Veja nove descobertas feitas por mulheres cientistas que mudaram o mundo
Mulheres contribuíram muito para o avanço da ciência
O meio da ciência foi dominado durante muitos anos por homens brancos de classe social elevada, enquanto as mulheres eram impedidas ou desencorajadas a seguir uma carreira acadêmica.
Já hoje discutir ciência inclui falar sobre diversidade, feminismo e ações para promover a inclusão, o que vem mudando gradativamente a figura do “cientista homem de avental branco” no imaginário coletivo.
Apesar das restrições no passado, as mulheres contribuíram e contribuem muito para o avanço da ciência. Isso é notado especialmente, nos últimos anos, em áreas como ciências biomédicas, onde a presença feminina já é mais do que 50% dos profissionais formados.
Porém, há ainda um considerável abandono das carreiras científicas pelas mulheres, seja por necessidades pessoais e familiares, seja pelas dificuldades de alcançar posições de prestígio.
Iniciativas como a criação de cotas, formulação de diretrizes e comitês de diversidade têm visado minimizar essas diferenças históricas.
No dia 11 de fevereiro é comemorado o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, data criada pela Unesco para dar visibilidade à presença feminina na ciência e aos esforços ainda necessários para uma participação mais igualitária.
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Veja abaixo nove descobertas que foram feitas por mulheres e que mudaram o mundo.
Ada Lovelace (1815-1852) e o primeiro programa de computação
Nascida em Londres, na Inglaterra, Augusta Ada Byron King, mais conhecida como Ada Lovelace, foi uma matemática e escritora e responsável pelo primeiro algoritmo para ser processado em uma máquina da história.
Filha do poeta inglês Lord Byron, Ada começou a estudar matemática aos 17 anos. Em 1842, aos 27 anos, publicou o seu primeiro artigo científico junto com Charles Babbage, pioneiro da computação.
No artigo, Ada acrescentou ideias ao manuscrito original de Babbage e criou algoritmos que pudessem ser lidos por uma máquina, a máquina analítica de seu mentor, usando cartões perfurados com uma sequência gradativa de números racionais chamados números de Bernoulli, o que ficou conhecido como o primeiro programa de computação.
Nettie Stevens (1861-1912) e os cromossomos X e Y
Nascida em Vermont, nos Estados Unidos, Nettie Stevens era de uma família pobre e juntava o dinheiro que tinha para os seus estudos. Sua mãe morreu quando ela tinha dois anos, e o pai, que era carpinteiro, teve dificuldades para manter ela e sua irmã na escola.
Stevens conseguiu terminar os estudos e ingressar na Universidade Stanford, na Califórnia. Após o mestrado, fez um doutorado em genética e começou as pesquisas com órgãos e cromossomos sexuais.
Em 1905, ela publicou suas descobertas em dois volumes sobre diferenciação sexual dos animais, mas o trabalho foi recebido com ceticismo.
Seu orientador, Edmund Wilson, publicou na mesma época um artigo também sobre os cromossomos X e Y, mas a pesquisa de Stevens era mais embasada.
Com sua morte precoce, Nettie não recebeu reconhecimento ainda em vida, mas hoje suas descobertas são consideradas pioneiras nos estudos de determinação do sexo e genética nos organismos.
Marie Curie (1867-1934) e a radioatividade
Polonesa nascida em Varsóvia, Maria Salomoa Sklodowska, mais conhecida como Marie Curie (sobrenome que recebeu após o casamento com o também físico Pierre Curie) foi uma das mais importantes cientistas no século 20, vencedora de dois prêmios Nobel, um em química e outro em física, até hoje a única pessoa a ser laureada em duas áreas distintas da ciência.
Suas pesquisas com radioatividade serviram de base para a criação da radiografia e da aplicação dos raios-X. Junto com o marido, Curie descobriu dois elementos radioativos: o polônio e o rádio.
Em 1906, Pierre morreu em um acidente de carro e Marie continuou com as pesquisas, apesar de ter sido afetada pela morte do marido.
Morreu em 1934 com problemas de saúde decorrentes da forte exposição a isótopos radioativos. Seu legado, o Instituto Pierre e Marie Curie, localizado em Paris, é um dos principais centros de pesquisa de radioterapia do mundo.
