Bolsonaro usa evento oficial para convocar aliados a atos contra o STF no 1º de Maio

Aliados do presidente defendem que ele não participe dos atos em desagravo ao deputado federal Daniel Silveira

O presidente Jair Bolsonaro (PL) usou um evento oficial neste sábado (30) em Uberaba (MG) para convocar seus aliados a participarem dos atos convocados para este domingo, 1º de Maio.
Em recado direto ao STF (Supremo Tribunal Federal), o presidente disse: “[Aqueles] que, porventura, irão às ruas amanhã, não para protestar, mas para dizer que o Brasil está no caminho certo. Que o Brasil quer que todos joguem dentro das quatro linhas da Constituição. E dizer que não abrimos mão da nossa liberdade.”

“Amanhã não será dia de protestos. Será dia de união do nosso povo para um futuro cada vez melhor pra todos nós”, completou, na Expozebu, maior evento da pecuária no país. O evento consta da agenda oficial do presidente e teve transmissão ao vivo pela TV Brasil, do governo federal.

Aliados do presidente defendem que ele não participe dos atos em desagravo ao deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ) neste domingo, por temor de discursos radicalizados que possam acentuar a crise entre os Poderes.
Já integrantes do Legislativo e do Judiciário, com ou sem a presença do chefe do Executivo, temem que as manifestações possam reeditar os atos de raiz golpista de 7 de Setembro do ano passado.

Neste domingo estão previstas mobilizações em ao menos cinco capitais: Salvador, Curitiba, Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília. Os últimos três devem ser maiores, em especial o que ocorrerá na avenida Paulista.
Segundo organizadores, Bolsonaro ainda não definiu se participará do ato na capital federal, que deve ocorrer em frente ao Congresso. Mas integrantes da segurança da Presidência participaram das reuniões com a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal.

O entorno do chefe do Executivo diz que ele só comparecerá ao ato de Brasília caso a manifestação seja volumosa.
Nesta sexta, Bolsonaro modulou o discurso de crítica ao Supremo. Em entrevista à rádio Metrópole, de Cuiabá, disse que não quer peitar a corte, mas afirmou que ela cometeu excesso.
Já ministros do STF, após a nova ofensiva do presidente com ataques ao Judiciário e ao sistema eleitoral, reagiram em série em defesa das urnas e das instituições democráticas e contra pressões políticas na corte.

As declarações ocorrem depois de dias de silêncio ou discrição dos magistrados em meio à tensão entre os Poderes, desencadeada pelo indulto concedido por Bolsonaro a Silveira após sua condenação pelo STF a 8 anos e 9 meses de prisão e agravada por falas do ministro Luís Roberto Barroso sobre as Forças Armadas, rebatidas pelo Ministério da Defesa.

Neste sábado, em Uberaba, Bolsonaro participou da Expozebu, maior evento da pecuária no país.
O evento teve tom eleitoral, com citações aos seus pré-candidatos nos estados, como Tarcísio de Freitas (Republicanos), que deve disputar o Governo de São Paulo. O general Braga Netto, que deve ser vice de Bolsonaro, também foi saudado.

O presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), foi vaiado pelos presentes ao ter seu nome anunciado na abertura do evento. Bolsonaro em seguida o elogiou. Lira é um dos principais líderes do centrão, responsável pela base de apoio ao presidente no Congresso em troca de cargos e verbas.

Já o governador Romeu Zema (Novo-MG) foi recebido com aplausos e, ao iniciar seu discurso, pediu uma salva de palmas a Bolsonaro. Zema é candidato à reeleição e tem oscilado na relação com o Planalto.
Bolsonaro chegou à cidade conhecida como capital do zebu pouco depois das 9h. Após desembarcar, participou de uma motociata, mas na caçamba de uma camionete.

Foi o segundo evento do tipo num intervalo de apenas seis dias -segunda-feira (25), ele abriu a Agrishow, em Ribeirão Preto, após uma motociata e um passeio a cavalo.
O parque Fernando Costa, que abriga o evento, amanheceu com centenas de bandeiras brasileiras à venda, assim como camisetas amarelas com mensagens alusivas a Bolsonaro.

O presidente chegou ao parque às 10h30 e visitou a feira de gastronomia e inaugurou um espaço, denominado ABCZ Mulher, antes de ir para o palanque oficial.

Enquanto o público aguardava a chegada, um cantor entoava canções de artistas como Roberto Carlos.
Num dos trechos de “É Preciso Saber Viver”, de Roberto e Erasmo Carlos, o cantor trocou na parte final da música o refrão para “É preciso Saber Votar”. O público presente era, em sua grande maioria, formado por bolsonaristas.

Depois de cumprimentar parte do público num corredor no gramado do parque, Bolsonaro subiu ao palanque. Em clima de comício, o evento foi aberto pelo locutor de rodeios Cuiabano Lima, que classificou Bolsonaro de “predestinado” e “escolhido por Deus”. Ele também criticou a esquerda e puxou a oração do Pai Nosso com o público presente.

Presidente da ABCZ (Associação Brasileira dos Criadores de Zebu), Rivaldo Machado Borges Júnior disse que Bolsonaro é “um homem religioso, que respeita à família, de caráter. É isso que precisamos para o Brasil, um homem de pulso, de coragem”, afirmou.

TRADIÇÃO MANTIDA
A Expozebu, maior evento da pecuária no país, projeta R$ 300 milhões em negócios entre este sábado e o próximo dia 8, entre leilões de gado e shoppings de animais. Serão 43 eventos neste ano, ante 36 da última edição, em 2019.
Exposição que recebe visitantes nacionais e estrangeiros, a Expozebu tem protocolos diferentes para os dois públicos, devido à Covid-19.

Brasileiros terão de apresentar cartão de vacinação ou fazer exame num laboratório em frente ao parque ou levar laudo de que tiveram Covid-19 recentemente e estão curados. Estrangeiros, obrigatoriamente, farão exame laboratorial.

Ao visitar Uberaba, Bolsonaro manteve a tradição de presidentes da República participarem do principal evento da pecuária no país.

Desde que Getúlio Vargas (1882-1954) inaugurou o parque Fernando Costa, que abriga o evento, em maio de 1941, apenas dois presidentes não estiveram na feira em seus mandatos -não estão incluídos governos interinos.
Segundo o Museu do Zebu, que fica no parque, só não participaram da exposição Eurico Gaspar Dutra, que governou o país entre 1946 e 1951, e Jânio Quadros, que foi presidente entre janeiro e agosto de 1961.

Juscelino Kubitschek, Ernesto Geisel, Fernando Collor, Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff e Michel Temer são alguns dos governantes do país que participaram da abertura da feira.
Todos os governantes do regime militar (1964-1985) e os presidentes da redemocratização compareceram à feira.

Os dois anos sem eventos presenciais devido à pandemia da Covid-19 colocaram em risco a manutenção da tradição, caso Bolsonaro não comparecesse neste ano e não conquistasse um segundo mandato nas eleições deste ano.

Em 2019, o Ministério da Agricultura chegou a divulgar agenda informando que Bolsonaro participaria do evento, mas, em novo informe no dia seguinte, o nome do presidente não constava mais da lista. Ele foi representado pela ex-ministra (Agricultura) Tereza Cristina.

Por Marcelo Toledo

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