Eduardo Leite rejeita coordenar campanha de Doria para Presidência – Mais Brasília
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Eduardo Leite rejeita coordenar campanha de Doria para Presidência

Leite fez questão de marcar sua distância do governador paulista

Foto: Divulgação

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), afirmou que não se vê coordenando a campanha à Presidência do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que o venceu nas prévias tucanas do sábado (27).

Em entrevista à Folha de S.Paulo, Doria afirmou ter convidado Leite para integrar o comando de sua campanha, “em uma posição de protagonismo”.
“Permaneço no PSDB, mas não me vejo coordenando uma campanha presidencial, pois serei governador até o último dia do meu mandato e não imagino poder coordenar algo desta dimensão nacional estando focado nos problemas e soluções do meu estado”, afirmou Leite à reportagem.

Reforçando a avaliação de aliados do gaúcho de que a união em torno de Doria é tarefa muito difícil, Leite fez questão de marcar sua distância do governador paulista.
“Além disso, penso que deve haver uma sinergia entre candidato e coordenador que seja maior do que o simples fato de estarem no mesmo partido. Imagino que o governador Doria busque alguém afinado com sua forma de pensar e fazer política, para além de uma visão meramente partidária”, completou.

Doria disse que combinou uma conversa com Leite na volta de sua viagem a Nova York, onde vai liderar uma missão empresarial de 1º a 5 de dezembro. “Será como for mais confortável para ele”, afirmou. Leite afirmou ainda não haver nenhuma reunião marcada.

Após a derrota para Doria, aliados de Leite mantêm o discurso de buscar a união do partido -mas na prática duvidam dessa possibilidade.
Leite reconheceu a derrota, desejou sorte a Doria e mirou suas críticas na polarização entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido, rumo ao PL) e o ex-presidente Lula (PT). A regra no seu entorno é, portanto, manter esse tom de colaboração.

“João, te desejo toda sorte porque o Brasil precisa disso. Que a gente consiga viabilizar um projeto no centro”, disse Leite no sábado.
Nos bastidores, porém, tucanos que apoiaram Leite mostram pouca disposição em caminhar com o governador paulista em 2022.

Aliados do gaúcho defendem que o processo de votação seja alvo de checagem, sobretudo depois da pane no aplicativo original, que paralisou as prévias no domingo (21), e das suspeitas de ataque hacker.
Mas uma recontagem ou a contestação do resultado estão, por ora, fora do radar a não ser que haja fatos novos a partir das investigações no sistema de votação. Doria está, na visão dos rivais internos, legitimado pelas prévias.

Leite afirmou à Folha não considerar ser candidato à reeleição no Rio Grande do Sul –o governador afirma ser contra a possibilidade de reeleição.
Em relação ao compromisso de não deixar o PSDB, no entanto, aliados veem espaço para volta atrás -o governador gaúcho poderia ser candidato ao Planalto por outra sigla, incentivam.

Com a ressalva de que é cedo para traçar previsões, a avaliação é a de que Doria, mesmo vencedor, não dobrou o partido e terá ao seu lado pouco mais da metade do tucanato, os 54% que o consagraram presidenciável.
O placar apertado -Leite terminou com 44%,7%- e as trocas de acusações durante as prévias não facilitam a reunificação da legenda.

O risco de debandada no partido não é descartado, sobretudo no entorno dos principais apoiadores de Leite e rivais de Doria -o ex-governador Geraldo Alckmin e o deputado federal Aécio Neves (MG).
Com a vitória de Doria, a já anunciada saída de Alckmin do PSDB deve se concretizar. Em São Paulo, tucanos pró-Leite afirmam que o ex-governador poderia liderar uma migração significativa se trabalhar para isso.

Já o risco de esfacelamento da bancada tucana é minimizado entre os deputados -Aécio já indicou que seguiria no PSDB mesmo se Doria vencesse. O mineiro tem influência sobre a ala bolsonarista dos deputados federais tucanos, que não é benquista entre aliados de Doria, principalmente depois que o governador se tornou um dos principais adversários do presidente.
O presidente do PSDB de Minas Gerais, deputado Paulo Abi-Ackel, afirma que uma debandada não é cogitada.

“Nós somos o PSDB, obtivemos quase metade dos votos do partido tendo como únicas armas o discurso do Eduardo e a esperança de um novo caminho para o PSDB. Perdemos as prévias mas não o nosso compromisso com o Brasil nem com o partido. Estaremos todos no PSDB”, diz à Folha de S.Paulo.
Às vésperas da votação, Doria falou em depuração, referindo-se aos bolsonaristas do partido, que em sua maioria apoiaram Leite, e Arthur Virgílio (AM), o terceiro concorrente das prévias, chamou Aécio de “maçã podre” nesse mesmo contexto.

