De olho no público evangélico, Lula aceita aproximação da Record e dá entrevista exclusiva

A exibição será no Jornal da Record, principal noticiário da rede, em uma edição de 30 minutos dividida em duas partes

Após uma reunião de dois executivos da Record na semana passada com ministros, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) gravou uma entrevista para a emissora nesta quinta-feira (13). A conversa estava prevista em sua agenda oficial e aconteceu às 9h. A exibição será no Jornal da Record, principal noticiário da rede, em uma edição de 30 minutos dividida em duas partes.

A Folha de S.Paulo apurou que o clima foi cordial nos bastidores. Lula falou da Reforma Tributária, de dados positivos da economia e de temas polêmicos, como a nomeação de Cristiano Zanin para o STF (Supremo Tribunal Federal). O presidente disse que “não é amigo” do advogado e que não vai pedir favores pessoais a ele. A conversa não ultrapassou o tempo previsto por causa dos demais compromissos do dia.

A entrevista foi articulada por Paulo Pimenta, ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República. Ela também atendeu a um desejo de Lula de acenar publicamente pela primeira vez em seu terceiro mandato para os evangélicos, cujo voto foi mais concentrado no ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nas eleições de 2022.

A Record é de Edir Macedo, líder de Igreja Universal do Reino de Deus. A igreja também tem ligação com o Republicanos, partido do centrão que tem negociado sua entrada no governo por meio do deputado Silvio Costa Filho (Republicanos-PE), cotado para substituir a ex-jogadora de vôlei Ana Moser no Ministério do Esporte.

Desde o começo do mês, TVs que apoiaram Bolsonaro em seus quatro anos no poder estão se aproximando de Lula para estreitar relações. Antes da Record, o SBT fez este movimento com uma visita da vice-presidente da empresa e filha de Silvio Santos, Daniela Beyruti.

No caso da Record, a aproximação chama a atenção por causa da relação conturbada em 2022. A campanha de Lula chegou a entrar com um pedido no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) para mudar uma entrevista que ele daria para a emissora em uma sexta-feira, dia de menor audiência na televisão. Bolsonaro foi entrevistado em uma segunda, dia de maiores números. Lula acabou não comparecendo.

Além disso, a Igreja Universal fez ataques públicos ao PT e à esquerda nos horários que ocupa nas madrugadas da Record. Na véspera do primeiro turno de 2022, em 27 de setembro, um programa da igreja afirmou que era “impossível ser cristão e ser de esquerda”.

Se aproximar de um governo com bons resultados no início é considerado usual, já que a publicidade estatal ainda é a maior fonte de renda publicitária das TVs abertas. No primeiro semestre de 2022, por exemplo, a Record recebeu cerca de R$ 9,8 milhões em anúncios referentes à Bolsonaro. Só a Globo recebeu mais -$ 11,1 milhões.

Por Gabriel Vaquer 

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