Bolsonaro fará teste no fim de semana e planeja deixar isolamento se der negativo para Covid
Todos da comitiva foram isolados por recomendação da Anvisa
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) deve realizar novo teste RT-PCR no fim de semana e deixar o isolamento se o exame não detectar a presença da Covid-19.
O Palácio do Planalto informou nesta quarta-feira (22) que o mesmo procedimento será adotado por cerca de 50 pessoas que acompanharam o presidente na viagem a Nova York para participar da Assembleia-Geral da ONU.
Todos foram isolados por recomendação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) após o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, receber diagnóstico positivo para Covid-19 na terça-feira (21).
O secretário especial de Comunicação Social, André Costa, disse à imprensa que Bolsonaro seguirá orientações do guia de vigilância epidemiológica do Ministério da Saúde, publicado em abril de 2020.
O texto afirma que pessoas que tiveram contato com infectados pela Covid podem ter o isolamento suspenso se realizarem exame laboratorial com resultado negativo. O teste deve ser feito de 5 a 6 dias após o último encontro com o paciente da Covid, segundo o mesmo guia.
Costa disse que Bolsonaro está no Palácio da Alvorada e “totalmente assintomático”.
O presidente e os membros da comitiva devem realizar novo exame entre o sábado (25) à noite e a manhã de domingo (26), afirmou o secretário.
Bolsonaro levou uma comitiva de 18 pessoas a Nova York, mas os integrantes da equipe de apoio também foram isolados.
Após o diagnóstico de Queiroga, que faz quarentena em Nova York, Bolsonaro decidiu fazer reunião de trabalho online e cancelar ida ao interior do Paraná na sexta-feira (25).
O avião presidencial decolou na noite de terça-feira (21) dos Estados Unidos e pousou em Brasília no início da manhã desta quarta (22). Bolsonaro seguiu para o Palácio da Alvorada, residência oficial.
A Anvisa encaminhou na madrugada desta quarta à Casa Civil as recomendações de isolamento da comitiva.
Em nota à imprensa, a agência afirmava recomendar que os membros da comitiva “realizem isolamento de 14 dias”. Integrantes do órgão, então, disseram ao Planalto que a quarentena poderia ser relaxada após o exame no fim de semana.
A orientação é manter o monitoramento por 14 dias, mesmo após o fim do isolamento do grupo que esteve nos EUA.
O ministro foi o segundo integrante do grupo que acompanhou Bolsonaro a receber o diagnóstico para o vírus. Um diplomata também se infectou.
A viagem de Bolsonaro foi marcada por um discurso negacionista na ONU, em que ele atacou medidas de distanciamento social e defendeu medicamentos comprovadamente ineficazes para a doença.
Os diretores da Anvisa passaram a discutir recomendações de quarentena após serem alertados sobre a infecção de Queiroga. A conversa entrou na madrugada e ainda havia algumas dúvidas na manhã desta quarta (22), por exemplo, sobre o que fazer se o presidente descumprir o isolamento.
O consenso na agência é o de que Bolsonaro deveria imediatamente se isolar e realizar o exame por volta de cinco dias após o último contato com Queiroga.
Para um integrante da agência que acompanha as discussões, as regras sobre a pandemia determinam que a vigilância sanitária local ou o médico devem avisar o Ministério Público e a autoridade policial sobre eventual descumprimento.
Com a vigilância local envolvida, parte da responsabilidade sobre monitorar Bolsonaro e sua comitiva fica nas mãos do governo de Ibaneis Rocha, do Distrito Federal.
Ao chegar em seu gabinete, o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) afirmou acreditar que Queiroga tenha viajado infectado para os Estados Unidos.
“O ministro já deve ter saído daqui, pelo o que a gente conhece em termos de contaminação… A contaminação leva de cinco a sete dias, ele estava há dois dias nos EUA”, disse. Ele ressaltou não saber se foi exigido apresentação da PCR para autoridades vacinadas e reiterou que, na sua opinião, Queiroga não se contaminou nos EUA.
“Volto a dizer, posso até estar enganado. Acho que o ministro Queiroga já saiu daqui carregando o bichinho”, declarou Mourão.
Queiroga esteve em vários eventos ao lado do presidente em Nova York, como o jantar na noite de segunda (20) que terminou em confusão. Na ocasião, ele mostrou o dedo do meio a ativistas que protestavam contra o governo.
Na segunda, Queiroga esteve no encontro com o premiê britânico, Boris Johnson -que depois se reuniu com o presidente dos EUA, Joe Biden. Ao ser questionado sobre o primeiro caso de Covid na comitiva, o ministro disse: “Estamos em pandemia, e coisas assim [contaminações] podem acontecer”.
Ele também foi à parte externa do memorial dos ataques de 11 de Setembro, no World Trade Center, na tarde de terça. No local houve uma aglomeração em torno do presidente, que foi cercado por turistas.
O ministro das Relações Exteriores, Carlos França, esteve ao lado de Queiroga em vários desses eventos e também na van que os transportou na saída do jantar de segunda.
França se encontrou com o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, na tarde de terça. Ele tem outros encontros bilaterais agendados nesta quarta em Nova York.
De acordo com o Itamaraty, França suspendeu sua agenda da manhã desta quarta “por precaução”. Ainda na manhã desta quarta, segundo a chancelaria, o ministro fez teste para a Covid e o resultado foi negativo.
Além do evento no memorial do 11 de Setembro, Queiroga esteve na terça ao lado de Bolsonaro nos encontros com o presidente polonês, Andrzej Duda, com o secretário-geral da ONU, António Guterres, e em uma reunião com a Opas (Organização Pan-Americana de Saúde).
Texto: Mateus Vargas e Ricardo Della Coletta