CPI amplia ofensiva e deve votar convocação de supostos membros do gabinete paralelo
Integrantes da cúpula decidiram que irão analisar, nesta semana, os pedidos de convocação de membros do suposto gabinete paralelo da Saúde
Em reunião realizada por zoom neste domingo (6/6), integrantes da cúpula da CPI da Covid no Senado decidiram que irão analisar, nesta semana, os pedidos de convocação de integrantes do suposto gabinete paralelo da Saúde do governo de Jair Bolsonaro.
A intenção é que os requerimentos sejam avaliados em bloco (de uma vez só), já nesta terça-feira (8/6). Os senadores também querem definir, no mesmo dia, as datas dos depoimentos.
O grupo seria responsável por aconselhar o presidente sobre o uso de drogas ineficazes contra a Covid-19 como hidroxicloroquina, azitromicina e ivermectina.
A investigação do ministério paralelo é uma das principais linhas de trabalho da CPI, que decidiu deixar momentaneamente de lado questões relativas ao ex-ministro da Saúde e general da ativa Eduardo Pazuello.
A nova tendência se dá após o ressurgimento de um vídeo de uma reunião no Planalto, transmitida no Facebook do presidente, na qual foi sugerido um “gabinete das sombras”.
Segundo o relator do grupo, o senador Renan Calheiros (MDB-AL), um dos pedidos de convocação analisados será o do ex-ministro da Cidadania e deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), apontado como o “padrinho” do grupo de aconselhamento paralelo do presidente.
Ele aparece na mesa de cerimônia ao lado do presidente, em reunião gravada no Palácio com defensores da cloroquina e integrantes da associação Médicos pela Vida.
Terra também é um defensor assumido da chamada “imunidade de rebanho”, segundo a qual a pandemia desaparecerá em razão do ritmo acelerado da contaminação da população.
Os requerimentos para a sua convocação foram feitos pelos senadores Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que é vice-presidente do grupo, Rogério Carvalho (PT-SE) e Alessandro Vieira (Cidadania-SE).
Também deverá ser apreciado o pedido para ouvir o virologista Paolo Zanotto. Ele aparece no mesmo vídeo da reunião no Planalto. Em sua fala, ele sugeriu criar uma espécie de “gabinete das sombras” para tratar da resposta oficial à pandemia.
“Talvez fosse importante montar um grupo, e a gente poderia ajudar a montar um ‘shadow board’, como se fosse um ‘shadow cabinet’. Esses indivíduos não precisariam ser expostos à popularidade”, declarou Zanotto.
Os pedidos para ouvi-lo foram feitos por Randolfe Rodrigues e pelo senador Luis Carlos Heinze (PP-RS), defensor do governo e da cloroquina.
O requerimento para ouvir o anestesista Luciano Dias Azevedo, um dos principais defensores do medicamento junto ao governo, também deverá ser votado. O ofício foi apresentado pelos senadores Humberto Costa (PT – PE) e Rogério Carvalho, no dia 12 de maio.
Em depoimento à CPI no dia 4 de maio, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta disse que Azevedo participou de uma reunião no Palácio do Planalto, em abril do ano passado, em que se tentou, por decreto, alterar a bula da hidroxicloroquina para ampliar o uso do medicamento no tratamento da Covid.
Os senadores justificaram a convocação do anestesista, que também é tenente, afirmando que é grave utilizar a Presidência da República para disseminar o uso de medicamento sem eficácia comprovada para o tratamento da Covid.
“Por essa razão, a aprovação do presente requerimento é fundamental ao esclarecimento dos fatos investigados, razão pela qual pedimos o apoio dos nobres pares”, diz o documento.
O outro pedido de convocação é de Felipe Cruz Pedri, secretário de Comunicação Institucional do governo, feito por Renan Calheiros, em 2 de junho. “A Secretaria de Comunicação Institucional do governo federal tem, ou deveria ter, papel central nas ações de conscientização e informação da população. É importante a presença do secretário perante esta CPI para depor sobre as ações que sua secretaria desenvolveu e vem desenvolvendo durante a pandemia”, justificou Renan.
Documentos da Casa Civil da Presidência da República entregues à CPI da Covid mostram que pessoas apontadas como integrantes do grupo participaram de ao menos 24 reuniões para tratar de estratégias do governo no combate à pandemia.
O material remetido à comissão trata de informações solicitadas sobre todas as reuniões que tiveram como pauta o tema relacionado à pandemia da Covid-19 –Bolsonaro não esteve em seis delas, mas todas ocorreram no Palácio do Planalto ou no Alvorada (residência oficial da Presidência).