Presidente dos Correios é convidado a explicar prejuízo de R$ 809 milhões na Câmara; estatal colocou dados em sigilo
A solicitação foi encaminhada e posteriormente aprovada pela Câmara há pouco mais de um mês, mas ainda não há data definida para a audiência
A Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados convidou o presidente dos Correios, Fabiano Silva dos Santos, a comparecer a audiência pública para explicar o saldo negativo e/ou prejuízo de R$ 809 milhões nos cofres da empresa.
No documento encaminhado ao presidente dos Correios, o deputado federal Fausto Pinato (PP-SP), membro da Comissão e responsável pelo convite, pontuou que soube da ‘denúncia’ do saldo negativo/e ou prejuízo milionário da estatal por meio da Federação dos Trabalhadores dos Correios. O convite, realizado mês passado, já fora até aprovado pela Câmara. Ao portal Mais Brasília, o deputado confirmou que a denúncia partiu da Federação.
“Tomamos conhecimento, através da Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios, Telégrafos e Similares (FENTECT), que a categoria foi surpreendida com a informação de que, a partir da reunião do Conselho de Administração, ocorrida no dia 24/03/2023, o balanço dos Correios referente a 2022, registra um resultado líquido negativo de R$ 809 milhões.”, diz o deputado.
Trata-se de audiência pública sobre os balanços financeiros da instituição dos respectivos anos em que a atual gestão é a responsável. A solicitação foi encaminhada e posteriormente aprovada pela Comissão da Câmara há pouco mais de um mês, mas ainda não há data definida para a audiência.
“Em dezembro de 2022, o General Floriano fez uma declaração dizendo que os Correios teve um lucro de aproximadamente 1.5 bi. Quando foi em janeiro de 2023, Fabiano assumiu e modificaram a contabilidade em processos judiciais, e colocaram, ao invés de lucro, um prejuízo, para dizer que pegou os Correios em uma situação ruim”, disse fonte da MB. Por isso a presidência dos Correios não quer dizer qual é o atual fluxo de caixa da estatal”, explicita a fonte do MB.
Para além do presidente dos Correios, Fabiano Silva dos Santos, a Comissão também convidou para serem ouvidos o presidente da Federação dos Empregados dos Correios, Emerson Marcelo Gomes Marinho e o presidente da Associação dos Advogados do Brasil, Muriel Carvalho Leal.
“O intuito é o de debater sobre o comparativo financeiro dos anos anteriores e do atual.”, ressalta o documento.
Ainda segundo o documento, “essa notícia [de saldo negativo/e ou prejuízo] gerou questionamentos e estranhamentos, pois a expectativa baseada em informações oficiais e declarações do ex-presidente da estatal indicavam um resultado positivo superior a R$ 1,5 bilhões.”
E continua: “Inclusive esse aspecto foi muito evocado pela gestão da empresa quando das negociações da nossa Participação dos Lucros e Resultados (PLR). No caso, a empresa, por diversas vezes buscou, encerrar as negociações do PLR 2021 e partir direto para PLR 2022. Em 2021 tivemos lucro de R$ 3,7 milhões.”
Outra questão que a Comissão pretende esclarecer é a de que “a estatal não está bem, mesmo tendo o monopólio de serviços postais no país.”
Para respaldar a Comissão, Pinato se ampara em dados do próprio governo. Segundo projeções do Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas Primárias e Resultados Operacionais, os Correios acumularam, em 2023, um déficit acima de R$ 1,3 bilhões.
De acordo com o último relatório da Secretaria de Orçamento Federal (SOF), publicado em 22 de novembro, o prejuízo estimado para um conjunto de 22 empresas controladas pela União em 2023 é de R$ 4,5 bilhões. O valor é de R$ 1,5 bilhões acima do autorizado pela Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para 2023, que é de R$ 3 bilhões. Sendo assim, somente os Correios terão prejuízos acima de 1,3 bilhões.
Desta forma, pode-se observar que, como o déficit será maior que o autorizado, o governo terá de compensar o excedente com recursos públicos; isto, ainda de acordo com o deputado, “pela primeira vez em oito anos.”
“A medida [convite] é importante para ser apurados os prejuízos narrados, além de o governo ter que disponibilizar recursos públicos”, explica o deputado.
FEDERAÇÃO DOS TRABALHADORES DOS CORREIOS
Entretanto, o atual secretário-geral [cargo similar ao de presidente] da Federação dos Trabalhadores dos Correios, Emerson Marcelo Gomes Marinho, nega a informação de que a Federação tenha ‘denunciado’ o saldo negativo de R$ 809 milhões ao deputado membro da Comissão de Finanças e Tributação da Câmara.
Ao Mais Brasília, o secretário-geral disse que “nem conhece o deputado, que nunca mandou mensagem oficial relatando os fatos, que a Federação não foi responsável por divulgar essas informações”.
