Brasil deve reconhecer o problema grave de desmate ilegal, diz Pacheco na COP26
O discurso foi feito ao lado do ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite
“Reconhecer nossos erros é premissa de toda negociação. É importante sentarmos na mesa fixando uma premissa real: temos um problema grave de desmatamento ilegal das nossas florestas”, disse nesta terça (9/11) o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), em evento do pavilhão do Brasil na COP26.
O discurso foi feito ao lado do ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, que sinalizou concordância com a cabeça, mas não respondeu. O governo federal tem promovido eventos no seu pavilhão sob a marca “Brasil real”, que busca publicizar dados positivos sobre a conservação ambiental no país, como a ampla cobertura florestal e a matriz elétrica majoritariamente renovável.
No entanto, para Pacheco, “o problema é o desmatamento ilegal, que faz com que tenhamos uma crise de imagem em relação aos demais países”.
Em entrevista após a palestra, o presidente do Senado e a senadora Kátia Abreu, presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, criticaram a diplomacia e a política ambiental nos primeiros anos do governo Bolsonaro.
Segundo Pacheco, o Ministério do Meio Ambiente na gestão anterior (de Ricardo Salles) “era muito sujeita a críticas, não só às suas ações mas também à sua narrativa”, o que provocou uma distância entre a realidade brasileira e a percepção que atores no exterior passaram a ter do país, exigindo que a imagem do Brasil precise agora ser reconstruída.
Kátia Abreu incluiu também o Ministério das Relações Exteriores, quando chefiado por Ernesto Araújo, como responsável pela deterioração da imagem brasileira: “Houve desvios de rumo muito acentuados nos dois ministérios”.
A senadora firmou que os novos ministros são “mais tranquilos, mais moderados” e que perceberam a reação do Senado, que na verdade só ecoava uma sociedade “incomodada” ao ver, segundo ela, o país caminhar para “rumos não positivos”.
Na apresentação anterior, o atual ministro do Meio Ambiente reforçou as falas feitas nas últimas semanas sobre a importância dos incentivos financeiros para a conservação ambiental. “Como eu remunero um estado que tem lá 90% do território protegido? Como eu remunero lá vários guardas florestais?”, questionou, trazendo o exemplo de guias turísticos que podem passar a receber pagamentos por serviços ambientais, como um complemento fixo à renda do seu trabalho, de natureza variável.
“Em Alter do Chão (PA) já tem um serviço em que o guia turístico recebe para vigiar aquele território, porque ele precisa daquele território preservado para que o turista volte”, citou o ministro.
“O plano de crescimento verde está começando a dar resultados”, disse Leite, embora o programa -que não cita metas, ações ou cronogramas- tenha sido lançado há apenas duas semanas.
“É digno de registro a mudança de postura do governo nessa COP, reafirmando compromissos com o fim do desmatamento ilegal e a redução das emissões [de gases-estufa]. É muito simbólico”, disse o vice-presidente da Câmara dos Deputados, Marcelo Ramos (PL-AM).
O evento, que não admitiu perguntas do público ou da imprensa, também contou com a presença do presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Robson Braga de Andrade. Ele recebeu duas vezes o agradecimento do ministro pelo espaço na COP26, feito em parceria do governo federal com a CNI e a CNA (Confederação Nacional da Agropecuária).
Na entrevista posterior, Rodrigo Pacheco disse que, embora Leite não tenha feito menção ao desmatamento ilegal, a postura de seu ministério é a de combatê-lo. “O negacionismo, especialmente na pandemia, foi muito ruim para o Brasil, nos impediu de conter a doença aequadamente, e não pdoe se repetir no meio ambiente”.
Segundo Katia Abreu, a posição anterior do governo Bolsonaro prejudicou o acordo Mercosul-União Europeia. “Penso que o acordo não está para amanhã, mas não acho que esteja tão longe, agora que estamos dando um recuo para a legalidade, com os compromissos de combate ao desmatamento ilegal”.
Por Ana Carolina Amaral e Ana Estela de Sousa Pinto
*A jornalista Ana Carolina Amaral viajou a convite do Instituto Clima e Sociedade.