Bolsonaro diz que Petrobras demonstra não ter sensibilidade com população
Presidente criticou o fato de a empresa ter anunciado o reajuste antes de o Congresso aprovar projeto
O presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou no sábado (12/3) que a Petrobras demonstrou insensibilidade com a população ao anunciar durante a semana um mega-aumento nos preços de combustíveis.
“A Petrobras demonstra que não tem qualquer sensibilidade com a população. É Petrobras Futebol Clube e o resto que se exploda”, afirmou.
Ele criticou especificamente o fato de a empresa ter anunciado o reajuste antes de o Congresso aprovar um projeto de lei que cortou tributos sobre o diesel. O texto zerou os impostos federais PIS e Cofins sobre o combustível e ainda limitou a cobrança do estadual ICMS.
A expectativa do governo é que as mudanças tributárias permitidas pelo Congresso e já sancionadas pelo presidente possam reduzir em R$ 0,60 o custo do diesel. “Em vez de ter anunciado R$ 0,90 de reajuste no diesel, [a Petrobras] podia ter anunciado R$ 0,30”, afirmou Bolsonaro.
O presidente afirmou que chegou a ser feito durante a semana um pedido por parte do Parlamento para que a Petrobras postergasse o reajuste para depois da votação. Perguntado sobre quem fez a requisição à empresa, Bolsonaro respondeu que não sabia e disse que ele mesmo não poderia ter feito porque o ato poderia ser enquadrado como tráfico de influência.
“Leis, projetos, contratos feitos no passado que transformou [sic] a Petrobras em algo, simplesmente, em Petrobras Futebol Clube, um Campeonato Brasileiro. Eles cuidam da vida deles e o resto do Brasil, mesmo na crise e com a guerra lá fora, que se vire. Lamento a atuação da Petrobras nesse episódio”, disse.
Agora, com o corte tributário, ele diz esperar que os postos reduzam parcialmente os preços. “Espero que os postos que aumentaram em R$ 0,90 a partir de amanhã reduzam em R$ 0,60 o litro do diesel, o que é muito pesado mesmo assim para os caminhoneiros”, disse.
Bolsonaro lembrou que o Brasil não tem como refinar petróleo para atender sua demanda e disse que, por isso, o país é escravo dos preços praticados no exterior. Segundo ele, qualquer nova refinaria é bem-vinda, mas elas ainda demorariam de três a cinco anos para sair do papel.
Ele aproveitou para voltar a criticar as medidas para a contenção da pandemia de Covid-19, dizendo que elas impulsionaram a inflação. Em seguida, no entanto, mencionou os impactos da guerra na Europa como causa para a atual escalada nos preços e defendeu o fim do conflito.
“A gente pede a Deus que esse problema [entre] Rússia e Ucrânia se resolva rapidamente, porque estamos sofrendo as consequências a 10 mil quilômetros de distância”, disse.
Mais cedo, o presidente disse também que estuda mandar um projeto de lei para o Congresso na próxima semana zerando o PIS/Cofins para a gasolina.
O movimento segue a mais recente medida, tomada na noite de sexta-feira (11) após aval do Congresso, quando ele sancionou lei que zera o PIS/Cofins e o ICMS para gás de cozinha e diesel até o final de 2022, ano eleitoral.
Questionado se a medida seria suficiente para a alta dos combustíveis, ocasionada pela guerra na Ucrânia, Bolsonaro disse que não.
Ele contou que conversou com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, para saber o quanto a alta na gasolina influencia na inflação, disse ter ficado insatisfeito com o mega-aumento e afirmou que não vai “interferir no mercado”.
Bolsonaro disse ainda que dá palpites e faz sugestões diretamente a Silva e Luna, mas negou que seja interferência. “São sugestões apenas”.
Para ele, a Petrobras tem “lucro absurdo”, num momento “atípico” no mundo. O presidente voltou a se queixar da política de preços da companhia, que disse não entender.
Como a Folha mostrou, uma ala do governo defende a adoção de uma solução rápida para evitar que os aumentos sigam sendo repassados para o consumidor.
A principal tese é a adoção de subsídio para o diesel, com efeito imediato, para permitir ao governo bancar uma parte dos valores cobrados nas bombas. Com isso, recursos do Tesouro Nacional seriam usados diretamente para bancar parte dos preços.
A hipótese é rechaçada pelo ministro Paulo Guedes (Economia) neste momento. Ele, no entanto, admite a possibilidade restrita ao diesel caso a guerra se prolongue ou os preços continuem escalando.
Por Fábio Pupo