Lise Meitner (1878-1968) e a fissão nuclear
Lise Meitner nasceu em 1878 em Viena, na Áustria, e se mudou para Berlim em 1907, onde colaborou com Max Planck e o químico Otto Hahn, com quem trabalhou por três décadas em estudos sobre radioatividade.
Em 1938, no período que precedeu a Segunda Guerra Mundial, Meitner teve que fugir da Alemanha para não ser capturada pelos nazistas por ser judia.
Do refúgio na Suécia, ela continuou colaborando com Hahn por cartas e avançou nos experimentos para separar um núcleo de um átomo. Foi assim que descobriu e explicou o fenômeno da fissão nuclear.
Apesar de ter sido sua a descoberta do processo de divisão do átomo, ela não pode retornar à Alemanha em 1944 e Hahn recebeu, sozinho, o prêmio Nobel de Química. Em 1982 um novo elemento químico, o meitnério (109) foi nomeado em sua homenagem.
Hedy Lamarr (1914-2000) e a comunicação sem fio
A austríaca Hedy Lamarr pode ser mais conhecida pela sua atuação como atriz de Hollywood na década de 1930 do que por sua contribuição na ciência. O fato é que Lamarr, nascida em 1914 em Viena, sonhava em ser atriz de cinema e mantinha em paralelo um hobby de inventora.
Foi assim que criou e patenteou um dispositivo que produzia um “salto de frequência” (conhecido pela sigla FHSS), que anos depois foi crucial durante a Guerra Fria para controlar torpedos e comunicações.
Hoje, o FHSS é a base da tecnologia que usamos todos os dias em celulares smartphone e dispositivos de GPS, Bluetooth e wi-fi.
Rosalind Franklin (1920-1958) e a dupla hélice do DNA
Apesar de ser atribuída à dupla de cientistas James Watson e Francis Crick, foi a química Rosalind Franklin quem descobriu a estrutura em dupla hélice do DNA, servindo de base para os estudos de genética.
Franklin estudava na King’s College em Londres e foi a partir do uso de raios-X que capturou a famosa foto do material genético que compõem os organismos.
Watson e Crick publicaram a foto sem a permissão e sem dar os devidos créditos à Franklin, e receberam em 1962 o prêmio Nobel de fisiologia ou medicina sem jamais citar o nome da cientista, que morreu em 1958, de câncer.
Katherine Johnson (1918-2020) e o trajeto até a Lua
A física e matemática da Nasa Katherine Johnson foi a responsável pelo cálculo exato para traçar a rota da primeira missão tripulada à Lua, a famosa Apollo 11, em 1969.
A missão Apollo foi um sucesso, e foi graças aos cálculos precisos de Johnson, que foi agraciada com a mais alta medalha americana, a Medalha Presidencial da Liberdade, em 2015.
Johnson morreu em 2020, aos 101 anos de idade. Seu trabalho é contado no filme “Estrelas Além do Tempo” (2016).
Vera Rubin (1928-2016) e a matéria escura
A astrônoma Vera Rubin nasceu em 1928, na Filadélfia, e cresceu na cidade de Washington. Após o doutorado na Universidade de Georgetown, Rubin conheceu Kent Ford, inventor de um novo espectrômetro, que podia ser usado para medir o efeito Doppler das estrelas nas galáxias.
Foi com essa ferramenta que a física descreveu a teoria que as galáxias giram do mesmo modo que os sistemas solares.
A partir de suas observações e com a ideia de uma matéria escura “indetectável” –responsável por criar uma força gravitacional que afetava o modo como os objetos se moviam no universo–, os cálculos de Rubin corroboraram a presença da matéria escura e, hoje, os cientistas reconhecem que é ela quem compõe a maior parte do universo.
Christiane Nüsslein-Volhard (1942) e os estudos com embriões
Nascida na Alemanha em 1942, Christiane Nüsslein-Volhard, 79, se formou em ciências biológicas e seguiu com um doutorado em biologia molecular, especialmente focada em pesquisa genética com as moscas-das-frutas (gênero Drosophila).
Em 1955, recebeu um prêmio Nobel em fisiologia ou medicina por seu estudo sobre quais genes estavam envolvidos na determinação da segmentação do corpo da drosófila.
A partir de seus estudos, Nüsslein-Volhard criou as bases para a pesquisa da biologia evolutiva do desenvolvimento, conhecida como evo-devo.
Por Ana Bottallo