UE anuncia ajuda humanitária de 1 bilhão de euros para Afeganistão – Mais Brasília
FolhaPress

UE anuncia ajuda humanitária de 1 bilhão de euros para Afeganistão

Talibã teve reuniões diplomáticas com EUA e bloco europeu nos últimos dias, e G20 organizou encontro para falar sobre o país

Foto: Divulgação

Desde sábado (9/10), lideranças do Talibã têm articulado os maiores esforços diplomáticos desde que o grupo fundamentalista retomou o poder no Afeganistão, há pouco menos de dois meses. Reuniões com os Estados Unidos e a União Europeia (UE) foram organizadas no Qatar, e resultados começaram a chegar –ainda que o regime radical siga sem o reconhecimento de nenhuma nação.

A Comissão Europeia, o Poder Executivo da UE, anunciou nesta terça-feira (12/10) um pacote de apoio de aproximadamente 1 bilhão de euros (R$ 6,4 bilhões) para Cabul.

O comunicado foi feito pela presidente da Comissão, Ursula von der Leyen, que justificou a ajuda como uma forma de frear o iminente colapso econômico e a já existente catástrofe humanitária afegã.

“Os afegãos não deveriam pagar o preço das ações do Talibã”, disse, em uma rede social. “O pacote de apoio se destina ao povo afegão e aos vizinhos do país que prestaram ajuda.”

Do montante, 300 milhões de euros serão destinados a ajuda humanitária, como apoio extra para vacinação contra a Covid-19, abrigo e proteção dos direitos humanos, segundo detalhes apresentados por Von der Leyen durante reunião virtual extraordinária do G20 para tratar do assunto. Outros 250 milhões de euros irão para saúde, e o restante, para fundos de apoio a países vizinhos.

Os recursos devem ser repassados a organizações internacionais que ajudam essas regiões, de modo a evitar que sejam usados pelo regime talibã para outros fins.
Ao anunciar o repasse humanitário, a presidente da Comissão Europeia frisou que a medida não abre as portas para colaboração diplomática com o país: “Nossas condições para qualquer envolvimento com as autoridades afegãs são claras, e envolvem os direitos humanos.”

A UE tem uma lista de critérios básicos para estabelecer relações com as novas lideranças de Cabul, e um futuro pacote para o desenvolvimento do país depende disso. Respeitar os direitos humanos fundamentais –em especial os das mulheres–, ser inclusivo e permitir o acesso da ajuda humanitária fazem parte da cesta de exigências.

A reunião do G20 sobre o tema, organizada pelo premiê italiano, Mario Draghi, que detém a presidência rotativa do grupo, deixou mais transparentes as divergências entre os países-membros sobre como lidar com a situação afegã.

“O principal problema é que os países ocidentais querem interferir na forma como o Talibã dirige o país e como trata as mulheres, por exemplo, enquanto China e Rússia têm uma política externa de não interferência”, disse uma fonte diplomática familiarizada com o tema à agência de notícias Reuters.

A China, que prometeu relações amistosas com o Talibã, já exigiu publicamente que sanções econômicas ao Afeganistão fossem suspensas e que bilhões de dólares em ativos internacionais fossem descongelados. Já EUA e Reino Unido resistem a essa possibilidade.

Nesta segunda (11), o secretário-geral das Nações Unidas, o português António Guterres, instou as maiores economias mundiais a ajudarem na recuperação econômica do país e insistiu que há formas de fazer isso sem dar suporte aos talibãs, como por meio da transferência de fundos internacionais para agências da ONU ou ONGs que poderiam transferir o dinheiro para civis.

Guterres falou ainda sobre as “promessas não cumpridas que levam a sonhos desfeitos de mulheres e meninas no Afeganistão”, em referência às frágeis promessas feitas por lideranças do grupo fundamentalista sobre mais moderação.

O secretário-geral alertou, em especial, sobre o papel das mulheres na recuperação econômica. “No Afeganistão, 80% da economia é informal, com um papel preponderante das mulheres. Sem elas, não existe a possibilidade de a economia e a sociedade afegãs se recuperarem.”

No sábado, em Doha, lideranças do Talibã se reuniram com autoridades americanas na primeira conversa direta com Washington desde que o grupo retomou Cabul após a retirada das tropas ocidentais. Os EUA ressaltaram que o encontro não representou o reconhecimento do governo do Talibã.

O ministro das Relações Exteriores do Talibã, Amir Khan Muttaqi, disse em uma entrevista coletiva que o objetivo dos encontros é “ter uma relação positiva com todo o mundo”. “Acreditamos em relações internacionais equilibradas e que essas relações podem salvar o Afeganistão da instabilidade.”

Ainda não foram feitos anúncios sobre os resultados práticos do encontro. Muttaqi afirmou, pouco depois, que Washington se comprometeu em doar vacinas contra a Covid-19 a Cabul.

Já nesta terça, ocorre uma reunião com representantes da UE, também em Doha, capital do Qatar –o país segue desempenhando papel de mediador entre o grupo fundamentalista e as representações diplomáticas ocidentais.

Um dos assuntos na pauta é como evitar que o país da Ásia Central se torne abrigo para grupos terroristas, segundo a porta-voz da UE, Nabila Massrali.

Desde que o Talibã retomou o poder, uma onda de atentados reivindicados pelo Estado Islâmico (EI) tem deixado dezenas de mortos e feridos. No mais recente, um ataque suicida em uma mesquita da província de Kunduz, no norte afegão, deixou mais de 60 mortos, segundo contagem da agência de notícias AFP.

A ramificação afegã do grupo terrorista, conhecida como EI-Khorasan –ou EI-K– vem ameaçando a estabilidade doméstica que os talibãs tentam assegurar como forma de conquistar apoio internacional. Estimativas de julho de 2020 indicam que o EI-K teria até 500 combatentes ativos.