Em discurso no G20, Lula volta a cobrar países ricos por recursos para o clima
O governo brasileiro resiste à tendência de países ricos de concentrar o financiamento em países muito pobres
Em discurso na abertura da Cúpula do G20, em Déli, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a cobrar que os países ricos cumpram suas promessas de recursos para mitigação dos efeitos das mudanças climáticas e ressaltou a necessidade de promover o desenvolvimento ao mesmo tempo em que se protege o meio ambiente.
“Desde a COP de Copenhague, os países ricos deveriam prover 100 bilhões de dólares por ano em financiamento climático novo e adicional aos países em desenvolvimento. Essa promessa nunca foi cumprida”, disse o presidente brasileiro, após fazer gestos para o anfitrião indiano e os russos, mencionando a missão da Índia que pousou na Lua na semana passada e o astronauta russo Yuri Gagárin.
“Recursos não faltam. Ano passado, o mundo gastou 2,24 trilhões de dólares em armas. Essa montanha de dinheiro poderia estar sendo canalizada para o desenvolvimento sustentável e a ação climática.”
Lula chegou ao evento acompanhado pela primeira-dama, Janja Lula da Silva – uma das únicas primeiras-damas a comparecer.
O governo brasileiro resiste à tendência de países ricos de concentrar o financiamento em países muito pobres ou ilhas que sofrem de forma mais aguda as mudanças climáticas. Eles querem que parte desses recursos seja direcionados a países emergentes e de renda média, como o Brasil. Também insistem para que os recursos não se restrinjam a ação de mitigação do aquecimento global, mas, também, para medidas de estímulo ao desenvolvimento.
“Queremos chegar na COP 30, em 2025, com uma agenda climática equilibrada entre mitigação, adaptação, perdas e danos e financiamento, assegurando a sustentabilidade do planeta e a dignidade das pessoas.”
Em sua fala, Lula também listou avanços na política ambiental, como a redução de 48% no desmatamento em relação ao mesmo período do ano passado.
E disse que o Brasil, na presidência do G20, irá propor uma força tarefa para mobilização global contra a mudança do clima.
No discurso de abertura, o premiê indiano, Narendra Modi, anunciou que a União Africana será membro do G20. A entrada da UA tinha apoio do Brasil, que também criticava o peso excessivo de países europeus no grupo.
Na cúpula, os únicos discursos transmitidos serão os do primeiro-ministro indiano. Na cidade, em todo quarteirão há um outdoor ou placa com foto de Modi e lemas de seu governo – a oposição indiana acusa o líder do partido BJP de usar o G20 para fazer campanha eleitoral. O país terá eleições gerais no ano que vem.
Por Patrícia Campos Mello