Anielle Franco assume Ministério da Igualdade Racial com aval do movimento negro
Para Frei Davi, fundador da Educafro, que representa quase cem entidades do movimento negro, a nomeação de Anielle traz esperança
Anunciada nesta quinta (22/12) pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para comandar o Ministério da Igualdade Racial, Anielle Franco passou a ser conhecida em sua luta pelo legado da irmã Marielle Franco, vereadora do Rio de Janeiro assassinada em 2018.
Personalidades do movimento negro ouvidas pela reportagem aprovaram a escolha de Anielle, sobretudo pelo trabalho que a futura ministra vem liderando à frente do Instituto Marielle Franco. Entre os projetos de educação para crianças e jovens promovidos pelo instituto está o curso de formação política para meninas periféricas, mulheres negras e comunidade LGBTQIA+.
“A Anielle traz o DNA da irmã [Marielle], é uma liderança jovem e a sua nomeação trouxe muita expectativa na implementação de pautas com que ela já lida”, afirmou o advogado Humberto Adami, presidente da Comissão de Igualdade Racial do IAB (Instituto dos Advogados Brasileiros).
Para Frei Davi, fundador da Educafro, que representa quase cem entidades do movimento negro, a nomeação de Anielle traz esperança.
“A Educafro tinha a preocupação de se o Lula colocaria [na pasta] uma pessoa viciada na estrutura do partido e que há mais de 20 anos não tivesse feito grandes mudanças para o povo. A Anielle nos enche de esperança, é corajosa e não vai lamber botas”, disse Davi.
A advogada Yasmin Rodrigues, pesquisadora do núcleo de Justiça Racial e Direito da FGV (Fundação Getulio Vargas), classificou a nomeação como histórica.
“Demonstra o forte compromisso com memória e justiça para o povo negro. Anielle é incrível e já realiza um trabalho superimportante no Instituto Marielle Franco. Com certeza será uma ministra competente, segura e que avançará muito em caminhos de combate ao racismo nesse país.”
TRAJETÓRIA
Aos 37 anos, Anielle tem um currículo extenso. Apaixonada por esporte, a carioca sonhava em jogar vôlei, começou a praticá-lo aos 8 e, aos 16, graças a sua habilidade nas quadras, ganhou uma bolsa de estudos nos Estados Unidos.
Anielle morou por 12 anos no território norte-americano, onde graduou-se em jornalismo pela Universidade da Carolina da Norte e conheceu mais de perto a obra de Angela Davis, filósofa e ativista negra feminista, e o ativista Martin Luther King.
A convite da editora Boitempo, aliás, Anielle escreveu a orelha do livro “Angela Davis, uma autobiografia”. Ela também é autora dos livros “Cartas para Marielle”, lançado em 2019 durante a Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), e “Minha Irmã e Eu – Diário, Memórias e Conversas sobre Marielle”, lançado neste ano.
Nascida no complexo de favelas da Maré, Anielle disse em entrevista à agência Alma Preta que, em meio às dificuldades nos Estados Unidos, procurou forças nos estudos e no esporte.
“Minha família lutou muito para que eu me mantivesse lá. Os estudos e o esporte compensavam as dificuldades de ser uma mulher negra e brasileira no exterior”, afirmou Anielle.
Além de jornalismo, ela é formada em inglês e literatura pela UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) e concluiu o mestrado em relações étnico-raciais pelo Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET/RJ).
Por Carlos Petrocilo