'Sou um estuprador', diz francês julgado por dopar esposa para ser abusada – Mais Brasília
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‘Sou um estuprador’, diz francês julgado por dopar esposa para ser abusada

''Sou um estuprador como os que estão nesta sala'', admitiu. ''Todos sabiam, não podem dizer o contrário'', acrescentou sobre os outros 50 acusados no julgamento, que ocorre no Tribunal Criminal de Vaucluse

Foto: Christiano Antonucci / Secom-MT

Dominique Pélicot, de 71 anos, acusado de drogar a própria esposa para que 50 homens a estuprassem na França, testemunhou pela primeira vez nesta terça-feira (17) e reconheceu os crimes cometidos.

”Sou um estuprador como os que estão nesta sala”, admitiu. ”Todos sabiam, não podem dizer o contrário”, acrescentou sobre os outros 50 acusados no julgamento, que ocorre no Tribunal Criminal de Vaucluse.

Dominique ainda disse que Gisèle não merecia o que aconteceu. ”Sou culpado do que fiz. Peço à minha esposa, aos meus filhos, ao meus netos, que aceitem as minhas desculpas. Peço perdão, mesmo que não seja aceitável”, falou.

”Estraguei tudo, perdi tudo, tenho que pagar”, declarou. O homem, que não comparecia à audiência desde quarta-feira (11) alegando motivos de saúde, fez as confissões enquanto a ex-esposa o encarava sentada nos bancos.

Gisèle também depôs e afirmou que não desconfiou de Dominique ”nem por um segundo”. Ela relatou que o amou por 50 anos e que tinha total confiança no marido: ”Teria dado-lhe ambas as mãos para que cortasse”.

DEZ ANOS DE ESTUPROS

Crimes aconteceram ao longo de dez anos, entre 2011 e 2020. Dominique entrava em contato com homens pelo site coco.fr -já desativado – e marcava os encontros.

No dia combinado, dava um ansiolítico forte à esposa e pedia que os estupradores não a acordassem. Também os orientava a não usar perfume ou cigarro, aquecer as mãos com água quente e tirar a roupa na cozinha, para evitar que fossem esquecidas no quarto.

Segundo o marido, todos tinham ciência de que Gisèle havia sido drogada sem o seu consentimento.

Réus têm entre 26 e 74 anos, e 18 estão presos preventivamente. Os acusados têm perfis diversos. Há solteiros, casados e divorciados, com profissões como bombeiro, artesão, enfermeiro, agente penitenciário, jornalista e eletricista. “Não existe um perfil típico de um estuprador. O estuprador pode ser qualquer um”, disse à AFP Véronique Le Goaziou, pesquisadora especializada em violência sexual.

Suspeitos não usavam preservativo na maioria das vezes. “Por um extraordinário golpe de sorte (…), [Gisèle] se livrou do HIV, da sífilis e da hepatite”, declarou a especialista médica Anne Martinat Sainte-Beuve durante o julgamento, acrescentando que a vítima contraiu quatro infecções sexualmente transmissíveis. Nenhum dos acusados sofre de doenças psicológicas significativas.

Investigação identificou ao menos 92 estupros no período. Os crimes se intensificaram a partir de 2013, quando Dominique e Gisèle se mudaram de Paris para Mazan. Alguns dos acusados alegam que pensavam se tratar de um casal ‘libertino’, o que foi negado pela vítima logo no início de seu depoimento.

“Nunca pratiquei (…) troca de parceiros. Gostaria de deixar claro”, reforçou. “Nunca fui cúmplice, nem fingi que estava dormindo”.

Gisèle só soube dos crimes em 2020, após seu marido ser preso. Dominique havia sido flagrado em um shopping center filmando clientes por baixo de suas saias. Na ocasião, os investigadores encontraram em seus computadores, HDs e pen drives quase 4.000 fotos e vídeos da vítima, visivelmente inconsciente, enquanto dezenas de estranhos a estupravam.

Ao lembrar de quando a polícia lhe mostrou algumas das imagens, em novembro de 2020, Gisèle disse: “Me trataram como uma boneca de pano. (…) O corpo está quente, não frio, mas estou morta na minha cama.”

EM CASO DE VIOLÊNCIA, DENUNCIE
Ao presenciar um episódio de agressão contra mulheres, ligue para 190 e denuncie.

Quem pratica violência doméstica é, na maioria das vezes, parceiro ou ex-companheiro da mulher, mas a Lei Maria da Penha também pode ser aplicada em agressões cometidas por familiares.

Também é possível realizar denúncias pelo número 180 – Central de Atendimento à Mulher – e do Disque 100, que apura violações aos direitos humanos.