Governo Lula suspende publicidade no X em reação a Musk
Regra valerá apenas para novos contratos; governo veiculou na rede cerca de R$ 5,4 milhões de 2023 a 2024
O governo Lula (PT) decidiu suspender novos contratos de publicidade no X (antigo Twitter), em reação às atitudes do dono da plataforma, Elon Musk.
Integrantes do governo se baseiam em uma norma publicada em fevereiro pela Secom (Secretaria de Comunicação da Presidência) para evitar a veiculação de anúncios do governo em canais que promovem fake news.
A regra busca “coibir a monetização” em ações publicitárias do governo “de sites, aplicativos e produtores de conteúdo na internet que ensejem risco de danos à imagem das instituições do Poder Executivo federal por infração à legislação nacional ou por inadequação a políticas e padrões de segurança e de adequação à marca do governo federal”.
A decisão só vale para novos contratos, porque há impedimento de suspensão com os que já estão em andamento, segundo relatos.
A informação foi divulgada pelo ICL Notícias e confirmada pela Folha.
Os dados do portal de despesas de publicidades, organizado pela Secom, mostram que foram veiculados anúncios do governo de cerca de R$ 5,4 milhões no X entre 2023 e 2024.
O valor se refere principalmente às campanhas da própria secretaria e do Ministério da Saúde. Também somam despesas de outros órgãos do governo, mas não consideram os valores desembolsados por bancos públicos e estatais.
No balanço de 2023, o X recebeu menos verbas do que a Meta, TikTok e Google.
O portal da transparência da Secom só divulga valores de anúncios já veiculados, então é possível que a empresa de Elon Musk já tenha recebido mais recursos do atual governo.
Integrantes do governo, inclusive o presidente Lula, começaram a aderir a Bluesky (“céu azul”, em inglês), rede social rival do X de Musk. A plataforma, que inicialmente proibia a entrada de chefes de Estado, anunciou a mudança de posição também nesta sexta.
Lula fez a sua primeira publicação na rede pela manhã, sobre evento em Campo Grande (MS) de habilitação de frigoríficos para exportação de carne para China. O perfil tem a mesma descrição e foto que no X.
O ministro Paulo Pimenta (Secom) também entrou na nova rede social e fez críticas a Musk, sem citá-lo nominalmente.
“Não vamos permitir que ninguém, independente do dinheiro e do poder que tenha afronte nossa pátria. Não vamos transigir diante de ameaças e não vamos tolerar impunemente nenhum ato que atente contra nossa democracia”, disse.
Pimenta disse ainda que o Brasil não será “tutelado” pelas plataformas de redes sociais.
Lula nunca citou diretamente Musk, mas já fez críticas indiretas ao empresário. Nesta semana, o presidente disse que ele nunca produziu “um pé de capim no Brasil” e defendeu o STF dos ataques do dono do X, antigo Twitter.
“Temos uma coisa muito séria nesse país e no mundo que é se a gente quer viver em um regime democrático ou não. Se a gente vai permitir que o mundo viva a xenofobia do extremismo. Que é o que está acontecendo”, disse.
Musk vem recebendo apoio de bolsonaristas, desbloqueou contas de investigados por fake news, e agora também é investigado pela Polícia Federal.
Por Marianna Holanda e Mateus Vargas