CPI quer que algum médico da Prevent deixe anonimato para depor sobre dossiê – Mais Brasília
FolhaPress

CPI quer que algum médico da Prevent deixe anonimato para depor sobre dossiê

Presidente da comissão apresentou uma proposta de cronograma para a reta final

CPI da Covid
Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

A cúpula da CPI da Covid quer ouvir na próxima semana 1 dos 12 médicos da Prevent Senior que elaboraram o dossiê com denúncias contra a operadora de saúde. Com poucas exceções, os profissionais ainda se mantêm no anonimato temendo represálias.

Na manhã desta quinta-feira (30), o presidente da comissão, senador Omar Aziz (PSD-AM), apresentou uma proposta de cronograma para a reta final das atividades do colegiado, indicando que a próxima semana será praticamente toda destinada para apurar e concluir a investigação relacionada à Prevent.

“Na quarta-feira, a minha proposta é que nós ouçamos um dos médicos que atuaram dentro da Prevent Senior. Um daqueles 12 médicos”, afirmou o presidente, na abertura da sessão.

Omar ainda completou que será ouvido no dia seguinte um representante da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), também para tratar das denúncias contra a Prevent Senior. A CPI deve ser encerrada no dia 20 de outubro, com a votação do relatório final do senador Renan Calheiros (MDB-AL).

O depoimento será uma semana após a oitiva da advogada Bruna Morato, que representa 12 médicos que elaboraram o dossiê. Ela foi pressionada em diversos momentos da oitiva para revelar a identidade dos médicos, mas afirmou que não havia recebido autorização e que iria preservar o sigilo profissional.

Em sua fala, a advogada confirmou as denúncias presentes no dossiê e ainda relatou um elo entre a Prevent Senior, o Conselho Federal de Medicina e o chamado gabinete paralelo. A operadora faria parte de um “pacto” para propagar medicamentos sem eficácia comprovada para o tratamento da Covid-19, como a hidroxicloroquina.

Um dos objetivos deste alinhamento, segundo ela, seria a elaboração de uma estratégia para evitar o fechamento da economia durante a pandemia, usando o tratamento precoce como “esperança” para a população.

Em uma revelação que chamou a atenção dos senadores, a advogada mencionou que o gabinete paralelo atuava em consonância com o Ministério da Economia, que defendia a estratégia.

Morato indicou em seu depoimento uma forte ligação da operadora com o governo Bolsonaro, por meio do chamado gabinete paralelo. Segundo ela, a direção da Prevent Senior buscou se aproximar do Ministério da Saúde, após uma série de críticas do então ministro Luiz Henrique Mandetta. A tentativa se deu por um parente de Mandetta, mas a relação não avançou.

Os diretores então ficaram sabendo de um grupo que assessorava o governo, em conexão com o Ministério da Economia.

“O que eles me explicaram foi o seguinte: existe um interesse do Ministério da Economia para que o país não pare, e, se nós entrarmos nesse sistema de lockdown, nós teríamos um abalo econômico muito grande, e, então, existia um plano para que as pessoas pudessem sair às ruas sem medo”, afirmou Morato.

“Eles desenvolveram uma estratégia. Qual era essa estratégia? Através do aconselhamento de médicos”, disse a advogada.

“Esses médicos eu posso citar também de forma nominal, porque me foi dada essa explicação: o doutor Anthony Wong, toxicologista responsável por desenvolver um conjunto medicamentoso atóxico; doutora Nise Yamaguchi, especialista em imunologia, a qual deveria disseminar informações a respeito da resposta imunológica das pessoas; o virologista Paolo Zanotto, para que ele falasse a respeito do vírus e tratasse a respeito dessa situação de forma mais abrangente, evocando notícias. E a Prevent Senior iria entrar para colaborar com essas pessoas. É como se fosse uma troca, a qual nós chamamos na denúncia de pacto, porque assim me foi dito”, completou ela.

A Prevent Senior entrou no radar da CPI após o recebimento do dossiê dos médicos da Prevent, que relatou que hospitais da rede eram usados como “laboratórios” para estudos com medicamentos sem eficácia comprovada para o tratamento da Covid-19, como a hidroxicloroquina. Os familiares dos pacientes não seriam informados de que receberiam esses medicamentos.

Por Renato Machado