“O PSDB vai passar por um processo de depuração. A maioria quer votar, quer o exercício democrático do voto, quer um candidato à Presidência, quer a consolidação da terceira via, quer o diálogo com outros partidos que sigam na mesma direção e quer transparência no processo. Aqueles que desejarem diferentemente disso terão opção de escolher outro partido”, disse Doria na segunda (22).

A unidade do PSDB depende dos gestos de Doria, de acordo com apoiadores de Leite. Há espaço para erros e também para acertos. A tarefa é descrita como difícil, mas não impossível.
Se o paulista insistir nessa linha de embate, pode provocar uma guerra interna e ser derrotado novamente -Doria tentou expulsar Aécio em 2019 e terminou vencido por 30 a 4.

Em entrevista à Folha de S.Paulo, Doria fez acenos a Leite, a partidos da terceira via e evitou criticar Aécio. “Desejamos o apoio de todos os mineiros, não só de um”, disse.
Abi-Ackel afirma que o resultado das prévias deve ser respeitado. “Por mais que possamos condenar alguns dos métodos utilizados, ele reflete a vontade da maioria. A partir de agora, cabe ao vencedor demonstrar, nos próximos meses, condições reais de liderar uma candidatura competitiva”, diz.

“Depende dos gestos, das manifestações do governador, e em especial da sua capacidade de construir uma candidatura com reais chances de vitória. A candidatura do governador Doria não pode atender somente aos interesses de São Paulo. As primeiras movimentações dele serão determinantes”, completa Abi-Ackel.

“Existe um desafio, para todos, de reagregar o partido. O partido, sem dúvida, inovou ao consultar suas bases e pagou um preço por isso”, afirma o prefeito de Santo André, Paulo Serra, e um dos coordenadores da campanha de Leite.

O preço não foi apenas o impedimento tecnológico, mas também “a disputa que em muitos momentos se acirrou” -as prévias expuseram as fraturas e feridas do partido. “Temos que reconhecer a derrota e parabenizar, mas a recomposição depende mais dos vencedores do que dos vencidos”, resume.

Unificar o partido, na opinião de Serra, “é a única maneira que o PSDB tem para disputar para valer a eleição”. “Acredito que há disposição de todos, temos que deixar a temperatura esfriar, retomar o diálogo e focar num bom plano de gestão. Muitas vezes as convergências surgem através das ideias e não das pessoas.”

Se seguir a linha de conciliação, Doria pode ampliar seu time, ainda de acordo com estrategistas de Leite. Mas eles pontuam que a resistência ao governador paulista não se dissipou nem na sigla e nem na população.
Caso a candidatura de Doria estacione nos 5% e não se mostre viável, as chances de ser rifado pelo partido aumentam consideravelmente.

Aliados de Leite mais críticos ao governador afirmam que Doria pode abrir espaço entre os tucanos barganhando e pressionando por apoio, acusações já feitas durante as prévias.
A deputada federal Mara Rocha (AC) chegou a acusar a campanha de Doria de tentar comprar seu voto, mas o episódio não foi pra frente.

Quem torce o nariz para Doria e o vê deslocado no partido -adepto da política da intimidação e não da política do diálogo ou defensor do liberalismo e não da social-democracia– acredita que o tucano não terá simpatia alguma da ala do PSDB raiz ou histórico.
Parte dos aliados de Leite afirma se recusar a legitimar o domínio de Doria. Para eles, sem apoio interno e rejeitado pela população, sua vitória seria de Pirro.

Os estrategistas do gaúcho afirmam ainda que Doria virou o jogo entre mandatários, especialmente deputados federais e, por isso, venceu o pleito interno. Há entre eles a disposição de entender o que fez parlamentares fechados com Leite mudarem repentinamente de posição.

A sinalização de que Leite e sua turma não embarcarão facilmente na campanha de Doria estaria nas entrelinhas da publicação do gaúcho após o resultado, apontam parlamentares ligados a ele.
“Muito obrigado a todos os que nos acompanharam! Fizemos uma campanha limpa, bonita e honesta. O PSDB escolheu seu caminho e desejo sorte ao João Doria. Acima de projetos pessoais ou partidários está o Brasil! E eu, onde estiver, buscarei sempre dar a minha contribuição ao país!”, escreveu.

Leite não firmou compromisso com Doria, apenas desejou sorte. Disse ainda que dará sua contribuição ao país “onde estiver” -também sem promessas de estar ao lado do paulista ou sequer no PSDB.
Por fim, há alfinetadas direcionadas a Doria ao falar de “campanha limpa e honesta” e de campanha política como projeto pessoal de poder.

Por Carolina Linhares