Jihad Islâmico, que Israel acusa de explodir hospital, é mais radical do que Hamas – Mais Brasília
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Jihad Islâmico, que Israel acusa de explodir hospital, é mais radical do que Hamas

Agora, o grupo volta a ficar em evidência, com a explosão do hospital Ahli Arab, o maior da Cidade de Gaza, que deixou um rastro de corpos desmembrados

Foto: Mohammed Abed/AFP

O protagonismo do Hamas nos ataques a Israel, no dia 7 de outubro, quase fez um outro grupo terrorista palestino que também participou da incursão no país passar despercebido: o Jihad Islâmico, que já no dia seguinte anunciou ter 30 cidadãos israelenses como reféns -contra cerca de 200 que, segundo as autoridades de Tel Aviv, estão em poder do Hamas.

Agora, o grupo volta a ficar em evidência, com a explosão do hospital Ahli Arab, o maior da Cidade de Gaza, que deixou um rastro de corpos desmembrados. Sob acusação dos árabes, Israel nega qualquer responsabilidade no caso e aponta o dedo para o Jihad Islâmico como o principal culpado.

Segundo o Ministério da Defesa do país, foguetes disparados pela facção explodiram nas proximidades do hospital, antes de chegar a Israel.
Junto com o Hamas, o Jihad Islâmico pertence a uma segunda geração de movimentos pró-Palestina na região, surgidos depois dos anos 1980. Especialistas em grupos armados dizem que a facção é ainda mais radical do que o Hamas.

“O Hamas é um grupo terrorista, mas também é um partido político. Eles têm interesse em participar de eleições. São muito radicais, mas há um espaço para negociar com eles. Isso não existe com o Jihad Islâmico. Eles não têm interesse em virar um partido ou participar de negociações”, diz Rashmi Singh, professora de relações internacionais da PUC Minas e especialista em grupos terroristas.

Ela afirma também que o Jihad Islâmico é uma facção com uma atuação bastante secreta e que não se sabe em detalhes como é seu funcionamento. As agências de inteligência dos Estados Unidos estimam que o grupo tenha cerca de mil integrantes, enquanto o Hamas teria entre 20 mil e 25 mil membros.

De vertente sunita, a facção quer o fim de Israel e a construção de um Estado palestino entre o rio Jordão e o mar, a região da Palestina histórica. Seu braço armado, as Brigadas al-Quds, nome árabe de Jerusalém, foi o responsável por muitos ataques a Israel desde os anos 1990, incluindo atentados suicidas.

O Jihad Islâmico tem raízes na Irmandade Muçulmana do Egito, assim como o Hamas, mas foi criado seis anos antes, em 1981. Seus fundadores eram jovens ligados ao ambiente universitário egípcio.

A diferença entre essa nova geração de grupos pró-Palestina e as anteriores é a influência religiosa em sua ideologia.
“Da fundação de Israel, em 1948, até o fim da década de 1970 os movimentos mais poderosos eram mais seculares e abertos em termos de religião. Grupos como o Fatah eram muito mais de esquerda, mais socialistas. Líderes como Yasser Arafat usaram a linguagem do Islã, mas era algo muito mais cultural do que religioso”, diz Singh. “Até esse momento, havia dois ou três ciclos de resistência violenta contra Israel sem qualquer sucesso.”

Vale lembrar que Israel tinha vencido a Guerra dos Seis Dias, em 1967, e o sonho de um triunfo palestino parecia mais longe. Na década seguinte, em 1979, o Egito, eterno defensor dos palestinos, assinaria os Acordos de Camp David com Israel –no mesmo ano, o Irã seria palco de uma revolução islâmica.

Esse contexto leva uma virada da resistência palestina com um salto do pan-arabismo, a crença na unidade dos povos árabes, para uma busca de alternativas em vertentes políticas do Islã. O Jihad Islâmico surge assim.

Apesar de ser sunita, o grupo já disse reconhecer, nos últimos anos, a validade de outras vertentes do Islã. Os combatentes da facção são contra a solução de dois Estados e negam que os judeus tenham qualquer conexão com a Palestina histórica –mas reconhecem a importância de símbolos cristãos.

A relação entre Jihad Islâmico e Hamas é ora de aproximação contra o mesmo inimigo, ora de conflitos. Nos anos 2010, por exemplo, não era incomum o Hamas sofrer retaliação por ataques a Israel lançados pelo Jihad Islâmico –enquanto o primeiro tentava negociar cessar-fogos, o segundo seguia em frente com as agressões.

Desde a expulsão do Fatah de Gaza em 2007, a facção é o segundo grupo mais forte na área, mas está presente também na Cisjordânia. Segundo os Estados Unidos, hoje o Jihad Islâmico recebe apoio do Irã e da Síria, além do Hizbullah, no Líbano.

Por Maurício Meireles