Campanha de Bolsonaro atinge pior momento com prisão de ex-ministro, dizem aliados – Mais Brasília
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Campanha de Bolsonaro atinge pior momento com prisão de ex-ministro, dizem aliados

Um integrante do núcleo duro da campanha bolsonarista diz que "não tem vida fácil" ao comentar a detenção de Ribeiro e de pastores

Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agencia Brasil

Aliados do presidente Jair Bolsonaro (PL) avaliam que a prisão do ex-ministro Milton Ribeiro (Educação) coroa o pior momento da campanha do mandatário.

Já apreensivos com a alta do preço dos combustíveis, anunciada na semana passada pela Petrobras, pessoas próximas do presidente dizem que a prisão abala um dos pilares da campanha, que é o discurso anticorrupção, usado para fazer frente ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Como mostrou a coluna Mônica Bergamo, aliados de Bolsonaro dizem que o episódio é um “verdadeiro desastre”.

Um integrante do núcleo duro da campanha bolsonarista diz que “não tem vida fácil” ao comentar a detenção de Ribeiro e de pastores ligados ao governo. Este aliado de Bolsonaro, porém, afirma que as acusações contra o ex-ministro não vão colar no presidente, indicando a estratégia a ser adotada.

Ribeiro foi nomeado ministro da Educação em julho de 2020 e deixou o cargo em março deste ano, após ser alvo de investigação por um suposto balcão de negócios no MEC operado por ele e por pastores.

Em áudio revelado pela Folha de S.Paulo, o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro disse que priorizava pedidos dos amigos de um dos pastores a pedido de Bolsonaro.

Além de Ribeiro, a Polícia Federal também prendeu pastores suspeitos de operar um balcão de negócios no Ministério da Educação e na liberação de verbas do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação).

Ao menos um dos pastores, Gilmar Santos, já foi detido. A PF também cumpriu mandados de busca e apreensão em endereços de Ribeiro, de Gilmar e do pastor Arilton Moura -esses dois últimos são ligados a Bolsonaro e apontados como lobistas que atuavam no MEC.

Num primeiro momento, aliados de Bolsonaro decidiram adotar tom cauteloso para verificar os desdobramentos da operação da PF.

A constatação é a de que, se houve prisão, a polícia pode ter provas e elementos contundentes para ter realizado a operação. Qualquer tentativa de defender Ribeiro das acusações, portanto, pode ser um tiro no pé.

O tom que deve ser adotado para tentar blindar Bolsonaro do episódio é o que o próprio presidente deu: o de tentar se descolar do ex-ministro e dizer que a PF tem autonomia sob sua gestão.

Bolsonaro disse nesta quarta que “a imprensa vai dizer” que Ribeiro é ligado a ele, mas que é preciso ter “paciência” em relação a isso. “Se tiver algo de errado, ele vai responder. Se tiver. Se for inocente, sem problema; se for culpado, vai pagar.”

“Ele que responda pelos atos dele, eu peço a Deus que não tenha problema nenhum”, disse o presidente, em entrevista à rádio Itatiaia de Minas Gerais. “Se a PF prendeu, tem um motivo, e o ex-ministro vai se explicar”, completou.

O mandatário ainda afirmou que “houve denúncia” de que o ex-ministro “teria buscado prefeito, gente dele para negociar, buscar recurso” e que logo o “afastou” do cargo.

Na realidade, porém, a exoneração, conforme publicado no Diário Oficial, ocorreu “a pedido” de Ribeiro, e não por ordem de Bolsonaro.
Antes, inclusive, o presidente havia dito que “botaria a mão no fogo” pelo então auxiliar.

Nesta quarta, como vacina, Bolsonaro já disse que não pode ser responsabilizado pelo caso porque não consegue ter controle sobre todos os ministérios e secretarias do Executivo.

O deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), classifica o episódio como “lamentável”.

“Eu não quero ser leviano de acusar. Não é um episódio que ajuda o governo, mas, ao agir imediatamente, deixar a investigação correr e que a punição ocorra logo, é uma forma diferente de governar com relação ao que a gente via antes”, disse o deputado.

“Antes, dava-se o cargo de ministro ao investigado para se ter imunidade para não ser preso. Há uma diferença monstruosa.”

O pastor Marco Feliciano (PL-SP) fez publicações no Twitter em que afirma ser um “dia muito triste” para Igreja Evangélica de vertente Petencostal.

“A prisão do PR Gilmar Santos, pelo qual, como pregador da palavra, sempre tive respeito e admiração, nos causa um profundo constrangimento. Nos resta apenas aguardar os desdobramentos”, avaliou Feliciano.

Apesar da tentativa de descolamento, a investigação sobre Ribeiro macula a campanha de Bolsonaro não apenas por atingir um ex-ministro, mas por mirar no FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação), órgão controlado pelo centrão, grupo de partidos que dá sustentação a Bolsonaro.

O FNDE foi entregue aos políticos como forma de o presidente criar uma base de apoio no Congresso para evitar o avanço de pedidos de impeachment.

No mandado de prisão de Ribeiro, o juiz Renato Borelli, da 15ª Vara Federal em Brasília, lista os crimes investigados e que podem ter sido cometidos pelo ex-ministro. São eles: corrupção passiva, prevaricação, advocacia administrativa e tráfico de influência.

O magistrado também determinou que o ex-ministro de Bolsonaro seja transferido para a superintendência da PF no Distrito Federal.
Os dois pastores, Gilmar e Arilton, são peças centrais no escândalo do balcão de negócios do ministério. Como mostrou a Folha, eles negociavam com prefeitos a liberação de recursos federais mesmo sem ter cargo no governo.

Os recursos são do FNDE, órgão ligado ao MEC controlado por políticos do centrão, bloco político que dá sustentação a Bolsonaro desde que ele se viu ameaçado por uma série de pedidos de impeachment e recorreu a esse apoio em troca de cargos e repasses de verbas federais.

O fundo concentra os recursos federais destinados a transferências para municípios.

Prefeitos relataram pedidos de propina, até em ouro.

Na gravação, o ministro diz ainda que isso atende a uma solicitação do presidente Bolsonaro e menciona pedidos de apoio que seriam supostamente direcionados para construção de igrejas. A atuação dos pastores junto ao MEC foi revelada anteriormente pelo jornal O Estado de S. Paulo.

Ribeiro deixou o cargo no fim de março, uma semana após a revelação pela Folha de S.Paulo.

Por Julia Chaib e Cezar Feitoza