Eduardo Leite avalia drible de Aécio em prévias para ficar no PSDB
Leite ouviu isso na reunião do dia 15, em Brasília
Cortejado pelo PSD de Gilberto Kassab, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), postergou sua decisão sobre uma candidatura à presidência da República para dar ao seu atual partido uma última chance de sinalizar que sua candidatura pelo PSDB não morreu com as prévias vencidas por João Doria, governador de São Paulo, em novembro.
O argumento para legitimar a contestação a Doria não viria exclusivamente do PSDB, mas também de partidos que negociam a composição para a chapa presidencial, como MDB, União Brasil e Cidadania.
A tese defendida seria a de que as prévias do PSDB podem ter validade interna, mas, para uma composição mais ampla, o nome precisaria ser consensual. Leite entraria como o preferido diante da alta rejeição ao nome de Doria até aqui.
Leite ouviu isso na reunião do dia 15, em Brasília, de tucanos que se opuseram a Doria.
No encontro, o deputado federal Aécio Neves (PSDB) ligou para dois nomes para sustentar sua hipótese: o deputado federal Baleia Rossi (SP), presidente do MDB, e o presidente do Cidadania, Roberto Freire.
Procurado pela Folha, Baleia confirmou por meio de assessoria que a ligação aconteceu, mas rechaçou ter influência na escolha do nome tucano. Disse que a decisão “cabe inteiramente ao PSDB”.
Freire também confirma ter sido procurado por Aécio para convencer o gaúcho, mas prefere enfatizar o discurso no equívoco, na sua opinião, que seria o ingresso de Leite ao PSD.
“O Eduardo é um nome importante para o campo democrático e está em um partido em reorganização, que está pensando em reformas, em economia verde, em renovação.”
“No PSD não há projeto. O PSD é um pântano em que hoje são bolsonaristas e amanhã não sabemos. Ao final da eleição, Leite seria bagaço de laranja”, disse o presidente do Cidadania, que está prestes a se federalizar com o PSDB.
Para se arriscar a renunciar ao governo gaúcho e ainda assim se manter no PSDB, Leite respondeu que precisará de sinais mais concretos de que a hipótese é viável.
Os outros cenários dentro do PSDB seriam concorrer à reeleição no Rio Grande do Sul -o que Leite vem sistematicamente descartando- ou concorrer à presidência da legenda em 2023 com a benção do atual presidente, Bruno Araújo.
No PSD, a única via admitida por Leite é a candidatura como cabeça de chapa. Enquanto aguarda novo aceno do PSDB, Leite discursa que vai “usar toda a pista” antes de tomar a sua decisão.
Conselheiros próximos a Leite, todavia, dizem que o governador considera a hipótese de ressurreição da candidatura dentro do PSDB muito remota e arriscada.
Sobretudo em razão da intransigência de Doria, que também teria de deixar o mandato para concorrer à Presidência e não admitiria ser abandonado pelo caminho.
Já a pecha de “mau perdedor”, que Doria ameaça atribuir a Leite, é rebatida por tucanos gaúchos com suspeitas sobre as prévias do PSDB, que contou com filiações contestadas e uma pane técnica mal explicada.
Nos dias restantes até que Leite renuncie e/ou se filie ao partido em que concorrerá em 2022, o governador articula quem o acompanharia em uma revoada tucana.
O PSDB gaúcho está resignado com a hipótese de perder até metade das bancadas no Legislativo caso Leite migre do partido.
Teme também pelo futuro na legenda de prefeitos do partido de grandes municípios, como Paula Mascarenhas, sucessora do próprio Leite em Pelotas, Fatima Daudt, de Novo Hamburgo, e Adiló Didomenico, de Caxias do Sul.
“O problema é que gaúcho não compra meia briga. Muita gente no PSDB se empolgou com a hipótese de uma candidatura do Leite e agora custa a desistir dessa ideia, ainda que ela venha por outra legenda”, afirma Lucas Redecker, deputado federal e presidente estadual do PSDB.
“Por outro lado, a troca de partido é uma decisão especialmente difícil para um político aqui do estado. E tenho certeza de que isso também pesa para o Eduardo”, completa Redecker.
Conforme aliados, na hipótese de a candidatura pelo PSD não decolar, Leite se preocupa mais com a mácula de ter abandonado o partido em que fez carreira do que com o tempo longe de mandato.
O temor se acentua por se tratar do PSD, partido de pouca identidade ideológica.
Deputados da base de apoio de Leite de centro-direita também temem migrar para o PSD de Kassab e se verem metidos involuntariamente em um apoio à candidatura do ex-presidente Lula (PT), o que pode custar votos do eleitor conservador no interior.
No Rio Grande do Sul, o PSD tem expoentes dos mais variados matizes. Jairo Jorge, prefeito de Canoas, já passou por PT e PDT. Danrlei, ex-goleiro do Grêmio, saiu do PTB para ser o primeiro cacique da legenda no estado em 2015.
Desde quarta-feira (16), o partido conta também com a ex-senadora Ana Amélia Lemos, que foi vice na chapa de Geraldo Alckmin em 2018 pelo Progressistas e, naquele ano, elogiou militantes que “levantaram o relhote [chicote]” contra apoiadores de Lula em ato no interior do estado.
Questionado sobre o apoio a Lula durante o evento de filiação de Ana Amélia, pré-candidata ao Senado, Kassab declarou que “não medirá esforços” para que seu apoio no segundo turno seja ao próprio Leite.
Fazem parte ainda das argumentações do PSD ao gaúcho comparações com jovens de sucesso da política internacional, como a primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, 41, e o novo presidente do Chile, Gabriel Boric, 36. Leite completou 37 anos em 10 de março.
“Tenho ouvido que a terceira via não tem chance de vitória porque a eleição está polarizada. Eu penso o oposto: que a terceira via precisa ser primeiro pavimentada para que o eleitor possa transitar nela.
Vejo o Eduardo Leite como novidade, um candidato que conversa com o que está acontecendo lá fora e foge desse mais do mesmo que temos até aqui”, diz o presidente da comissão eleitoral do PSD no Rio Grande do Sul, Jairo Jorge.
Na hipótese de concorrer à Presidência, Leite deve renunciar ao mandato de governador até 2 de abril.
Por Caue Fonseca