Gangue no Haiti sequestra 17 missionários americanos em Porto Príncipe
Polícia acusa grupo criminoso 400 Mawozo de raptar religiosos e seus familiares
A gangue haitiana 400 Mawozo sequestrou no sábado (16/10), em Porto Príncipe, 17 missionários dos EUA e do Canadá, incluindo membros de suas famílias, afirmou a polícia neste domingo.
Autoridades haitianas disseram que os religiosos foram sequestrados na saída de um orfanato -eles se dirigiam ao aeroporto para deixar parte do grupo antes de seguir a outras partes do país. Para alguns membros dessa organização religiosa sediada em Ohio, nos EUA, esta era a primeira viagem ao Haiti.
Em um comunicado, a Christian Aid Ministries confirmou que, ao todo, foram raptados 16 americanos e um cidadão do Canadá, entre os quais cinco homens, sete mulheres e cinco crianças.
De acordo com informações da polícia haitiana, o grupo armado que há meses realiza sequestros e roubos na região entre a cidade e a fronteira com a República Dominicana, incluindo o rapto de cinco padres e duas freiras no começo deste ano, foi o responsável pelo sequestro.
Nos últimos anos, sequestros se tornaram uma ferramenta comum para grupos criminosos do Haiti conseguirem dinheiro, mas o ato deste sábado, contra um grupo tão grande de americanos, chamou a atenção pela ousadia, de acordo com autoridades ouvidas pelo jornal The New York Times.
Mais de 600 crimes do tipo foram registrados nos primeiros três trimestres de 2021, contra 231 no mesmo período de 2020, segundo o Centro de Análise e Investigação em Direitos Humanos, em Porto Príncipe.
À agência de notícias AFP um porta-voz do governo dos EUA se limitou a afirmar que a segurança de cidadãos americanos no exterior é uma prioridade e que a Casa Branca tinha ciência da situação.
Em abril, dez religiosos franceses foram sequestrados por uma gangue na mesma região. Libertado depois de 20 dias de cativeiro, o padre Michel Briand disse que o grupo estava “em um lugar ruim, em um momento ruim” e que quem os sequestrou não planejou a ação.
A violência se espalhou pela capital Porto Príncipe, que já tem metade da cidade controlada por gangues, segundo estimativas. Na última segunda-feira (11), grupos criminosos atiraram contra um ônibus escolar e feriram cinco pessoas, incluindo estudantes. No mesmo dia, outro ônibus foi sequestrado na cidade.
Dois eventos recentes aumentaram as tensões num país já traumatizado pelo histórico de turbulência. Em julho, o presidente Jovele Moïse, sob o qual recaíam acusações de autoritarismo, foi assassinado por mercenários -48 pessoas, incluindo 18 colombianos e 2 americanos de origem haitiana, foram presas. O episódio provocou protestos, com desabastecimento de suprimentos e casos de violência nas ruas.
O procurador-geral do país, Bed-Ford Claude, incluiu o primeiro-ministro, Ariel Henry, na lista de suspeitos.
Segundo Claude, registros telefônicos indicavam que o premiê se comunicou ao menos duas vezes com Joseph Badio, um dos principais suspeitos de envolvimento no assassinato de Moïse, na noite do crime.
Como resposta, Henry destituiu o procurador do cargo e acusou as autoridades de promoverem “manobras de distração para criar confusão e impedir que a Justiça faça seu trabalho com calma”. As eleições gerais, inicialmente programadas para setembro, foram postergadas para o final de 2022.
Além do assassinato do presidente, o Haiti viu sua situação social se agravar após um terremoto de magnitude 7,2 deixar mais de 2.200 pessoas mortas e cerca de 400 feridas em 14 de agosto.
O sismo, que atingiu com maior intensidade a parte sudoeste do país, abalou também a infraestrutura urbana. Mais de 130 mil casas tiveram a estrutura comprometida. Diante da espiral de problemas, o país virou símbolo da crise migratória na fronteira dos EUA, com milhares de haitianos em busca de refúgio.