União Europeia impõe sanções à Rússia em meio a crise com Ucrânia

O pacote já havia sido chancelado por unanimidade pelos ministros das relações exteriores

A União Europeia aprovou nesta quarta-feira (23/2) um pacote inicial de sanções contra a Rússia em reação ao reconhecimento por parte do presidente Vladimir Putin da independência de duas regiões separatistas na Ucrânia, depois de meses de tensão após o Kremlin posicionar mais de 100 mil soldados em diferentes pontos da fronteira com o país.

O pacote já havia sido chancelado por unanimidade pelos ministros das relações exteriores dos 27 países-membros na terça (22), mas precisava ainda ser confirmado pelos respectivos embaixadores, o que ocorreu nesta quarta.

As sanções impactam os 351 membros da Duma, câmara baixa do Parlamento russo, que chancelaram a decisão de Putin -por enquanto, o presidente está de fora da lista. Eles estão proibidos de viajar aos países do bloco e tiveram bens na UE congelados.

O pacote de retaliações atinge ainda 27 entidades e indivíduos que, segundo o bloco, participaram “da ameaça à integridade territorial, soberania e independência da Ucrânia”. Neste grupo estão membros do governo; bancos e executivos que forneceram apoio financeiro e material às operações nas regiões separatistas de Donetsk e Luhansk; autoridades militares e indivíduos “responsáveis por liderar a guerra de desinformação contra a Ucrânia”.

As sanções incluem o congelamento de bens, a suspensão de financiamento de projetos e levantamento de fundos e a proibição de viagens para países do bloco.

As novas medidas também restringem o comércio das regiões separatistas com a União Europeia, bem como o acesso a investimentos, e a proibição de exportação de bens e tecnologias. O governo russo também terá acesso restrito ao mercado de capitais europeu.

Ainda que tenha sido aprovado por unanimidade nesta terça, os membros enfrentaram um xadrez para decidir o tom do pacote, pois há membros do bloco mais próximos a Moscou que preferiam algo mais limitado. Outros queriam ver uma resposta ampla e dura, com base no que foi discutido nas últimas semanas.

A Itália, por exemplo, que depende do gás russo, defendia que as sanções não impactassem a importação de energia –Putin garantiu que manteria o fornecimento para mercados mundiais–, enquanto a Lituânia argumentava que elas não poderiam ser simbólicas e a Polônia subiu o tom, defendendo que elas se estendessem ao presidente russo.

A adoção de medidas mais brandas, porém, faz parte de uma estratégia adotada pelos ocidentais para poder endurecê-las caso a crise se agrave. O chefe da diplomacia do bloco, Josep Borrell, afirmou na terça que esta era parte da resposta a ser dada, e o Reino Unido já afirmou ter mais sanções preparadas, ainda que esteja fora do bloco.

Mais sanções já estão engatilhadas. Segundo o jornal americano New York Times, na quinta-feira (24) o bloco deve anunciar medidas contra autoridades do círculo próximo de Putin e contra executivos de mídia russos.

O jornal diz ter tido acesso ao documento que lista as sanções que serão anunciadas na quinta. O pacote inclui o ministro da defesa da Rússia, Sergei Shoigu, além do chefe de gabinete de Putin, Anton Vaino, diz o jornal americano. Entram ainda a diretora do Departamento de Informação e Imprensa do Ministério das Relações Exteriores, Maria Zakharova, além de Margarita Simonian, chefe da rede russa de televisão RT. A União Europeia deve classificar os executivos de mídia russos como agentes de propaganda, diz o jornal.

O executivo russo Ievgeni Prigozhin, próximo a Putin e líder da organização paramilitar Grupo Wagner, também deve ser incluído na lista, assim como membros de sua família. As sanções incluem a proibição de viajar para a União Europeia e o congelamento de bens. Além dos indivíduos alvos de retaliação, o documento também lista a proibição de importação de dezenas de bens e serviços e a proibição de financiamento de operações russas no mercado europeu de capitais, diz o New York Times.
Segundo o jornal, a lista foi elaborada em coordenação com autoridades dos Estados Unidos.
Além das sanções do bloco, a Alemanha reagiu individualmente nesta terça, ao congelar a certificação do gasoduto Nord Stream 2, que liga a Rússia ao país europeu e está pronto, mas sem poder operar devido à crise na Ucrânia.

O Nord Stream 2 é o segundo ramal de um megaprojeto iniciado nos anos 2000. Duplica a capacidade de transporte de gás natural pelo mar Báltico, possibilitando à Rússia desviar o fornecimento que hoje é majoritariamente feito por meio justamente da Ucrânia e da turbulenta ditadura aliada Belarus.

A Rússia minimizou o impacto da decisão, com o vice-chanceler Andrei Rudenko dizendo que Moscou não tem nada a temer e que “não acredita em lágrimas”, segundo divulgou a agência de notícias Tass.
A medida não afeta ainda o fornecimento de energia, segundo a própria Comissão Europeia, uma vez que o gasoduto não estava operante. O ministro da Economia alemão, Robert Habeck, disse nesta terça que o abastecimento estava garantido, mas que poderia haver um aumento no preço a curto prazo, o que já ocorreu. O valor subiu 9,2% para 78,5 euros por megawatt/hora.

Diante disso, o porta-voz do presidente francês, Emmanuel Macron, anunciou que o governo tem adotado fortes medidas para congelar o preço do gás, que já vinha em alta há cerca de um ano no país. “Nos bloqueamos o preço do gás e vamos continuar a bloquear o aumento do preço do gás, é claro”, afirmou Gabriel Attal. “A segunda coisa que foi lembrada nesta manhã por Bruno Le Maire [ministro da Economia] é que somos bem menos dependentes do gás russo que outros países.”
A Alemanha, maior economia do continente, depende da Rússia para garantir cerca de metade de sua necessidade energética.

Líderes do bloco europeu marcaram uma cúpula de emergência para quinta-feira para discutir os próximos passos. “É importante que continuemos unidos e determinados e definamos conjuntamente nossa abordagem e ações coletivas”, disse o chefe do Conselho da UE, Charles Michel.

Segundo ele, a pauta da reunião incluirá discutir “como protegemos a ordem internacional baseada em regras; como lidamos com a Rússia, notadamente responsabilizando a Rússia por suas ações; como apoiaremos ainda mais a Ucrânia e seu povo”.

Sair da versão mobile