Lira quebra silêncio de 9 dias e defende sistema eleitoral após fala de Bolsonaro
A declaração foi dada ao lado de Bolsonaro
O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), rompeu o silêncio de 9 dias sobre as mais recentes declarações golpistas de Jair Bolsonaro (PL) e disse confiar no sistema eleitoral brasileiro.
A declaração foi dada ao lado de Bolsonaro, durante a convenção nacional do PP que declarou apoio à sua reeleição.
O chefe do Executivo se reuniu, na semana passada, com embaixadores estrangeiros para questionar a legitimidade das urnas eletrônicas.
“A Câmara dos Deputados fala quando é necessário falar, não quando querem obrigá-la a falar. Eu dei mais de 20 mensagens mundo afora e internas no Brasil de que sempre fui a favor da democracia e de eleições transparentes e confio no sistema eleitoral”, disse Lira.
“Instituições no Brasil são fortes, são perenes e não são e nunca serão redes sociais. Não podemos banalizar as palavras das autoridades no Brasil. Não farão isso com a Câmara dos Deputados enquanto eu for presidente”, completou.
Enquanto o parlamentar discursava, uma mulher na plateia gritava “urnas auditáveis”. A convenção ocorreu no auditório Nereu Ramos, na Câmara dos Deputados, e estava lotado de parlamentares e apoiadores.
Políticos, empresários e representantes da sociedade civil se manifestaram contra as declarações de Bolsonaro. A Febraban (Federação Brasileira de Bancos), por exemplo, foi a mais recente a anunciar que vai assinar um manifesto organizado por entidades da sociedade civil em defesa da democracia.
Mas Lira, aliado do Planalto, não havia dado nenhuma declaração até esta tarde. Ele vinha sendo cobrado a sair em defesa do sistema eleitoral.
Na segunda-feira (18), Bolsonaro convidou dezenas de embaixadores estrangeiros no Palácio da Alvorada para repetir teorias da conspiração sobre urnas eletrônicas, desacreditar o sistema eleitoral, promover novas ameaças golpistas e atacar ministros do STF (Supremo Tribunal Federal).
O chefe do Executivo concentrou suas críticas nos ministros Alexandre de Moraes, Edson Fachin e Luís Roberto Barroso.
Fachin é o atual presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Barroso presidiu a corte eleitoral, e Moraes deve comandar o tribunal durante as eleições.
O mandatário acusou o grupo de querer trazer instabilidade ao país, por desconsiderar as sugestões das Forças Armadas para modificações no sistema, a menos de três meses da disputa.
“Por que um grupo de três pessoas apenas quer trazer instabilidade para o nosso país, não aceita nada das sugestões das Forças Armadas, que foram convidadas?”, disse.
O presidente da Câmara foi eleito com apoio do Planalto. Ele esteve ao lado de Bolsonaro nesta quinta-feira, e de Ciro Nogueira (Casa Civil) também.
No último domingo, quando o PL oficializou o presidente como candidato à Presidência, os dois dirigentes do PP participaram do evento, com camisa escrita Bolsonaro e o número de urna do PL, 22.
Lira foi exaltado pelo chefe do Executivo por três vezes em seu discurso.
“Cabra da peste” e “irmão de longa data” foram alguns dos termos usados pelo presidente para qualificar o aliado.
A aliança do governo com o PP consolidou aproximação com o centrão, que garantiu estabilidade para o governo, no momento em que patinava no Congresso e era alvo de dezenas de pedidos de impeachment, todos eles travados por Lira.
Por Marianna Holanda, Ranier Bragon e Matheus Teixeira