Bolsonaro quer procurar fraude no Bolsa Família sob Lula – Mais Brasília
FolhaPress

Bolsonaro quer procurar fraude no Bolsa Família sob Lula

No primeiro ano da gestão Bolsonaro, foram interrompidos, em média, 209 mil transferência

Jair Bolsonaro
Presidente Jair Bolsonaro (Foto: Agência Brasil)

Além de reformular e substituir o Bolsa Família, o governo Jair Bolsonaro (sem partido) quer procurar fraudes nos pagamentos feitos durante gestão do PT.

A intenção é usar dados e informações de “fantasmas” no programa sob o comando especialmente do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para emplacar o discurso de que Bolsonaro ampliou a transferência de renda no país e combateu pagamentos irregulares.

Mas os dados mostram que, em relação a governos anteriores, a quantidade de benefícios cancelados por irregularidades não sofreu forte alteração desde 2019.

No primeiro ano da gestão Bolsonaro, foram interrompidos, em média, 209 mil transferências. Isso representa 1,5% do número de famílias beneficiadas pelo programa por mês. Desde 2014, essa taxa variou de 1,3% a 2%.

Em 2020, por causa da pandemia, o governo decidiu, por alguns meses, não fazer a varredura por benefícios pagos de forma irregular. Por isso, esse índice caiu para 0,4%.

O Ministério da Cidadania diz que ainda precisa fazer ajustes para a divulgação de dados anteriores a 2014. A pasta disse desconhecer algum pedido para que fraudes no Bolsa Família durante a era petista fossem catalogadas.

A reportagem, no entanto, apurou que o plano da área de comunicação do governo é que Bolsonaro possa ter dados sobre supostas irregularidades e usar isso em discursos e entrevistas agora que foi lançado o Auxílio Brasil, como o novo programa social prometido pelo Palácio do Planalto desde 2019 foi batizado.

A medida provisória criando o programa -cujo nome é uma referência ao auxílio emergencial criado no ano passado- foi entregue por Bolsonaro ao Congresso nesta segunda-feira (9).
Lula e Bolsonaro são os principais personagens, pelo menos até o momento, para a eleição presidencial de 2022.

O forte gasto na área social, com auxílio emergencial que chegou a quase 68 milhões de pessoas, foi apontado como um fator que funcionou como propulsor para a popularidade de Bolsonaro em 2020.

No entanto, a avaliação do presidente inverteu essa tendência já no início de 2021 e segue em queda desde então.

A reformulação do Bolsa Família faz parte da estratégia de Bolsonaro para estancar a queda de popularidade e ganhar fôlego para a campanha à reeleição em 2022.

A ideia é angariar apoios ao presidente com o novo programa social e com a recuperação da economia.

O valor final ainda está em elaboração. A intenção é elevar o benefício médio por família dos atuais R$ 190 mensais para R$ 300 ou mais.

A equipe econômica trabalha com um valor próximo de R$ 300, mas há pressão, inclusive de Bolsonaro, por um patamar mais elevado, como R$ 400. O valor de R$ 300, inclusive, só foi testado a pedido do presidente.

O número de beneficiários também deve aumentar, passando de 14,7 milhões de famílias para aproximadamente 17 milhões.

Com isso, o custo do programa tende a subir para mais de R$ 55 bilhões por ano -isso depende do valor a ser transferido por família. No Orçamento de 2021, a verba para o Bolsa Família é de R$ 34,9 bilhões.

O Auxílio Brasil prevê que beneficiários recebam um bônus se conseguirem um trabalho formal. O argumento é que a medida estimularia a busca por emprego.

Na prática, a família teria um aumento duplo na renda: o salário pago pela empresa e também o acréscimo no valor transferido pelo programa.

O benefício assistencial, inclusive com o bônus, deve ter um prazo para ser encerrado após a carteira de trabalho ter sido assinada.

A pasta também incluiu uma linha de crédito consignado especial para beneficiários do programa.

Por ser MP, a reformulação do Bolsa Família passa a ter efeito imediato, mas precisa do aval do Congresso em 120 dias.

Bolsonaro e a equipe tentam colocar em funcionamento o novo Bolsa Família a partir de novembro, ou seja, logo após o fim da última parcela do auxílio emergencial.

O governo enfrenta dificuldade para encontrar espaço no Orçamento de 2022. Por isso, propõe ao Congresso um projeto para adiar o pagamento de dívidas da União reconhecidas pela Justiça -chamadas de precatórios- e usar os recursos para elevar o valor do Bolsa Família.

Por Júlia Chaib e Thiago Resende