Após embates na CPI da Covid, senadores se preparam para batalhas eleitorais em 2022
Oito membros da comissão serão candidatos no próximo ano; seis devem concorrer a governos
Os capítulos finais da CPI da Covid, cujo relatório final deve ser apresentado nesta segunda-feira (18/10), devem marcar o apagar dos holofotes para membros da comissão e virar a chave para as duras batalhas que os senadores devem enfrentar na eleição do próximo ano.
Dos 11 titulares da CPI da Covid, 8 serão candidatos em 2022. Dois deles disputam a reeleição. Outros seis, em meio de mandato, miram voos mais altos: são pré-candidatos a governador.
Entre os que vão concorrer à reeleição está o presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz (PSD). Ele disputará um novo mandato no Senado em situação adversa, cenário oposto ao de 2014, quando foi eleito com forte respaldo popular após cinco anos como governador do Amazonas.
Aziz vive um momento de baixa desde a eclosão da operação Maus Caminhos, em 2016. A investigação apontou suspeitas de irregularidades na área da saúde no período em que ele governou o Amazonas, entre 2010 e 2014. O senador nega envolvimento em ilícitos.
Em 2018, o senador foi testado nas urnas ao concorrer ao governo do estado, mas terminou em quarto lugar. Foi eleito o jornalista Wilson Lima (PSC), que disputava a sua primeira eleição.
Ao longo da legislatura, Aziz e Lima ensaiaram uma aproximação, movimento que acabou criando fagulhas com um antigo aliado, também membro da CPI da Covid: o senador Eduardo Braga (MDB).
Antecessor de Omar Aziz no governo do Amazonas, Braga quase sucumbiu à onda antipolítica de 2018, mas conseguiu retornar ao Senado na segunda vaga com uma diferença de pouco mais de 25 mil votos para o terceiro colocado.
Três anos depois, seu objetivo é voltar ao governo do Amazonas. Começou a percorrer o estado inaugurando obras financiadas com emendas parlamentares e fazendo articulações com prefeitos.
Também tenta ganhar popularidade em Manaus, onde teve um de seus piores desempenhos em 2018. Para isso, intensificou o corpo a corpo com eleitores e até dançou zumba com apoiadores na periferia da capital amazonense.
Depois de um período de baixa, Aziz e Braga voltaram a ganhar os holofotes com a participação na CPI da Covid e retomaram o protagonismo na política do Amazonas, um dos estados mais castigados pela pandemia, inclusive com falta de oxigênio nos hospitais em janeiro.
Em julho, Braga e Aziz chegaram a bater boca em uma sessão da CPI sobre possíveis investigações da gestão da pandemia no Amazonas. Na votação de requerimentos, Braga disparou contra Aziz e pediu que ele não transformasse a comissão em palco eleitoral.
“Esta comissão não é uma questão de disputa regional. (…) Vossa Excelência quer trazer para essa discussão a disputa de 2022 para o estado do Amazonas. Não faça isso, senador”, afirmou.
O embate chegou a trincar o chamado G7, grupo dos sete membros da CPI independentes ou de oposição a Bolsonaro. Mas a tensão arrefeceu e prevaleceu uma espécie de pacto de não agressão entre os senadores, que disputarão cargos diferentes em 2022.
Além de Eduardo Braga e Wilson Lima, a eleição para o governo do Amazonas terá outro candidato competitivo: o ex-governador Amazonino Medes (DEM), que já comandou o estado por quatro mandatos.
O cenário também não é simples para Omar Aziz, que terá dois concorrentes de peso: o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio Neto (PSDB) e o Coronel Menezes (Patriota), amigo próximo de Bolsonaro.
Dentre os demais membros da CPI, além de Aziz, apenas o senador Otto Alencar, do PSD da Bahia, também concorrerá à reeleição em 2022. Mas este tende a ter um caminho de menos percalços.
