatal em Minas e quanto efetivamente será destinado para a obra da capital. Com base no teor do projeto aprovado, nada disso tem prazo para ocorrer.

O governo de Minas afirma que acompanha os estudos da gestão federal para a expansão do metrô de Belo Horizonte.

O sistema de trens urbanos da capital começou a funcionar em 1986. Tinha, então, seis estações e 10,8 quilômetros. Chegou ao formato atual, com 19 estações e 28,1 quilômetros, em 2002 -diariamente, atende 210 mil passageiros em média.

Para efeito de comparação, o metrô do Recife, também administrado pela CBTU, e que foi inaugurado na mesma época do de Belo Horizonte, em 1985, tem atualmente 70,4 quilômetros e 36 estações. O sistema atende a 374 mil pessoas por dia.

A expansão do metrô da capital mineira é uma das mais esperadas e também uma das mais anunciadas do estado, sobretudo em períodos eleitorais, há pelo menos duas décadas.

Bolsonaro, que registra altos índices de rejeição, conforme as últimas pesquisas Datafolha, decidiu, com a aprovação do projeto na segunda, viajar a Belo Horizonte já nesta quinta para anunciar os recursos.

Minas Gerais é o segundo maior colégio eleitoral do Brasil, atrás apenas de São Paulo. O anúncio foi incluído no giro que o presidente vem fazendo pelo país para anunciar obras por seus mil dias à frente do governo federal.

Em agosto, o PT de Minas chegou a anunciar a visita do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao estado, após uma sequência de passagens por capitais nordestinas. A data da viagem, porém, ainda não foi confirmada.

Nesta terça (28/9), Bolsonaro esteve em Teixeira de Freitas (BA), onde entregou títulos de propriedades rurais.
Além de ter dito que acompanha os estudos da União para a expansão do metrô de Belo Horizonte, o governo estadual afirmou ainda que vai aportar R$ 427 milhões ao projeto.

“O processo prevê a desestatização da companhia e a concessão dos serviços à iniciativa privada”, afirmou o governo do estado, em nota.

“A responsabilidade do metrô na região metropolitana de Belo Horizonte é da Companhia Brasileira de Transportes Urbanos – CBTU, empresa vinculada ao Ministério do Desenvolvimento Regional. Desta forma, todo o processo é conduzido pela União”, acrescentou o estado.

Após a publicação da reportagem, a CBTU (Companhia Brasileira de Trens Urbanos) que administra o metrô da capital mineira, informou em nota que os recursos anunciados nesta quinta para expansão do sistema não serão investidos pela empresa.

O dinheiro, conforme a companhia, será aplicado pelo futuro concessionário do sistema de trens urbanos da capital, e que por isso a CBTU não tem informações sobre, por exemplo, data para início das obras.

“O processo de concessão da CBTU-BH está sendo tocado exclusivamente pelo Ministério da Economia, portanto a companhia não participa dos estudos sobre a concessão conduzidos em sigilo pelo Ministério da Economia e BNDES, cabendo à CBTU somente fornecer as informações solicitadas”. A empresa disse ainda que não possui dividas que precisam ser pagas.

A reportagem enviou pedidos de informações também para os ministérios da Economia, a Infraestrutura e do Desenvolvimento Regional, mas não obteve respostas.

Por Leonardo Augusto