‘Apurar o quê? Os caras já morreram tudo, pô’, diz Mourão sobre tortura na ditadura militar
Candidato ao Senado pelo Rio Grande do Sul, Mourão tem uma postura de defender e minimizar o regime que torturou e matou no país
Vice-presidente da República, o general Hamilton Mourão disse nesta segunda-feira (18/4) não haver o que apurar sobre tortura na ditadura militar (1964-1985) e ironizou: “Já morreram tudo, pô”.
Candidato ao Senado pelo Rio Grande do Sul, Mourão tem uma postura de defender e minimizar o regime que torturou e matou no país.
“Apurar o quê? Os caras já morreram tudo, pô”, disse, seguido de risos. “Vai trazer os caras do túmulo de volta lá?”.
Mourão foi questionado por jornalistas a respeito de áudios inéditos de sessões do STM (Superior Tribunal Militar) apontam denúncias de tortura durante o período da ditadura militar.
O conteúdo das gravações, fruto do trabalho do professor de história do Brasil Carlos Fico, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), foi divulgado pela jornalista Míriam Leitão, do jornal O Globo, e confirmado pela Folha.
“História, isso já passou, né? A mesma coisa que a gente voltar para a ditadura do Getúlio. São assuntos já escritos em livros, debatidos intensamente. Passado, faz parte da história do país”, afirmou o vice-presidente. Ele disse, então, que “houve excesso de parte a parte”.
No primeiro ano de governo, em entrevista ao jornal francês Le Monde, Mourão chegou a dizer que a ditadura matou “poucas pessoas”.
O regime enaltecido por Mourão teve uma estrutura dedicada a tortura, mortes e desaparecimento.
Os números da repressão são pouco precisos, uma vez que a ditadura nunca reconheceu esses episódios. Auditorias da Justiça Militar receberam 6.016 denúncias de tortura. Estimativas feitas depois apontam para 20 mil casos.
Presos relataram terem sido pendurados em paus de arara, submetidos a choques elétricos, estrangulamento, tentativas de afogamento, golpes com palmatória, socos, pontapés e outras agressões. Em alguns casos, a sessão de tortura levava à morte.
Em 2014, a Comissão Nacional da Verdade (CNV) listou 191 mortos e o desaparecimento de 210 pessoas. Outros 33 desaparecidos tiveram seus corpos localizados posteriormente, num total de 434 pessoas.