Protesto contra restrições anti-Covid termina em confronto na Bélgica
Um dos países com maior taxa de mortes por habitantes na primeira onda de Covid
Depois de duas noites de protestos violentos contra restrições para combater a Covid na Holanda, confrontos entre manifestantes e policiais chegaram à Bélgica na tarde deste domingo.
Milhares de pessoas se reuniram ao redor da Gare du Nord, em Bruxelas, para protestar contra o que veem como restrições à liberdade: o uso obrigatório de máscaras a partir de 10 anos de idade e a volta ao trabalho em casa quatro dias por semana, se possível.
Ambas passam a valer a partir desta segunda (22). Segundo o governo belga, as restrições visam evitar sobrecarga no sistema de saúde e mortes desnecessárias. Em nota, os organizadores do protesto dizem que as medidas “não constituem uma solução estrutural para os serviços de saúde”.
Um dos países com maior taxa de mortes por habitantes na primeira onda de Covid, provocada principalmente por surtos em asilos –além da contabilidade mais ampla que a de outros países–, a Bélgica controlou a pandemia com um confinamento duro em 2020.
Neste ano, relaxou as regras ao mesmo tempo em que adotou uma das mais bem-sucedidas campanhas de vacinação da Europa: receberam todas as doses 75% da população total –podem se imunizar os que têm ao menos 12 anos.
Entre os adultos a partir de 18 anos, são 87% os que já tomaram todas as doses prescritas. Na faixa mais vulnerável, acima de 65 anos, 93% foram vacinados e já começaram a receber reforço.
Os fármacos derrubaram o número de casos mais graves de Covid, mas, com o fim das restrições à circulação e ao contato, o menor uso de máscaras e a chegada do frio –que propicia aglomerações em locais fechados–, o país começou a ver nas últimas semanas um aumento do contágio.
Mais recentemente, a alta atingiu também as hospitalizações e mortes, levando ao novo endurecimento de restrições.
Na semana que se encerrou em 16 de novembro, foram registrados por dia 12.054 novos casos (19% acima da média da semana anterior), 268 hospitalizações (+29%) e 31 mortes (+29%), das quais só duas foram em asilos.
O ato contra as medidas do governo belga foi previamente acordado com o governo e começou pacífico. O clima esquentou durante a marcha, que passou em frente à sede da Comissão Europeia.
Um grupo forçou caminho por um trajeto não autorizado previamente e foi dispersado com canhões de água e gás lacrimogêneo, segundo a porta-voz da polícia de Bruxelas-Ixelles, Ilse van de Keere.
De acordo com ela, as tropas reagiram após serem atacadas com fogos de artifício e pedras. Vídeos nas redes sociais mostram carros blindados derrubando barricadas de entulho e papelão em chamas.
A polícia estimou que o protesto reuniu cerca de 35 mil pessoas, embora imagens da manifestação indiquem participação menor que a da marcha contra a crise climática, em outubro, quando a presença estimada foi de entre 5.000 e 10 mil integrantes.
Na Holanda, que reinstaurou um confinamento no começo deste mês, houve protestos e prisões em várias cidades do país. Os principais conflitos aconteceram nas noites de sexta, em Roterdã, e de sábado (20), em Haia.
Neste final de semana houve manifestações contra as restrições também na Áustria, que anunciou novo lockdown a partir desta segunda (22), por pelo menos dez dias, e vacinação obrigatória no próximo ano.
O ato em Viena reuniu 40 mil pessoas, segundo a polícia, que disse ter sido atacada por alguns manifestantes. As tropas reagiram com gás lacrimogêneo. A Áustria registrou um dos mais fortes aumentos nas infecções em novembro, ao lado de Holanda e Alemanha.
Na sexta, governadores alemães concordaram em aumentar as restrições para não vacinados, e o Ministério da Saúde disse que um novo confinamento não estava descartado.
A nova onda de contágio atinge a maioria dos países europeus, segundo levantamento mais recente da OMS (Organização Mundial de Saúde), com dados até 14 de novembro. O continente registrou a maior taxa semanal de infecções per capita no mundo, 230 novos casos por 100 mil habitantes.
Em alta há sete semanas consecutivas, as novas infecções bateram recorde semanal na região, desde o início da pandemia, em janeiro de 2020. O número de mortes por covid cresce na Europa desde julho e chegou a 28 mil na semana encerrada no dia 14, mas está abaixo do pico, em janeiro deste ano, quando superou 40 mil.
Sem registro de violência, houve manifestações também na Itália, que tornou a vacinação obrigatória para trabalhadores e deixou de pagar por testes –a alternativa dos não imunizados– e na Croácia, onde profissionais de saúde precisam comprovar que tomaram as duas doses.