Com uma sólida base no interior da Bahia, onde o partido tem 1 de cada 4 prefeitos, Otto fará parte da chapa capitaneada pelo senador Jaques Wagner (PT), pré-candidato ao governo.
Com um perfil incisivo na CPI, o senador ganhou notoriedade e viu crescer o número de seguidores nas redes sociais. Aproveitou o período em evidência para anunciar apoio ao ex-presidente Lula (PT) mesmo se o seu partido tiver candidato à Presidência.
Além de Eduardo Braga, outros cinco membros da CPI estão em meio de mandato e devem ser candidatos a governador.
Vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede) será candidato ao Governo do Amapá. Com atuação de destaque na comissão, onde protagonizou duras críticas ao governo Bolsonaro, o senador passou a ser assediado pelo PDT.
A aproximação, contudo, esbarra no cenário local: Randolfe faz oposição acirrada ao governador Waldez Góes (PDT). Nacionalmente a migração para o PDT é estimulada pelo presidente do partido, Carlos Lupi.
Dentre os 4 senadores da CPI da Covid alinhados a Bolsonaro, 2 se destacam pela defesa enfática do presidente na comissão e ganharam pontos com o Planalto.
Pré-candidato ao Governo de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL) protagonizou discussões ásperas com o relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL).
Também atuou como uma espécie de anteparo na CPI para um potencial aliado em seu estado: o empresário bolsonarista Luciano Hang, cotado para concorrer a uma vaga no Senado.
Com esses movimentos, se cacifou como principal aliado de Bolsonaro em Santa Catarina. Deve ter primazia junto ao núcleo duro do bolsonarismo, que começa a abandonar o barco do governador Carlos Moisés (sem partido).
O cenário é parecido em Rondônia, estado com viés bolsonarista que viu o senador Marcos Rogério (DEM) se tornar o líder da tropa de choque do presidente na CPI. Ele avalia ser candidato a governador.
“Temos que ver o que é melhor para Rondônia. O apoio do presidente é muito importante, mas nem eu mesmo sei ao certo se o caminho será ou não uma candidatura ao governo”, afirma o senador, que vive um imbróglio partidário com a fusão entre DEM e PSL.
A criação da União Brasil fará com que ele passe a dividir o mesmo partido de seu potencial adversário: o governador Marcos Rocha (PSL). A reportagem apurou que, por ser governador, Rocha terá primazia na condução da União Brasil em Rondônia.
Marcos Rogério afirma que ainda não há definição sobre o comando do novo partido em Rondônia e disse que eventual plano B para sua candidatura ao governo só será cogitado se for rompido o vínculo de confiança com o DEM.
Também são pré-candidatos aos governos de seus estados os senadores Eduardo Girão (Podemos), do Ceará, e Luis Carlos Heinze (PP), no Rio Grande do Sul.
Para se consolidarem como candidatos da base bolsonarista, contudo, ambos terão que conseguir unir os aliados do presidente em seus respectivos estados.
No Rio Grande do Sul, Heinze lançou sua pré-candidatura ao governo em junho, mas enfrenta a concorrência direta do ministro do Trabalho, Onyx Lorenzoni, que deve trocar o DEM pelo PL para concorrer ao mesmo cargo.
A possível filiação do presidente Jair Bolsonaro ao PP, por outro lado, pode fazer o senador gaúcho ganhar espaço na peleja contra o ministro.O PP tem força eleitoral no Rio Grande do Sul, onde elegeu 143 prefeitos em 2020.
Eduardo Girão, pré-candidato ao governo do Ceará, afirma ter posição de independência, mas atuou alinhado a Bolsonaro na CPI.
Seu principal entrave é a pré-candidatura ao governo do deputado federal Capitão Wagner (Pros), que tem a simpatia do presidente e maior aproximação com os bolsonaristas do estado.
O outro cearense membro da CPI da Covid, senador Tasso Jereissati (PSDB), não deve concorrer a cargos eletivos em 2022. Ele deve deixar a política após 36 anos.
Por João Pedro Pitombo