Nobel da Paz vai para ativista da Belarus e ONGs de direitos humanos de Rússia e Ucrânia – Mais Brasília
FolhaPress

Nobel da Paz vai para ativista da Belarus e ONGs de direitos humanos de Rússia e Ucrânia

Láurea foi concedida pela primeira vez em 1901; Volodimir Zelenski era um dos nomes mais cotados para esta edição

O ativista Ales Bialiatski, da Belarus, o Memorial, grupo de direitos humanos da Rússia, e o Centro para Liberdades Civis da Ucrânia ganharam o Prêmio Nobel da Paz de 2022. O anúncio foi feito na manhã desta sexta-feira (7/10) pelo comitê norueguês do Nobel.

A láurea às duas organizações e ao líder cívico dialoga diretamente com o avanço do autoritarismo na órbita do governo de Vladimir Putin e com a Guerra da Ucrânia, iniciada em fevereiro deste ano, algo que já vinha sendo aventado antes do anúncio.

“Eles fizeram um notável esforço para documentar crimes de guerra, abusos de direitos humanos e abuso de poder”, afirmou o comitê na justificativa. “Juntos, demonstram a importância da sociedade civil para a paz e a democracia.”

Bialiatski, 60, está preso na Belarus. Diretor da principal organização belarussa de defesa dos direitos humanos –a Viasna (primavera)– ele integrou uma espécie de conselho de transição formado após o ditador Aleksandr Lukachenko ser reeleito em 2020 em um pleito questionado. Perseguido, o grupo almejava promover uma transferência de poder no país.

O comitê norueguês o descreveu como alguém que “dedicou sua vida a promover a democracia e o desenvolvimento pacífico” e disse esperar que a láurea pressione o regime de Lukachenko a libertá-lo da prisão.

Já o Memorial russo, com mais de três décadas de atuação, é o mais antigo grupo de direitos humanos do país. Ele foi fundado por dissidentes soviéticos —incluindo o vencedor do prêmio Nobel da Paz e físico nuclear Andrei Sakharov— que se dedicaram a preservar a memória dos milhões de russos que morreram ou foram perseguidos em campos de trabalhos forçados durante a era Josef Stálin.

Em novembro de 2021, a Justiça russa pediu a dissolução do Memorial, acusando o grupo de ter infringido “de maneira sistemática” obrigações de sua condição de “agente estrangeiro”. Moscou também argumentou que estava aplicando leis para impedir o extremismo e proteger o país de influências externas. No mês seguinte, a Suprema Corte determinou a dissolução do Memorial, marcando o final de um ano de intensa repressão a críticos e opositores do governo de Putin.

Ao todo, 343 candidatos haviam sido indicados à láurea —destes, 92 eram organizações. A cifra é a segunda mais alta da história da premiação, atrás apenas do recorde de 2016, quando houve 376 concorrentes ao Nobel da Paz.

A curiosidade sobre a lista de nomes, porém, só poderá ser sanada daqui a 50 anos. Os candidatos e aqueles que os indicaram —que, entre outros, envolvem líderes de países e quem eventualmente já foi laureado— ficam sob uma espécie de sigilo por cinco décadas.

A ausência de informação leva a uma corrida, muitas vezes frustrada, de apostas sobre os mais cotados. Para esta edição, eram ventilados ao menos três nomes ligados à guerra em curso no Leste Europeu: do presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, e de líderes opositores da ditadura da Belarus (Svetlana Tikhanovskaia) e do regime de Vladimir Putin na Rússia (Alexei Navalni).