Moro terá coordenador para buscar apoio de eleitores evangélicos

Tarefa ficará a cargo de presidente da Anajure, entidade que reúne profissionais de Direito

Faz menos de um mês que Sergio Moro filiou-se ao Podemos e iniciou sua pré-campanha a presidente em 2022. Uma de suas primeiras ações foi anunciar um coordenador econômico, o ex-presidente do Banco Central Affonso Celso Pastore.

É sintomático que logo em seguida ele tenha colocado os evangélicos entre suas prioridades. Moro convidou Uziel Santana, presidente da Anajure (Associação Nacional de Juristas Evangélicos), para ser uma espécie de coordenador de sua candidatura junto a este segmento.

O anúncio deve ocorrer em breve, após a formalização da saída de Santana da presidência da entidade. “Moro é um conservador, mas um conservador equilibrado”, diz Santana, que é professor de Direito na Universidade de Federal de Sergipe.

Como o próprio nome diz, a Anajure reúne profissionais do Direito que se definem com evangélicos. Em abril desse ano, a entidade ganhou notoriedade por ir ao Supremo para pedir a liberação de cultos presenciais durante a pandemia, o que foi recusado pela corte.

Presbiteriano, Santana já foi professor da Universidade Mackenzie, em São Paulo, e diz ter se aproximado de Moro a partir de 2016, em eventos jurídicos nos quais encontrava o então juiz responsável pela Operação Lava Jato.

Santana diz que sua tarefa na coordenação evangélica de Moro será falar diretamente aos fiéis, sem se importar muito em atrair o apoio de igrejas. A ideia é que o ex-ministro amplie as pautas de interesse dos evangélicos para além das tradicionais, ligadas a vida e família.

“Não será uma agenda restrita a temas morais. Será uma agenda que contempla também temas de inclusão social, que interessam muito ao povo evangélico”, afirma.

Segundo o Datafolha, os evangélicos são atualmente 31% da população brasileira, um segmento estratégico para qualquer candidato que queira ter chances realistas de vencer uma eleição.

Em 2018, eles apoiaram de forma maciça a candidatura de Jair Bolsonaro, em razão de suas posições contra o aborto, identidade de gênero e legalização das drogas.

Mesmo tendo críticas ao governo Bolsonaro, as mais visíveis lideranças evangélicas do país, como o pastor Silas Malafaia e o bispo Edir Macedo, devem fazer campanha pela sua reeleição. A nomeação do evangélico André Mendonça para o Supremo Tribunal Federal reforçou esse apoio.

Há também uma minoria de evangélicos que se definem como progressistas, e que tendem a votar em candidaturas de esquerda, principalmente a de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Nesse cenário, Moro fica um tanto espremido, sem um núcleo de apoio muito bem definido. É isso que agora o ex-juiz busca mudar.

De acordo com Santana, a estratégia da campanha do ex-juiz é não perder muito tempo com as grandes lideranças do setor. “Nós não acreditamos em voto de cabresto, de gente que diz como o fiel tem de votar”, afirma.

Desde que retornou à cena política, Moro vem adotando a estratégia de se apresentar como uma alternativa conservadora a Bolsonaro, insistindo na defesa de valores morais, especialmente o combate à corrupção.

Ele vem evitando tratar de temas conservadores mais específicos. Ao contrário, nas poucas vezes em que mencionou esses assuntos, deixou um flanco aberto para que seja rotulado de progressista.

Moro já defendeu, por exemplo, o uso medicinal da maconha e considerou “razoável” a histórica decisão Roe vs. Wade, da Suprema Corte americana, que liberou o aborto no país, nos anos 1970.

Por isso, diversos evangélicos mantêm um pé atrás com o ex-juiz.

“Moro é uma incógnita no nosso meio. Vai depender muito da agenda de costumes que ele terá, e do que vai declarar sobre temas como o conceito tradicional de família, ideologia de gênero, linguagem neutra, casamento gay e outros”, diz o pastor Euder Faber, da Visão Nacional para a Consciência Cristã, que organiza um dos principais eventos evangélicos do Nordeste, todo mês de fevereiro, em Campina Grande (PB).

Responder às dúvidas do pastor Euder e de outros evangélicos será justamente a principal tarefa de Santana, quando começar a trabalhar por seu amigo Moro. Um encontro do ex-juiz com fiéis deve ser marcado para breve.

Por Fábio Zanini

 

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