Atos de 8 de janeiro reforçam necessidade de capacitar políticos, diz executiva
Escola de formação de políticos RenovaBR vai abrir mais uma frente de atuação em Brasília
A escola de formação de políticos RenovaBR, fundada em 2017 pelo empresário Eduardo Mufarej, vai abrir mais uma frente de atuação em Brasília com uma nova diretora-executiva, Patrícia Audi. Além de oferecer capacitação a candidatos novatos para cargos públicos, a entidade quer expandir o alcance para quem já têm experiência.
Audi afirma que as invasões aos três Poderes no dia 8 de janeiro reforçam a necessidade de elevar o nível político no país. “Cresceu ainda mais a nossa responsabilidade com relação a formar bons políticos, que sejam capazes de dialogar e que devem divergir, encontrando na divergência consensos para construirmos a democracia”, diz.
Segundo Audi, o RenovaBR também quer aumentar sua participação no debate econômico promovendo encontros com membros do governo. O primeiro tema de interesse vai ser a reforma tributária.
PERGUNTA – O que muda no RenovaBR com a sua chegada e a abertura de uma atuação em Brasília?
PATRÍCIA AUDI – Vamos ficar em Brasília e em São Paulo. A nossa ideia é nos aproximar mais dos nossos alunos e do próprio Congresso, e poder contribuir com os atuais parlamentares, seguindo o que para nós é muito importante, que é a tomada de decisões com base em evidências e dados, defendendo a melhor prática da ética e os princípios democráticos.
P.- Vai ter uma mudança de vocação do RenovaBR? Uma nova função, além da escola de novos políticos que vocês tinham desde a fundação?
PA- A gente estimula que novas lideranças cheguem ao Congresso, todos de primeiro mandato. Mas isso não significa que essas pessoas não queiram e não precisem e não tenham interesse em continuar sua formação, em uma formação continuada.
Queremos seguir dando subsídios para que eles possam tomar as melhores decisões e promovam melhores debates. Para isso, precisamos estar mais próximos. E não são só os alunos que estão no Congresso. Nós temos lideranças formadas com esses princípios em todo o país.
Nestes cinco anos, o Renova já formou 2.300 pessoas. É essa rede que queremos reforçar, e o fato de estar em Brasília é exatamente para isso. É para entender o que os nossos alunos precisam, de que forma podemos contribuir para essa renovação da política, esse fortalecimento da democracia, a partir de Brasília.
P.- As invasões que aconteceram em Brasília no dia 8 de janeiro tiveram alguma influência nessas mudanças que o Renova pretender fazer agora?
PA- Não. A decisão de estar mais próximos de Brasília antecede isso. Nós fomos uma das primeiras organizações do terceiro setor a formalmente nos manifestar a favor da democracia e contra qualquer ataque às instituições democráticas. Um dos nossos princípios pétreos é exatamente a defesa da democracia.
Acho que esses atos reforçam ainda mais a importância da existência de escolas de democracia e escolas de liderança política como o Renova. Cresceu ainda mais a nossa responsabilidade com relação a formar bons políticos, que sejam capazes de dialogar e que devem divergir, encontrando na divergência consensos para construirmos a democracia.
Um dos grandes ativos do Renova nesses cinco anos é exatamente o que a gente mais defende na democracia, que é a pluralidade de opiniões e partidária. Neste último ano, os nossos alunos tiveram 6,8 milhões de votos. São 18 eleitos, 15 suplentes, 22 segundos suplentes. Estamos formando lideranças políticas para ocupar o Legislativo e também o Executivo, carreiras de gestão pública.
P.- Qual é o grau de preocupação com a situação da polarização que levou o país aos ataques a Brasília? Como chegamos até ali e como baixar essa poeira?
PA- O que o Brasil precisa fazer ele já está fazendo. O que foi muito importante no 8 de janeiro foi a reação das instituições democráticas, dos três Poderes constituídos.
Não houve dúvidas de que a reação foi à altura necessária em defesa da democracia. Isso é que era importante a gente garantir que acontecesse. Independentemente dos problemas que possam acontecer, é muito mais importante a reação dos Três Poderes. E acredito que eles reagiram da forma como deveriam.
Embora tenha havido atos de vandalismo como aconteceu, a reação demonstrou o fortalecimento da nossa democracia. Embora a nossa jovem democracia tenha sido testada várias vezes, ela continua se mostrando pujante, forte. Todos nós ficamos preocupados naquele momento, mas também muito aliviados em perceber a reação dos três Poderes unidos e constituídos.
P.- Também vai acontecer uma expansão da atuação do Renova no debate econômico? Vocês vão promover encontros para debater temas como a reforma tributária?
PA- Isso faz parte exatamente dessa aproximação que a gente quer fazer dos grandes temas nacionais. Nós podemos, enquanto uma escola de democracia e de liderança política, oferecer esses debates. O primeiro é sobre reforma tributária.
Estamos preparando um evento no dia 8 de fevereiro. Convidamos o secretário Bernard Appy, que já aceitou. O que a gente quer é oferecer para os nossos alunos e parlamentares uma discussão sobre qual é a proposta de reforma tributária, de que forma isso deve ser conduzido pelo Congresso e pelo governo. E aproximar esses mundos.
A primeira foi reforma tributária, mas a gente já está imaginando fazer outros temas que sejam relevantes para discutirmos ao longo do ano, como a questão da sustentabilidade, por exemplo, que é um dos grandes ativos do Brasil.
Raio-X
Patrícia Audi é a nova diretora-executiva do RenovaBR, foi vice-presidente de relações institucionais do Santander e secretária do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social no governo Temer. Atuou na Secretaria de Transparência e Prevenção à Corrupção da CGU na gestão Dilma e na Organização Internacional do Trabalho no país.
Por Joana Cunha