Morre Silvio Berlusconi, um dos políticos mais controversos da Itália, aos 86 anos – Mais Brasília
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Morre Silvio Berlusconi, um dos políticos mais controversos da Itália, aos 86 anos

Ex-premiê italiano estava internado em hospital em Milão COMPARTILHAMENTO ESPECIAL Assinantes podem liberar 5 acessos por dia para conteúdos da Folha Assinantes podem liberar 5 acessos por dia para conteúdos da Folha Assinantes podem liberar 5 acessos por dia para conteúdos da Folha ASSINE ou FAÇA LOGIN Salvar para ler depoisSALVAR ARTIGOS Recurso exclusivo para assinantes ASSINE ou FAÇA LOGIN 2

Foto: Yara Nardi/Reuters

O empresário e ex-premiê italiano Silvio Berlusconi morreu, nesta segunda-feira (12), aos 86 anos, de leucemia. Ele estava internado no hospital San Raffaele, em Milão, desde sexta-feira (9). Uma das personalidades mais conhecidas e controversas do país, Berlusconi foi fundador do Força Itália, de centro-direita, um dos partidos que sustentam o governo de Giorgia Meloni, de ultradireita.

Sua entrada na política, na metade dos anos 1990, significou uma nova fase do populismo na Europa pós-Guerra Fria. Sua saída de cena acontece após seguidos escândalos e processos judiciais, em meio à ascensão da ultradireita no continente.

Em abril deste ano, Berlusconi havia sido internado com uma infecção pulmonar decorrente de uma leucemia crônica. No ano passado, uma infecção urinária o levou ao hospital e, em 2020, foi internado por pneumonia em consequência do Covid-19. Em 2016, foi submetido a cirurgia cardíaca na válvula aórtica e, em 1997, um tumor maligno foi extraído da próstata. Nos últimos meses, demonstrava fragilidade física, com dificuldades para caminhar.

Além da atual companheira, a deputada Marta Fascina, 33, Berlusconi deixa cinco filhos, de dois casamentos anteriores, 14 netos e uma bisneta.

A primogênita, Marina, 57, é presidente do grupo Fininvest, que controla os negócios da família: emissoras de TV na Itália e em outros países europeus, editora de livros e periódicos e o clube de futebol Monza, que disputa a primeira divisão do Campeonato Italiano. Segundo a Forbes, a família Berlusconi é a terceira mais rica do país, com patrimônio de US$ 7 bilhões (R$ 35,4 bilhões).

Eleito em setembro de 2022 para o Senado, Berlusconi voltou ao Parlamento depois de nove anos –em 2013, havia perdido o mandato de senador e ficado inelegível por causa de uma condenação por fraude fiscal.

Sua reabilitação política foi ofuscada, no entanto, pela chegada ao poder de Meloni e seu Irmãos da Itália. A coalizão formada com ela e Matteo Salvini (Liga) venceu nas urnas, com 44%, mas o Força Itália terminou a disputa somente em quinto lugar, com 8% dos votos. Mesmo assim, Berlusconi indicou uma das figuras proeminentes do governo, o vice-premiê e ministro das Relações Exteriores, Antonio Tajani, apontado como seu sucessor no partido.

O último resultado eleitoral ilustra o declínio pelo qual passava Berlusconi, mas não reflete sua trajetória iniciada há 30 anos. Ex-primeiro-ministro por quatro vezes (1994-95, 2001-05, 2005-06 e 2008-11), obteve cinco mandatos na Câmara, dois no Senado, incluindo o atual, e outros dois no Parlamento Europeu.

Era considerado um populista da direita conservadora, mas se colocava como uma voz moderada diante dos movimentos liderados por Meloni e Salvini, que chegaram ao poder com discursos nacionalistas anti-imigração e anti-europeísta. Durante a pandemia do Covid-19, em que a Itália foi duramente afetada, Berlusconi, diferentemente dos aliados, alertou para o perigo do vírus e incentivou a vacinação.

Sua chegada à política, em 1994, inaugurou a figura do líder que se passa por outsider e encarna o sentimento antipolítica, fenômenos consagrados décadas depois com o brexit e Donald Trump.

Na primeira metade dos anos 1990, a Europa era um continente ainda impactado pelo colapso da União Soviética, e a Itália passava pela Operação Mãos Limpas, escândalo de corrupção que envolveu agentes públicos e empresários. Como resultado, três das legendas tradicionais do século 20 –a Democracia Cristã, o Partido Socialista Italiano e o Partido Comunista Italiano– sumiram de cena de forma repentina.

Foi nesse contexto que Berlusconi “entrou em campo” na política, como ele diz. Chegou após conquistar influência em setores diversos, a começar por empreendimentos imobiliários –é dessa época, nos anos 1970, que vem o título “cavaliere del lavoro” (cavaleiro do trabalho), concedido pela Presidência italiana, apelido até hoje presente na imprensa.

Em seguida, mudou o jeito de fazer TV com seus canais, que trouxeram agilidade à comunicação de massa, então dominada pela emissora estatal. No futebol, foi dono do Milan, em uma das suas fases mais vitoriosas. Era um personagem bem conhecido da população, mas se posicionou politicamente como o novo contra o velho, o moderno contra o decadente. Logo em sua primeira eleição, se tornou primeiro-ministro.

Desde então, ora como parte do governo, ora como oposição, se manteve constantemente nos holofotes. Entre uma e outra vitória política, acumulou dezenas de frases sexistas e racistas, fez da Itália um alvo de escárnio mundial com as festinhas “bunga-bunga” e se tornou réu em mais de 30 processos judiciais, que envolvem de corrupção à prostituição infantil. Nos últimos meses, enquanto Meloni se esforçava para se alinhar à frente ocidental anti-Rússia, Berlusconi deixava escapar frases condescendentes a Vladimir Putin, a quem considerava um amigo.

Também deixa como legado o início do processo de normalização da ultradireita, que agora ocupa o poder na Itália quase 80 anos após o fim do fascismo. Em 1994, Berlusconi permitiu que o Movimento Social Italiano (MSI), formado no pós-guerra por integrantes do regime de Benito Mussolini, entrasse no ministério pela primeira vez, rompendo com o escudo anti-fascista, até então transversal entre os partidos. Mais tarde, em 2008, nomeou para a pasta da Juventude a ministra mais jovem do período republicano: Giorgia Meloni, aos 31 anos.