Justiça mantém preso suspeito de jogar bomba em ato com Lula no Rio
À polícia Andre Stefano Dimitriu havia afirmado que não possui inclinação política e que teria jogado a bomba caseira como forma de protesto
O suspeito de ter jogado uma bomba caseira em meio ao ato que teve a presença do ex-presidente Lula (PT), no Rio de Janeiro, teve a prisão em flagrante convertida em preventiva neste sábado (9).
Andre Stefano Dimitriu Alves de Brito, 55, disse em audiência de custódia que é pescador, ganha R$ 180 por pesca e não completou o ensino fundamental. Ele também informou que reside no Recreio dos Bandeirantes, na zona oeste carioca, com a família.
À polícia ele havia afirmado que não possui inclinação política e que teria jogado a bomba caseira como forma de protesto a uma alegada polarização ideológica que prejudicaria o futuro do país. A Folha ligou para sua companheira e tentou localizar seus advogados, sem sucesso.
Na audiência deste sábado, ocorrida na Casa de Custódia de Benfica, na zona norte do Rio, a juíza Ariadne Villela Lopes justificou a prisão citando a gravidade do ato em local de muita aglomeração e a necessidade de desencorajar práticas violentas próximo ao período eleitoral.
“Atos dessa natureza mostram-se graves, principalmente por expor a risco concreto a integridade física de diversas pessoas, uma vez que é fato notório que no ato público em que supostamente foi praticada a conduta imputada ao custodiado havia milhares de pessoas, em aglomeração, o que dificulta a dispersão das pessoas que lá se encontravam”, escreveu.
“Por outro lado, o Brasil encontra-se em período pré-eleitoral de eleições gerais, momento em que os ânimos podem se acirrar, mostrando-se necessário o desestímulo de práticas de natureza violenta, não apenas para proteção das pessoas […], mas também para garantia de manifestações livres de pensamento, que podem restar intimidadas por práticas violentas”, completou.
O crime de explosão está descrito no artigo 251 do Código Penal como “expor a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, mediante explosão, arremesso ou simples colocação de engenho de dinamite ou de substância de efeitos análogos”. A pena prevista é de três a seis anos de reclusão e multa.
Segundo a decisão, uma testemunha disse ter visto Brito portando uma espécie de bomba de fabricação caseira feita com uma garrafa plástica e um pavio, que estava aceso. A mulher então chamou a atenção de um conhecido, e ambos o viram arremessando o objeto entre as pessoas que estavam no ato, ocorrido na última quinta (7).
O artefato foi lançado do lado de fora da área isolada em frente ao palanque, antes da chegada de Lula na Cinelândia, no centro do Rio, onde aconteceu o evento. A explosão ocorreu ao lado dos banheiros químicos, seguida de um cheiro ruim sobre a área.
Participantes se afastaram correndo do ponto, que estava mais esvaziado do que a parte central da praça, mas não houve correria generalizada. Após três estampidos, a apresentadora do comício pediu calma aos espectadores. Logo em seguida, foram proferidos gritos contra o presidente Jair Bolsonaro (PL).
Uma bombeira civil também relatou na delegacia que estava em cima do palco quando ouviu um barulho de explosão muito alto. Bombeiros que se encontravam na rua pediram a ela para descer do palco e pegar a garrafa plástica, que segundo ela estava estourada e com odor muito forte.
Já dois policiais militares afirmaram que estavam fazendo o policiamento do ato quando Brito foi até eles e disse que estava sendo perseguido por populares. A dupla pediu seus documentos, mas ele disse que os havia perdido, por isso foi colocado na viatura e conduzido à delegacia.
Eles contaram ainda que neste momento um grupo de pessoas apareceu na tentativa de linchar o suspeito, mas que isso não aconteceu por causa da presença dos policiais.
Se acordo com a juíza, a descrição do explosivo apreendido naquele dia é compatível com o objeto que as testemunhas afirmam terem visto com Brito. A Polícia Civil informou nesta sexta (8) que o artefato passaria por perícia para constatar a sua composição.
Também foi realizada perícia no local e foram requisitadas imagens de câmeras de segurança. O celular do suspeito foi apreendido e foi requerida a quebra de sigilo de seus dados para esclarecer as circunstâncias do fato e eventual envolvimento de outras pessoas.
O episódio consolidou a avaliação da Polícia Federal de que os candidatos estão sujeitos a risco mais elevado nestas eleições do que em anteriores. A corporação decidiu antecipar e reforçar o aparato de segurança de Lula.
O ex-presidente deve ter a proteção iniciada de forma gradativa a partir do dia 21, quando o PT realiza a convenção para oficializar seu nome como candidato. No final de mês, o petista deve passar a contar com a estrutura completa.
Por Júlia Barbon