Comitê da Petrobras vê possível conflito de interesses em indicação de Bolsonaro
Possibilidade de conflitos de interesses já havia sido levantada pelo Ministério Público do TCU
Responsável por analisar as nomeações para a alta administração da Petrobras, o Comitê de Pessoas da estatal viu possível conflito de interesses na indicação do consultor Adriano Pires para presidir a companhia, feita pelo governo na última semana.
Pires é sócio da consultoria CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura), que presta serviços a clientes e concorrentes da Petrobras.
Tem tido atuação na defesa de interesses de setores que se relacionam com a empresa, como os de energia térmica e de gás natural.
A avaliação da compatibilidade dos indicados é conhecida como “background check de integridade”, que analisa possíveis incompatibilidades com o cargo. No caso de Pires, os eventuais conflitos de interesse não se resolveriam com a transferência de sua parte no CBIE para familiares.
Nesta segunda-feira (4/3), as ações da Petrobras iniciaram o dia em queda após notícias de que Pires seguirá os passos do presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, que anunciou no domingo (3) a desistência de assumir a presidência do conselho de administração da estatal.
A possibilidade de conflito de interesses já havia sido levantada pelo Ministério Público do TCU (Tribunal de Contas da União), que pediu na sexta-feira (1º) para que Pires só fosse nomeado após investigação da CGU (Controladoria-Geral da União) e da Comissão de Ética.
Até o momento, o Palácio do Planalto e o MME (Ministério de Minas e Energia) dizem que não receberam nenhum comunicado oficial sobre a desistência de Pires. O consultor não atende a telefonemas nem mensagens de WhatsApp enviados pela reportagem.
As indicações de Pires e Landim seriam avaliadas acionistas da estatal em assembleia agendada para o próximo dia 13. Como tem maioria, o governo sozinho conseguiria aprovar, mas há o temor de que os nomes sejam vetados pelo comitê.
Em nota divulgada no início da madrugada de domingo, Landim disse que precisava focar sua atenção no comando do Flamengo e, por isso, não poderia assumir o comando do conselho de administração da Petrobras.
As duas nomeações vinham sendo questionadas pelo mercado, que apontava a proximidade dos executivos com grandes clientes da Petrobras, principalmente o empresário Carlos Suarez, dono da Termogás, empresa que atua no setor de gás natural.
Pires substituiria o general Joaquim Silva e Luna, demitido por Bolsonaro após os mega-aumentos nos preços dos combustíveis há pouco menos de um mês. Landim ocuparia o posto do almirante Eduardo Bacelar Leal Ferreira.
Na Petrobras, as nomeações são vistas como um erro do MME (Ministério de Minas e Energia), que não avaliou os antecedentes dos dois nomeados, que tinham o apoio do Centrão. O governo terá que correr para encontrar novos nomes a tempo de avaliação pelos acionistas na próxima semana.
Landim foi denunciado pelo Ministério Público Federal por suposta gestão fraudulenta de investimentos que teria provocado perdas a fundos de pensão dos empregados da própria Petrobras, da Caixa e do Banco do Brasil.
Apesar de o mercado financeiro ter comemorado as duas indicações do governo em nova dança das cadeiras na estatal, entre os especialistas da área de energia, Landim e Pires formariam na Petrobras uma dupla considerada constrangedora, pela ligação com Suarez.
Pires tem ainda entre seus clientes a Compass, empresa de gás do grupo econômico do empresário Rubens Ometto, e teve forte atuação em debates no Congresso sobre a nova Lei do Gás e sobre as térmicas incluídas como jabutis na MP da Eletrobras.
Por Nicola Pamplona