Lula corteja Garibaldi no RN, e conversa de petista com MDB chega a oito estados
Afastados desde impeachment de Dilma, em 2016, PT e MDB ensaiam reaproximação nos estados do Nordeste
Em mais uma articulação em sua viagem pelo Nordeste, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva jantou nesta terça-feira (24/8) em Natal com o ex-senador Garibaldi Alves (MDB) e o filho dele, o deputado federal Walter Alves (MDB).
A conversa teve como pauta o tabuleiro político nacional e local para as eleições do próximo ano. Lula tenta atrair apoios para além da esquerda para sua provável candidatura e também para o palanque da governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra, que vai concorrer à reeleição no próximo ano.
O interesse de Lula na aliança com o MDB no Rio Grande do Norte foi externado publicamente em uma entrevista do ex-presidente a uma rádio local, na tarde desta terça. “Eu tive muitas relações com o PMDB. Pretendo continuar tendo”, respondeu, ao ser questionado sobre a aliança.
Com a aproximação com o MDB potiguar, já chega a sete os estados do Nordeste com os quais Lula negocia o apoio dos emedebistas. Também há um movimento de aproximação no Pará.
No jantar com os emedebistas, Lula voltou a falar sobre o desejo de contar com o MDB nas eleições de 2022. A aliança tem a simpatia do emedebista Garibaldi Alves, que foi presidente do Senado de 2007 a 2009, durante o segundo mandato do petista na Presidência da República, e tem forte influência local.
Entretanto os emedebistas presentes no encontro afirmaram que devem conversar com as bases do partido antes de fechar qualquer apoio.
“Foi uma conversa inicial. É claro que existem algumas arestas que precisam ser quebradas. Mas política é a arte do diálogo e o ex-presidente Lula manifestou o desejo de aprofundar as conversas com o MDB”, diz o deputado federal Walter Alves.
Em entrevista à imprensa nesta quarta-feira (25) em Natal, Lula foi questionado sobre a parceria com Garibaldi mesmo depois de ele ter apoiado o impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT) em 2016 e disse que vê a situação com naturalidade.
“Eu não posso pensar com fígado. Eu preciso pensar de forma civilizada como é que a gente vai manter relações com todas as forças políticas porque você precisa, se candidato, ganhar as eleições. E ,se ganhar as eleições, precisa governar o país”, afirmou.
Lula também comentou sobre o perfil do vice que pretende ter em 2022 e fez referências à experiência de Dilma com o então vice-presidente Michel Temer, que ascendeu à Presidência após o impeachment.
“Quero uma pessoa que pense ideologicamente próximo daquilo que penso. […] Mas não quero alguém que pense em dar golpe. É como se estivesse escolhendo uma mulher para casar. É algo muito importante, sobretudo depois do Temer”, disse.
As conversas com os emedebistas no Nordeste devem ser amarradas à formatação dos palanques locais e estão mais avançadas em Alagoas e Piauí. Mas há conversas em curso no Maranhão, Ceará, Pernambuco, Paraíba e, agora, também no Rio Grande do Norte.
A estratégia, segundo interlocutores petistas, é conquistar o apoio do MDB nos estados mesmo sem o apoio nacional no primeiro turno, já que os emedebistas trabalham com a ideia de lançar candidatura da senadora Simone Tebet (MS) ao Planalto.
O presidente nacional do MDB, deputado federal Baleia Rossi (SP), tem dito que o apoio a Lula dentro do partido é residual e que o partido defende uma alternativa entre Lula e Bolsonaro.
No estado potiguar, o interesse do MDB na aliança passa principalmente pelo futuro político de Walter Alves, filho do ex-senador e atual deputado federal. Walter, que viu seus votos nas eleições reduzirem de 191 mil em 2014 para 79,3 mil em 2018, busca força para a disputa do ano que vem.
Segundo interlocutores do emedebista, o cargo mais discutido para o atual deputado federal seria o de vice-governador na chapa de Fátima Bezerra. No caso de uma composição para o Senado, o nome mais forte seria o do próprio Garibaldi Alves.
No entanto, algumas alas do PT são resistentes a ceder os cargos para a aliança. De um lado, o atual senador Jean Paul Prates, que assumiu a cadeira após a renúncia de Fátima Bezerra para assumir o governo estadual em 2019, se articula para ser candidato à reeleição no ano que vem.
Do outro, a própria governadora quer um nome de maior confiança para o cargo de vice-governador.
A resistência à aliança local também acontece dentro do MDB, principalmente na ala mais próxima do ex-ministro Henrique Alves, primo de segundo grau de Walter Alves. A aliança com o PT desagrada a base do partido próxima ao ex-ministro devido ao trauma nas eleições locais de 2014.
Em 2014, o PT decidiu apoiar Robinson Faria (PSD) na disputa do governo estadual, contra Henrique Alves. Alves perdeu a eleição no segundo turno e, na avaliação do MDB, o apoio de Lula a Robinson foi crucial para o resultado. A falta de apoio desagradou o ex-ministro, que até então era próximo ao PT.
As costuras com o MDB também avançaram em outros estados durantes esta visita aos estados do Nordeste. No Maranhão, Lula se reuniu com a ex-governadora Roseana Sarney e o ex-presidente José Sarney, ambos do MDB.
Também houve movimentos de aproximação com o senador Marcelo Castro (MDB) no Piauí, com o deputado federal Raul Henry (MDB) em Pernambuco e com o ex-senador Eunício Oliveira (MDB) no Ceará.
Na próxima vinda ao Nordeste, a expectativa é que o ex-presidente visite o governador Renan Filho (MDB) em Alagoas e o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) na Paraíba.
O MDB da Bahia e Sergipe permanecem como incógnitas. No diretório sergipano, Lula tende a ter o apoio do ex-governador Jackson Barreto (MDB), com quem tem uma relação histórica.
Por outro lado, o deputado federal Fábio Reis, presidente do diretório estadual, tem maior proximidade com Jair Bolsonaro (sem partido) e votou com o presidente até nas pautas mais polêmicas, como a PEC do Voto Impresso.
Na Bahia, PT e MDB voltaram a conversar após mais de 10 anos de rompimento. Nos últimos meses, houve conversas do ex-deputado Lúcio Vieira Lima (MDB) com o governador Rui Costa (PT) e com o senador Jaques Wagner (PT). Contudo, ainda não há indicativo de retomada da aliança.
Por Luiz Henrique Gomes e João Pedro Pitombo