Líderes mundiais reagem às revelações dos Pandora Papers – Mais Brasília
FolhaPress

Líderes mundiais reagem às revelações dos Pandora Papers

Investigação revelou a existência de contas e empresas offshore em paraísos fiscais

Foto: Marcello Casal/Agência Brasil

Autoridades de diversos países e políticos de oposição têm se manifestado nesta segunda-feira (4/10) após virem a público as primeiras informações do Pandora Papers, investigação que revelou a existência de contas e empresas offshore em paraísos fiscais relacionadas a 35 líderes e ex-líderes mundiais.

De acordo com o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos, que liderou a investigação, autoridades e parlamentares de oposição de ao menos nove países já pediram ou anunciaram a abertura de investigações sobre as atividades financeiras descritas. Índia, Paquistão, México, Espanha, Brasil, Sri Lanka, Austrália, Panamá e República Tcheca compõem a lista.

O Kremlin afirmou que não vai iniciar investigações já que, segundo disse o porta-voz Dmitry Peskov, “não está claro o que essa informação significa e do que se trata.” “Estamos simplesmente diante de um caso de acusações sem fundamento”, seguiu.

Figuras próximas ao presidente russo, Vladimir Putin, aparecem nos documentos investigados pelo consórcio jornalístico como proprietários de contas e empresas offshore que foram adquiridas depois de se aliarem ao político. Um dos nomes é o de Svetlana Krivonogikh, que teria tido um relacionamento com Putin.

Na Jordânia, o palácio Raghdan disse que as propriedades milionárias do rei Abdullah nos Estados Unidos e no Reino Unido não foram divulgadas por questões de segurança e privacidade, e não por sigilo ou tentativas de ocultá-las. Os documentos apontam que o monarca usou uma rede de contas offshore para comprar diversos imóveis avaliados em mais de US$ 106 milhões (R$ 568 milhões).

Em comunicado, o palácio afirmou que o rei comprou pessoalmente as propriedades e que nenhum dinheiro do orçamento do Estado ou do Tesouro foi usado. O monarca usa as propriedades durante visitas oficiais e, às vezes, visitas privadas, dizia o texto.

No Reino Unido o premiê Boris Johnson se vê pressionado após os registros do Pandora Papers mostrarem que um dos principais doadores de sua campanha, Mohamed Amersi, assessorou uma transição de suborno envolvendo a filha do presidente do Uzbequistão. A atividade teria ajudado Amersi a aumentar sua fortuna.

Em rápidas declarações sobre o assunto, Boris disse que todas as doações para o Partido Conservador foram “examinadas”. A oposição trabalhista pressiona para que o partido devolva as 750 mil libras (R$ 5,5 milhões) doadas por Amersi. O ministro das Finanças, Rishi Sunak, afirmou que as autoridades fiscais do país revisariam o conteúdo das investigações.

O presidente do Quênia, Uhuru Kenyatta, apesar de ter a família apontada como detentora de 13 empresas offshore, disse em comunicado que as revelações vão “levantar o véu do sigilo para aqueles que não podem explicar seus bens”. “Esses relatórios vão aumentar a transparência financeira que precisamos no Quênia e em todo o mundo”, disse em comunicado logo após as publicações.

Na República Tcheca, o premiê bilionário Andrej Babis negou ter cometido quaisquer irregularidades, como sonegação de impostos, ao usar uma estrutura offshore para comprar uma mansão de 13 milhões de libras (R$ 96 milhões) no sul da França, como mostram os documentos obtidos pelo consórcio jornalístico.

A polícia tcheca, em uma rede social, afirmou que iniciará uma investigação sobre todos os mencionados no Pandora Papers, inclusive o premiê, mas que não fornecerá mais informações por ora.

No Paquistão, país com mais de 700 residentes entre os nomeados na investigação jornalística, a oposição pediu que o premiê Imran Khan demita todos os ministros e assessores de seu gabine mencionados na lista. O chefe da pasta de Finanças, Shaukat Tarin, é um deles e disse que todos seriam investigados.

Uma das siglas de oposição que pressionam por isso é a Liga Muçulmana do Paquistão, do ex-premiê Nawaz Sharif, que foi destituído do cargo em 2017 pela Suprema Corte por acusações de corrupção após propriedades de sua família em Londres serem reveladas em um vazamento anterior de documentos, o Panama Papers.

O Ministério das Finanças da Índia afirmou que vai abrir uma investigação para avaliar se existem crimes nas operações atreladas a residentes no país. Por ora, apenas nomes de civis indianos, como o do ex-jogador de críquete Sachin Tendulkar, foram divulgados como proprietários de finanças offshore.

No caso brasileiro, em que empresas em paraísos fiscais do ministro da Economia, Paulo Guedes, e do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, foram reveladas, o governo não se manifestou, mas partidos de oposição se organizam para pedir ao Ministério Público Federal (MPF) a abertura de uma investigação.