Alckmin não rechaça ser vice de Lula e diz que é preciso amadurecer conversas – Mais Brasília
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Alckmin não rechaça ser vice de Lula e diz que é preciso amadurecer conversas

Alckmim tem evitado dar pistas sobre seu destino partidário

Lula
Foto: Reprodução/Lula

O ex-governador Geraldo Alckmin (de saída do PSDB) manteve em aberto nesta sexta-feira (12) a possibilidade de um acordo para ser candidato a vice de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na corrida presidencial de 2022, ao indicar que não rechaça a hipótese.

A existência das conversas foi antecipada pela coluna Mônica Bergamo. Adversário histórico do PT, Alckmin, que também é pré-candidato ao Governo de São Paulo, retribuiu as gentilezas que têm sido difundidas por emissários do partido e elogiou o “apreço pela democracia” do ex-presidente.

“Já disseram que eu vou ser candidato a senador, a governador, a vice-presidente. Vamos ouvir. Fico muito honrado com a lembrança do meu nome”, disse ele a jornalistas, após participar de uma gravação ao lado do presidenciável Ciro Gomes (PDT), a convite do ex-governador Márcio França (PSB).

“Tenho um grande carinho e confiança pelo Márcio França. Vamos amadurecer [as conversas] e depois a gente vai conversando”, prosseguiu, confirmando que tem mantido tratativas com líderes de vários partidos sobre seu futuro após a saída de cena com sua derrota na eleição presidencial de 2018.
Ao seu estilo, Alckmin foi genérico ao comentar o assunto Lula, mas acrescentou: “A política precisa ser feita com civilidade, com quem tem apreço pela democracia. Em relação a candidaturas, a decisão não é agora, não é já”.

Em seguida, indagado se o petista preencheria os predicados que ele citou, o ex-governador respondeu: “É claro que tem [apreço pela democracia], não só ele”.

Alckmin tem evitado dar pistas sobre seu destino partidário e até mesmo sobre a data em que pedirá desfiliação do PSDB -se antes ou depois das prévias do partido para escolher o pré-candidato à Presidência, polarizadas entre seu ex-aliado João Doria (SP) e Eduardo Leite (RS).

O quase ex-tucano, que negocia ingressar no PSD, no PSB ou no União Brasil (futuro partido a ser criado com a fusão entre DEM e PSL), disse nesta sexta que está vivendo um tempo de ouvir e de fazer reflexões. Nos bastidores, contudo, ele e seus aliados mantêm negociações avançadas.

“A eleição não é mês que vem”, resumiu, diante da ansiedade dos repórteres, para na sequência falar que uma decisão sobre seus próximos passos “não vai demorar muito não”.

Na semana passada, quando já circulavam os rumores de uma possível parceria com Lula, o ex-governador afirmou em uma rede social que “muitas especulações têm surgido nos últimos dias” sobre seu futuro político e que ele segue “percorrendo São Paulo e pensando nos problemas da nossa gente”.

A possível chapa mudaria o quadro também em São Paulo. Alckmin hoje é quem lidera a disputa pelo governo estadual, com 26% das intenções de voto, segundo o Datafolha. O petista Fernando Haddad aparece em segundo lugar, com 17%, mas salta para 23% em um cenário sem o ex-governador.

Alckmin e Ciro foram convidados por França para serem jurados de um reality show que o ex-governador -e também pré-candidato ao Palácio dos Bandeirantes- criou para suas redes sociais chamado “O Político”, para escolher um jovem com perfil para ser candidato. A estreia deve ser em dezembro.

A gravação, em que os dois veteranos políticos deram dicas aos competidores do programa e avaliaram o desempenho deles em um debate sobre a obrigatoriedade da vacina contra a Covid-19, ocorreu no Teatro Comedy Sampa, na Vila Mariana (zona sul da capital paulista).

Ao sair do local, após desfiar críticas aos rivais Jair Bolsonaro (a caminho do PL) e Sergio Moro (Podemos) e falar de suas articulações para se fortalecer na disputa, Ciro foi questionado sobre sua opinião a respeito da hipótese de Alckmin se aliar ao PT.

O pedetista, que tem Lula como um dos alvos de sua pré-campanha e se dá bem com o ex-governador paulista (ambos nasceram em Pindamonhangaba), afirmou: “Eu não sou uma pessoa de dar muita opinião, não. Mas, se eu fosse perguntado por ele [Alckmin], dizia: ‘Sai fora, rapaz'”.

Nos bastidores da gravação, os três trocaram cordialidades. França tem trânsito privilegiado com os outros dois e tenta costurar acordos que envolvem o pleito de 2022, tanto no âmbito nacional quanto nos estados. O PSB do ex-governador, hoje, tende a apoiar Lula, mas nada está fechado.

Apontado como um dos entusiastas da dobradinha Alckmin-Lula, ele tem reiterado o convite para o tucano histórico migrar para sua legenda. “Eu quero ser candidato a governador de São Paulo. E o que for melhor para isso eu vou trabalhar para que isso possa acontecer”, disse nesta sexta.

França afirmou que não tem intenção de rivalizar nas urnas com Alckmin, de quem foi vice-governador antes de assumir o Bandeirantes por nove meses, em 2018. Os dois têm como batalha comum o enfrentamento a Doria, um outsider que eles ajudaram a inserir na política, mas com o qual romperam.

Descrevendo a eventual chapa presidencial como inusitada, França disse que a movimentação em torno da ideia marca a entrada de Alckmin no jogo de 2022. “É uma bola que entrou no jogo e não tinha entrado até agora. E é decisiva. Eu não senti [que ele esteja chutando essa bola para longe].”

França tem propagandeado o programa como “o primeiro reality show de política do mundo”. Na fase atual da atração, foram 12 participantes de diferentes preferências políticas, escolhidos em uma lista de 160 pré-selecionados. Segundo a assessoria, 10 mil pessoas se inscreveram inicialmente.

Os competidores passaram a semana isolados em um hotel, de onde saíam para as dinâmicas no teatro. Em cada dia eles discutiram um, nas palavras do ex-governador, “tema bombástico”: obrigatoriedade do serviço militar, uso medicinal da maconha, improbidade administrativa e questões identitárias.

Entre os jurados, estiveram ainda: os deputados estaduais Caio França (PSB-SP) -filho de Márcio-, Arthur do Val, o Mamãe Falei (Patriota-SP), Isa Penna (PSOL-SP) e Coronel Telhada (PP-SP), o deputado federal Marcelo Freixo (RJ) e o ex-prefeito de Campinas Jonas Donizette (ambos do PSB).

Antes do debate sobre vacinas contra a Covid, a dica de Ciro -que só à Presidência já concorreu três vezes- foi que os participantes observassem a linguagem corporal. Ele afirmou que adversário político não necessariamente é inimigo e disse ser preciso fazer “prevalecer a razão”.

Alckmin, que é médico de formação e também experimentado em eleições, aconselhou os quatro semifinalistas a respirar com calma antes da fala para favorecer a oxigenação, além de agir com naturalidade, “fazer com sentimento e empolgação”. Mas admitiu: “A gente sempre fica nervoso”.

Por Joelmir Tavares