Ciro Nogueira assume coordenação do Planalto na CPI da Covid no Senado
De acordo com aliados, o foco imediato da ação de Ciro deve ser tentar reequilibrar a composição de forças na CPI
Novo ministro da Casa Civil, o senador licenciado Ciro Nogueira (PP-PI) assumirá o papel de principal estrategista do governo Jair Bolsonaro na CPI da Covid. Hoje a comissão é o maior foco de desgaste para o presidente da República no Senado.
Líder do centrão, Ciro foi nomeado nesta quarta-feira (28) como substituto do general Luiz Eduardo Ramos na Casa Civil e afirmou a aliados que será o responsável por desenhar a estratégia governista no colegiado.
Até aqui, o principal articulador no Planalto para o tema era o ministro Onyx Lorenzoni, que estava na Secretaria-Geral da Presidência e foi deslocado para o Ministério do Trabalho e Previdência, recriado também nesta quarta.
Ramos e a ministra da Secretaria de Governo, Flávia Arruda, buscaram ajudar a traçar a resposta do governo na CPI. Porém, decidiram se afastar dos assuntos do colegiado por duas razões. Primeiro, viviam em embate com Onyx, que queria ter protagonismo. Segundo, porque sofriam com queixas de senadores.
Embora já tenha sido nomeado, a expectativa é que Ciro Nogueira tome posse apenas na próxima semana.
A CPI da Covid tem 11 membros titulares, e a maioria é crítica a Bolsonaro. São considerados governistas apenas Marcos Rogério (DEM-RO), Eduardo Girão (Podemos-CE), Jorginho Mello (PL-SC) e Luis Carlos Heinze (PP-RS).
O gaúcho ocupava uma vaga de suplente e será o substituto de Ciro no colegiado. Dessa forma, o filho mais velho do presidente, Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), assumirá uma das suplências.
Embora haja dois vice-líderes do governo –Rogério e Mello–, a avaliação é que a composição não favorece o Planalto. O catarinense é um senador mais discreto, enquanto Heinze e Girão são vistos como folclóricos, usando boa parte das falas nas sessões para defender tratamentos ineficazes para a Covid-19.
De acordo com aliados, o foco imediato da ação de Ciro deve ser tentar reequilibrar a composição de forças na CPI.
A avaliação é que há espaço para uma aproximação entre o Planalto e Eduardo Braga (MDB-AM), que iniciou a CPI como integrante do bloco majoritário, o chamado G7, mas tem assumido posições menos hostis ao governo.
Segundo interlocutores, Ciro Nogueira deve ter como prioridade cortejar Braga para o lado governista.
Senadores governistas da CPI também dizem acreditar que Ciro vai aproveitar seu bom trânsito com outras bancadas para manter um diálogo mais constante com o grupo majoritário da comissão, discutindo mais diretamente votações de requerimentos e outras ações do colegiado.
Afirmam que, até o momento, a articulação política do Planalto se resumiu a enviar material para preparar os membros aliados da CPI e a alinhar o discurso.
Um governista lembra que há espaço mesmo para negociar uma troca de membros indicados por bancadas mais próximas ao Planalto, como o PSD –trocando o independente Otto Alencar (PSD-BA).
No entanto, esse congressista reconhece que a hipótese é improvável, uma vez que a operação tem potencial de abrir um racha nas bancadas, o que poderia atrapalhar o governo em outras frentes.
A articulação política na CPI vinha sendo criticada pelos governistas desde a instalação da comissão, em abril. O dedo era apontado particularmente para a ministra Flávia Arruda, que teria deixado que bancadas próximas, como MDB e PSD, indicassem membros críticos ao Planalto.
Com a indicação de Onyx como estrategista, os governistas dizem que ao menos havia planejamento para as sessões e alinhamento no discurso.
Eles lembram que, logo após as denúncias envolvendo a vacina indiana Covaxin, o então ministro da Secretaria-Geral convocou rapidamente Marcos Rogério e Jorginho Mello para uma reunião no Planalto.
No encontro, foram informados que Bolsonaro teria pedido ao então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, que investigasse o caso, e o general não teria encontrado irregularidades. Essa virou a primeira versão oficial do governo.
Em relação a Ramos, a falta de traquejo político foi o principal fator que motivou a saída do general da Casa Civil –estrutura chamada pelo próprio Bolsonaro de “alma do governo”. Ramos continua ministro, mas à frente da Secretaria-Geral da Presidência, pasta de menor importância.
Antes demonizado por aliados de Bolsonaro, o centrão –grupo de legendas fisiológicas com forte representação na Câmara e no Senado– é hoje pilar de apoio político do Planalto no Congresso.
A chegada de Ciro Nogueira à Casa Civil não apenas sela o casamento de Bolsonaro com o centrão como consolida o avanço do grupo sobre os militares no governo.
Agora, três ministros da ala política têm assento no Planalto, despachando a poucos metros do gabinete presidencial: Ciro, Flávia, que é deputada licenciada do PL-DF, e Fábio Faria (Comunicações), deputado licenciado pelo PSD-RN.
Os ministros militares no Planalto são Ramos, em pasta esvaziada, e o general Augusto Heleno, no GSI (Gabinete de Segurança Institucional).
Heleno protagonizou, ainda na campanha de 2018, um dos episódios que marcaram o discurso contra a velha política do então candidato à Presidência Bolsonaro. Ele aproveitou um ato partidário para, em suas palavras, “cantar uma musiquinha”.
“Se gritar pega centrão, não fica um, meu irmão”, cantarolou. Em sua versão, o general diz “centrão” no lugar de “ladrão”, que consta na letra original composta por Ary do Cavaco e Bebeto Di São João.
Pouco mais de dois anos depois, a retórica do governo mudou radicalmente. “Eu nasci de lá [do centrão]”, afirmou Bolsonaro no último dia 22. “Eu sou do centrão.”
Ainda nesta quarta, o presidente oficializou a recriação do Ministério do Trabalho e Previdência. A pasta do Trabalho –originalmente criada em 1930– havia sido extinta pelo próprio Bolsonaro em 2019.
O novo ministério ficará responsável por assuntos da Previdência; políticas e diretrizes para geração de emprego, renda e apoio ao trabalhador; fiscalização do trabalho; política salarial; segurança e saúde no trabalho; registro sindical; e regulação profissional.
A pasta de Onyx ainda abriga o conselho curador do FGTS, o conselho deliberativo do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador), o Conselho Nacional de Previdência Social, entre outros.
Por Julia Chaib, Ricardo Della Coletta, Renato Machado e Mateus Vargas