Presidente da Câmara de SP quer vereadora negra para relatar caso de fala racista – Mais Brasília
FolhaPress

Presidente da Câmara de SP quer vereadora negra para relatar caso de fala racista

Durante sessão da CPI foi possível ouvir conversa

Presidente da Câmara Municipal de São Paulo, Milton Leite (União Brasil) articula para que a vereadora Elaine do Quilombo Periférico, do PSOL, seja a relatora na Corregedoria do caso da fala racista proferida pelo colega Camilo Cristófaro (PSB) nesta terça-feira (3/5).

Durante sessão da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) dos Aplicativos, foi possível ouvir conversa em que Cristófaro diz “não lavaram a calçada. É coisa de preto, né?”. Ele participava virtualmente do encontro.

Posteriormente, na reunião de líderes, o vereador afirmou que estava conversando com um amigo quando fez uso da expressão preconceituosa.
A escolha da relatora será conduzida pelo corregedor da Câmara, o vereador Gilberto Nascimento Junior (PSC).

A participação de Leite indica que Cristófaro não deverá passar incólume do novo episódio problemático. Membro da Corregedoria, Elaine é uma liderança influente do movimento negro.
O relatório indicará uma pena ao vereador, que pode chegar à cassação do mandato. Caso aprovado na Corregedoria, o relatório será encaminhado a plenário para votação.

Em discurso nesta terça-feira (3), Leite disse que, como homem negro, considera inaceitável ter tido que ouvir a fala de Cristófaro.
“As pessoas têm que tratar o racismo da forma que tem que ser tratado. Faço uma ofensa moral, peço desculpas e amanhã está resolvido? Não é disso que estamos falando. As pessoas têm que tirar isso do coração”, disse Leite.

OUTROS CASOS
Essa não é a primeira vez que Crisófaro se envolve em confusão. Em 2019, ele chamou o vereador Fernando Holiday (Novo) de “macaco de auditório”, no plenário da Câmara.

“Gostaria de falar que lamentavelmente o senhor Fernando Holiday usa das redes sociais, que ele é o grande macaco de auditório das redes sociais, que ele usa dando risada dessa Casa, explodindo as redes sociais, porque a população adora ver sangue, maldade, mentira, fake, onde ele acusa os seus colegas de vagabundos”, disse Cristófaro, na ocasião.

De acordo com a assessoria do vereador Gilberto Nascimento (PSC), que preside a Corregedoria, o caso referente ao parlamentar Holiday deverá ser votado nas próximas semanas.
Em 2017, a então vereadora e atual deputada estadual Isa Penna (PSOL) disse que foi empurrada e agredida por Cristófaro em um dos elevadores do prédio da Câmara Municipal.

De acordo com Isa, o vereador a xingou de “vagabunda”, “terrorista”, “cocô de galinha” e insinuou ameaças dizendo que ela não deveria ficar surpresa se “tomar uns tapas na rua”.
Em seguida, já fora do elevador, Cristófaro se aproximou da colega de plenário e lhe deu “um empurrão de leve”, de acordo com Isa. O vereador negou na época e diz que não ofendeu ninguém.

Há também acusações de agressões contra o vereador feitas por um funcionário da Subprefeitura do Ipiranga, que teria levado um soco em julho de 2020, e outra realizada por um assessor do vereador Eduardo Suplicy (PT).

No primeiro caso, Cristófaro diz que foi um empurra-empurra e que apenas se defendeu diante do funcionário da subprefeitura. Em relação à queixa do assessor de Suplicy, o vereador afirmou, na ocasião, que a acusação era mentirosa e o funcionário “queria aparecer, queria mídia”.

No dia 13 de março, a gestora pública Lucia de Souza Gomes, 47, registrou um boletim de ocorrência no 26º Distrito Policial, no Sacomã, em São Paulo. Ela acusa o vereador Cristófaro de tê-la ofendido verbalmente.

No boletim de ocorrência, ela narra que, ao tentar se aproximar do prefeito Ricardo Nunes (MDB) durante a inauguração de uma obra, o vereador Camilo Cristófaro disse que, se ela queria aparecer, “que fique pelada na revista Playboy” [sic].

A gestora pública, então, teria respondido que “o prefeito era para toda a cidade e não para algumas pessoas”. Depois, ainda segundo o relato, ouviu o vereador chama-la de “vagabunda”.
Cristófaro nega a versão da mulher e diz que não há provas contra ele.

Por Fábio Zanini