Sinto falta de andar na rua, diz papa após ser flagrado em loja de discos
A confissão veio dois dias depois de o repórter de uma agência de notícias registrar uma escapada de Francisco
Em carta enviada a um jornalista espanhol nesta quinta-feira (13), o papa Francisco disse que sente falta, desde que se tornou pontífice, de andar nas ruas como fazia em Buenos Aires, “indo de uma paróquia a outra”.
A confissão veio dois dias depois de o repórter da agência de notícias Rome Reports Javier Martinez-Brocal registrar uma escapada de Francisco para visitar a loja de discos de um amigo na capital italiana.
Na ocasião, o papa driblou os agentes de segurança e chegou ao estabelecimento em um Fiat 500 branco dirigido por um funcionário do Vaticano. O chefe da Igreja Católica por vezes evita veículos à prova de balas e escoltas policiais que chamem a atenção do público.
A tentativa de circular anonimamente, porém, não deu certo, uma vez que o repórter espanhol estava por acaso na região, no centro de Roma, e filmou com o celular a visita de Francisco. Brocal é diretor de notícias da emissora e autor de dois livros sobre o Vaticano -um, inclusive, sobre o atual chefe da Igreja Católica.
O vídeo foi publicado no Twitter e logo viralizou.
Na carta divulgada nesta quinta, o pontífice parabenizou o profissional da Rome Reports, mas brincou que foi “má sorte que a notícia tenha se espalhado”.
“Você não pode negar que foi um caso de azar. Depois de eu ter tomado todas as precauções, havia um repórter lá no ponto de táxi”, escreveu Francisco, agradecendo ao jornalista por fazer seu trabalho, “ainda que tenha colocado o papa em dificuldades”.
Os donos da loja disseram mais tarde que o pontífice ficou no estabelecimento por cerca de 20 minutos e recebeu, de presente, uma caixa de CDs de música clássica. Francisco é conhecido por gostar de Beethoven, Mozart, Bach, além de cantores argentinos de tango.
Quando ia Roma, o então cardeal Jorge Mario Bergoglio, arcebispo de Buenos Aires, costumava frequentar o estabelecimento, localizado próximo a uma residência para clérigos visitantes.
“Ele vinha quando era bispo, arcebispo e cardeal para comprar música clássica para ele mesmo ou para dar de presente a alguém. É um amante da música, da ópera, das vozes. Em particular, é um admirador de [o compositor alemão Richard] Wagner”, disse à agência de notícias AFP Tiziana Esposito, filha da proprietária, que acrescentou que a visita foi “rápida, imensa, grande, humana e maravilhosa”.
No local, trabalham, além de Tiziana, seu marido e sua mãe, Letizia Giostra, que abriu o estabelecimento em 1971. Na Itália, como em grande parte do mundo, o setor tem sofrido com o avanço da tecnologia e a pirataria. Atualmente, a maioria das lojas de discos de Roma está localizada em pequenos espaços, quase que escondida entre restaurantes e casas de souvenir.
Essa não foi a primeira vez que o papa tenta driblar o grande aparato de segurança que o rodeia. Em 2015, ele compareceu a uma ótica no centro da capital italiana para trocar a armação de seus óculos –o produto deveria ter sido entregue ao Vaticano, mas o pontífice decidiu ir buscá-lo. No ano seguinte, Francisco esteve em uma loja não muito longe da sede da Igreja para comprar novos sapatos.
Dois dias depois da mais recente visita pitoresca, o chefe do Vaticano se reuniu com dois vice-presidentes da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), o arcebispo de Porto Alegre, dom Jaime Spengler, e o bispo de Roraima, dom Mário Antônio Silva. O presidente da entidade e arcebispo de Belo Horizonte, Dom Walmor de Oliveira, não viajou devido à situação provocada pelas enchentes em Minas Gerais.
Após o encontro, os religiosos deram uma entrevista à rádio do Vaticano e definiram a reunião como “simples e fraterna”. Na ocasião, foi feito um convite ao papa para visitar a Amazônia e também a região das Missões, no Rio Grande do Sul, onde estão registros das relações entre jesuítas e guaranis. Não foram estipuladas datas de uma possível visita.
Além disso, Francisco discutiu o momento político, econômico e social do país. Neste ponto, ainda segundo os representantes da CNBB, os religiosos chegaram ao consenso de que é necessário “prudência, discernimento, oração e capacidade de diálogo”.