Emerson Marcelo Gomes Marinho assumiu o cargo de secretário-geral da Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios, Telégrafos e Similares (FENTECT) após a mudança de governo e respectiva mudança da presidência dos Correios para a atual gestão, em 2023.
Sobre o convite de participar/ser ouvido em audiência pública na Câmara, Marinho adiantou ao Mais Brasília “que recebeu o convite; porém, ainda não se decidiu sobre o fato de comparecer ou não, e que a assessoria dele está estudando a ideia, para depois decidir.”
Recentemente o Mais Brasília publicou matérias sobre o rombo milionário dos Correios, com dados e fontes exclusivas. Os Correios, em nota oficial no site da instituição nesta segunda-feira (3), reportaram-se à imprensa tentando negar a veracidade as informações conseguidas pela reportagem do portal Mais Brasília.
SINDICALISTAS DENUNCIAM PRESIDÊNCIA DOS CORREIOS
Sobre o prejuízo milionário dos Correios, o Mais Brasília apurou que o Sindicato dos Trabalhadores de Correios e Telégrafos do Rio Grande do Sul (Sintect-RS), veiculou em seu site oficial, em 30/03/2023, há mais de um ano, uma espécie de editorial em que narra sobre a saúde financeira da instituição em 2022.
Com o título – Resultado do Correios em 2022: erro contábil ou manipulação? – o editorial do Sintect-RS pontua uma a uma todas as questões elencadas pelo deputado federal membro da Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados.
Vale ressaltar que o Sindicato dos Trabalhadores de Correios e Telégrafos do Rio Grande do Sul (Sintect-RS) faz parte da Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios, Telégrafos e Similares (FENTECT). Sendo assim, a denúncia, como ratificou o deputado, partiu sim da própria Federação, dos sindicalistas que fazem parte dos cerca de 90 mil trabalhadores diretos que a estatal emprega.
Segue abaixo, na íntegra, editorial do Sintect-RS:
A categoria foi surpreendida com a informação de que, a partir da reunião do Conselho de Administração ocorrida no dia 24/03/23, o balanço do Correios referente a 2022, registra um resultado líquido negativo de R$ 809 milhões. A notícia foi reiterada pelo Primeira Hora do mesmo dia.
A notícia gera questionamentos e estranhamentos, pois a expectativa, baseada em informações oficiais e declarações do ex-presidente da estatal, indicavam um resultado positivo superior a R$ 1,5 bilhão. Inclusive esse aspecto foi muito evocado pela gestão da empresa quando das negociações da nossa PLR. A empresa por diversas vezes buscou encerrar as negociações da PLR 2021 e partir direto para a PLR 2022. Lembrando que em 2021 tivemos lucro de R$ 3,7 milhões.
Veja o editorial também em link direto do Sintect-RS aqui, basta clicar aqui
Segundo explicações da empresa a estatal teve, de fato, resultado recorrente de R$ 1,5 bilhão ano passado, mas a mudança do cenário final se deve ao provisionamento de R$ 1 bilhão para processos judiciais (ações trabalhistas) julgados em 2021, para os quais não há mais recursos. Nessa perspectiva o resultado esperado e anunciado seria fruto de um balanço com erros de lançamentos.
Foi uma maquiagem a fim de não mostrar as catastróficas repercussões da gestão bolsonarista na empresa? Uma dissimulação para favorecer a venda dos Correios? Malabarismo contábil para poder pagar altos prêmios aos diretores? São perguntas que pairam. Vimos recentemente, no caso das Americanas, como balancetes podem ser manipulados com resultados desastrosos, especialmente para as trabalhadoras e trabalhadores.
Assim, na prática, todo este imbróglio de números da antiga e da atual gestão, recaem sobre quem trabalha diariamente. Frente ao anúncio de prejuízos, como fica nossa PLR? Que em 2022 veio magra, mas que esperávamos ter sido o fim de longos oito anos sem nenhuma participação. Um recurso, que frente ao brutal ataque aos direitos sofrido pela categoria nos últimos anos, seria muito bem-vindo.
Assim, apesar da retirada do Correios da lista da privatização, o que de fato é uma excelente notícia, o ano começa na contramão das expectativas da categoria, que contava não só com dias melhores para a empresa, como a recuperação dos nossos direitos – desde as cláusulas do nosso ACT até a PLR anual. Como muito bem pontuado na Carta aberta às trabalhadoras e trabalhadores dos Correios e à sociedade Brasileira da FENTECT o caso reforça o imaginário de que são os direitos trabalhistas que “quebram” as empresas.
O passivo trabalhista é fruto de decisões políticas, tanto dando causa as ações, como na forma como é ou não incorporado no resultado contábil. Não vamos carregar nas costas o peso de gestões assediadoras.
Assessoria de Comunicação
30/03/2023 20:49:19