Pequim acusa EUA de demonizarem China durante visita de enviada de Biden
Estados Unidos e China trocaram sanções iniciadas por Washington em resposta ao que os EUA dizem ser repressão de liberdades em Hong Kong
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A China acusou os Estados Unidos de “demonizarem” o país, adotando um tom confrontativo durante a visita da secretária assistente de Estado americana, Wendy Sherman, para raras conversas de alto nível entre as duas potências. A número dois da diplomacia americana chegou no domingo (25) à cidade portuária de Tianjin, no norte da China, para reuniões com a diplomacia chinesa em um momento de tensão entre os dois países, envolvendo temas como cibersegurança e direitos humanos.
A viagem também é considerada um passo prévio para um eventual encontro entre o presidente dos EUA, Joe Biden, e o líder chinês, Xi Jinping.
De acordo com um comunicado divulgado pelo ministério das Relações Exteriores chinês, o vice-chanceler, Xie Feng, disse a Sherman nesta segunda-feira (26) que os EUA querem “reacender o senso de propósito nacional colocando a China como um inimigo imaginário” e mobilizam seu governo para sufocar Pequim.
“A esperança pode ser que, ao demonizar a China, os Estados Unidos poderão de alguma maneira (…) culpar a China por seus próprios problemas estruturais”, afirmou, segundo o comunicado, acrescentando que a relação bilateral se encontra “estagnada e enfrenta sérias dificuldades”. Pequim apresentou ainda uma lista de exigências, entre elas a suspensão das sanções contra autoridades e das restrições de vistos a estudantes e o fim da “supressão” de empresas chinesas, afirmou o porta-voz do ministério das Relações Exteriores, Zhao Lijian, a jornalistas.
Ele também solicitou o fim dos pedidos de uma nova investigação sobre as origens do coronavírus na China, em mais uma advertência para que “parem de pisar nas linhas vermelhas”.
“Instamos os Estados Unidos a mudarem sua mentalidade equivocada e sua política perigosa”, acrescentou o comunicado. Xie afirmou que a população de seu país “vê a retórica antagonista dos Estados Unidos como uma tentativa mal disfarçada de conter e suprimir a China”.
No domingo, a diplomata tuitou que havia conversado com empresários americanos sobre “os desafios que enfrentam na China” e enviou suas condolências às vítimas das inundações na província de Henan. Na semana passada, os Estados Unidos disseram que Washington quer evitar um “conflito” e que esperam que os diálogos sejam uma oportunidade para mostrar a Pequim como é uma concorrência “saudável e responsável”.
Na véspera da chegada de Sherman, o chanceler Wang Yi prometeu “dar uma lição aos Estados Unidos sobre como tratar os países com equidade”, antecipando um início de visita tumultuado.
“A China não vai aceitar a superioridade autoproclamada de nenhum país”, afirmou Wang, citado em um comunicado no sábado (24). A visita à China foi adicionada de última hora ao itinerário de Sherman em sua viagem pela Ásia, que inclui paradas no Japão, na Coreia do Sul e na Mongólia.
Além de Sherman, John Kerry, enviado especial de Washington sobre o clima, havia sido o único funcionário de alto nível do governo Biden a visitar a China, em abril.
As duas partes se comprometeram a cooperar no tema das mudanças climáticas, apesar de suas múltiplas diferenças. Biden manteve a política de firmeza com a China adotada por seu antecessor, Donald Trump, enquanto Washington busca construir uma frente unida de “aliados democráticos” contra Pequim.
Na semana passada, Estados Unidos e China trocaram sanções iniciadas por Washington em resposta ao que os EUA consideram como a repressão de liberdades em Hong Kong. Washington também emitiu uma advertência às empresas que operam em Hong Kong sobre a deterioração da autonomia da cidade. Também nesta última semana, os Estados Unidos condenaram os ciberataques em larga escala procedentes da China.