Número de mortos por terremoto no Haiti passa de 1.200; equipes buscam sobreviventes
Um dia após a tragédia, o país está em alerta para os possíveis impactos da tempestade tropical Grace
O número de mortos em decorrência do terremoto que atingiu o Haiti na manhã deste sábado (14/8) subiu para 1.297, afirmou o governo. Ao menos outras 2.800 pessoas ficaram feridas.
Um dia após a tragédia, o país está em alerta para os possíveis impactos da tempestade tropical Grace, prevista para chegar no início da semana.
Após divulgar o balanço inicial da extensão dos danos causados pelo sismo de magnitude 7,2, a Agência Nacional de Proteção Civil anunciou que a tempestade já se aproximava do arquipélago das Antilhas e pediu que a população fique atenta às recomendações das autoridades.
A República Dominicana, país com o qual o Haiti divide a ilha de Hispaniola, emitiu um alerta de tempestade tropical. O Centro de Operações de Emergência dominicano prevê que fortes chuvas, ventos, inundações e deslizamentos de terra são esperados nas costas sul e norte.
A depender dos impactos, a tempestade Grace poderia aprofundar a já frágil situação haitiana. O terremoto atingiu principalmente os departamentos do sudoeste do país, como Sul, Grand-Anse, Nippes e Noroeste.
A infraestrutura rodoviária está danificada devido aos deslizamentos de terra causados pelo terremoto, e vários edifícios, como hotéis, igrejas e hospitais, com a estrutura destruída ou comprometida.
Durante a madrugada, bombeiros e civis trabalharam para vasculhar prédios destruídos em busca de pessoas presas nos escombros. À agência de notícias Reuters, haitianos disseram que passariam a noite dormindo ao ar livre, com receio de que um novo tremor pudesse atingir o país.
Horas após o primeiro terremoto, o país foi atingido por um novo sismo, de menor intensidade, com magnitude 5,8. Ao longo da tarde de sábado, o primeiro-ministro haitiano, Ariel Henry, sobrevoou as partes mais afetadas do país para mensurar os danos e decretou estado de emergência com duração prevista para um mês. “Devemos mostrar muita solidariedade. Vamos agir rapidamente”, escreveu em uma rede social.
Esse é o primeiro grande desafio que Henry, um neurocirurgião, enfrenta à frente do país. No cargo há pouco menos de um mês, ele fora indicado por Jovenel Moïse, presidente haitiano morto a tiros em 7 de julho por um grupo de mercenários -as investigações ainda se desenrolam.
O papa Francisco expressou solidariedade aos haitianos durante a oração na Praça de São Pedro neste domingo (15/8). “Envio minhas palavras de alento aos sobreviventes, esperando que a comunidade internacional se mobilize em seu favor e que a solidariedade de todos possa atenuar a consequência da tragédia”, disse o pontífice.
A ajuda humanitária já começa a chegar ao país. A Cruz Vermelha Internacional ativou um corredor humanitário desde a República Dominicana para fazer chegar aos haitianos afetados pelo terremoto uma ajuda alimentar inicial para 4.500 pessoas.
“A prioridade é dar abrigo a quem teve sua casa destruída ou teve de abandonar sua residência e, em tempos de coronavírus, como fazer isso de modo seguro”, conta à reportagem a porta-voz Susana Arroyo. “Nossas operações sairão do Panamá e da República Dominicana. Além de fazer chegar remédios e alimentos, vamos enviar profissionais para o apoio psicológico, porque sabemos que o trauma do terremoto de 2010 está presente entre as vítimas, que podem precisar desse socorro de saúde mental”, complementa.
A ONG também está colaborando nas operações de resgate, que estão sendo feitas às pressas ante a iminente chegada de uma tempestade tropical à ilha.
“Sabemos que algumas igrejas desabaram durante a missa, portanto estamos colocando o foco nas áreas em que havia mais gente e onde há mais chances de encontrarmos sobreviventes entre os escombros”, afirma um comunicado divulgado pela entidade.
A Cruz Vermelha dos EUA não atua mais na ilha desde que foi acusada de utilizar mal as doações para os desabrigados do terremoto de janeiro de 2010. A Cruz Vermelha Internacional e a Haitiana, porém, continuam funcionando.
No sábado, um grupo de 34 resgatistas do Corpo de Bombeiros de Quito, no Equador, chegou para ajudar os haitianos. Eles compõem o Grupo de Busca e Resgate em Estruturas Colapsadas, com conhecimentos em meteorologia, e contam com equipe de busca canina e tecnológica.
Um grupo de 253 médicos cubanos que residem no Haiti também se deslocou para a área do terremoto com o objetivo de adequar a estrutura de um hospital hoje usado para pacientes com Covid-19.
A um canal estatal de Cuba, Luis Olivero Serrano, chefe da brigada, informou que ainda há muitas pessoas embaixo dos escombros e que os cubanos estão em contato com o Ministério de Saúde haitiano para preparar um hospital na capital, Porto Príncipe. “Preparamos um hospital que é de traumatologia e que está sendo usado para pacientes de Covid. Estamos fazendo a desinfecção e preparação para as cirurgias”, afirmou.
Foram transmitidas imagens da região de Jeremias, capital do departamento de Grande Enseada, um dos mais afetados pelo terremoto, que mostram médicos cubanos atendendo aos feridos nas ruas. Várias pessoas tinham as roupas rasgadas e estavam cobertas de pó dos escombros.
Os EUA enviaram suprimentos e disponibilizaram uma equipe de 65 pessoas com equipamento especializado para o resgate das vítimas, afirmou Samantha Power, diretora da Usaid (a agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional) e destacada por Joe Biden para coordenar a ajuda americana ao país caribenho.
O governo do México anunciou no domingo (15/8) que enviou o primeiro lote de medicamentos e equipes. A República Dominicana enviou alimentos e medicamentos por via marítima a partir das regiões de Cabo Rojo e Manzanillo, próximas à fronteira com o Haiti. No carregamento, estão dois milhões de máscaras e álcool em gel para prevenir a Covid-19, assim como anestesia e suturas para as cirurgias dos feridos no terremoto.
Já no sábado, o Itamaraty confirmou que não há brasileiros entre as vítimas da tragédia.
De acordo com informações do jornal haitiano Le Nouvelliste, o Ministério do Planejamento e Cooperação Externa do país se organiza para coordenar a ajuda humanitária de outros países e organizações não governamentais.
Junto ao Ministério da Economia e Finanças e à Administração Geral da Alfândega, a pasta organiza uma medida para facilitar as formalidades e o desembaraço aduaneiro para produtos relacionados à ajuda humanitária.