Estudo genético descobre primeira família de neandertais em caverna da Sibéria
Análise mostrou que ossos eram de pai, filha adolescente e mais dois familiares
Um estudo genético, publicado nesta quarta-feira (19), esboça os contornos de uma “organização social” de uma mesma família de neandertais que viviam há mais de 50.000 anos em uma caverna da Sibéria.
O sequenciamento, em 2010, do genoma do homem de Neandertal pelo sueco Svante Paabo, recentemente contemplado com o Prêmio Nobel de Medicina, permitiu traçar a história desta linhagem extinta, que povoou o oeste da Eurásia entre 430.000 e 40.000 anos atrás.
Graças às escavações arqueológicas, sabe-se que alguns neandertais enterravam seus mortos, fabricavam ferramentas e inclusive adornos, longe da imagem de brutos primitivos que os acompanhou durante muito tempo.
Mas sabe-se pouco sobre sua estrutura social. O sequenciamento genético de um grupo inteiro de indivíduos, o maior já realizado sobre estes hominídeos, traz alguns elementos.
A história se passa no sul da Sibéria, na Rússia, uma região particularmente frutífera para a busca de DNA antigo, já que o frio ajuda a conservar este frágil e precioso indicador do passado.
Ali foi descoberto o genoma do homem de Denisova – outra raça humana extinta – na gruta de mesmo nome, lembra um comunicado do Instituto Max Planck de Antropologia evolutiva de Leipzig (Alemanha), onde foram realizados trabalhos publicados na revista Nature.
A cerca de cem quilômetros de distância, encontram-se as cavernas de Chagyrskaya e Okladnikov, ocupadas pelos neandertais há cerca de 54.000 anos.
Ali já tinham sido recuperados vários vestígios em uma única camada de depósitos, o que indicava que os ocupantes tinham vivido aproximadamente no mesmo período.
Para comprová-lo, era preciso fazer o DNA falar, uma tarefa mais complicada porque não se tratavam de esqueletos completos, mas de dentes e fragmentos de ossos dispersos.
“Primeiro, tivemos que identificar com quantos indivíduos contávamos”, explica à AFP o paleontologista Stéphane Peyrégne, um dos principais autores do estudo.
Sua equipe usou novas técnicas para isolar o DNA humano antigo – frequentemente mergulhado em contaminação microbiana – e capturá-lo.
Confirmou-se que os restos procediam de 13 neandertais (7 homens e 6 mulheres, entre eles cinco crianças ou adolescentes), 11 deles estavam na caverna de Chagyrskaya.
CONSANGUINIDADE IMPORTANTE
Em seu DNA mitocondrial – transmitido pela mãe -, os pesquisadores encontraram uma mesma variante genética, a heteroplasmia, que persiste apenas em poucas gerações.
Os genes também revelaram vínculos estreitos de parentesco: um pai e sua filha adolescente, um menino e uma mulher adulta que teria sido sua prima, tia ou avó.
São provas diretas de que estas pessoas pertenciam à mesma família e viviam na mesma época.
Graças à genética, “produzimos uma imagem concreta de como poderia ter sido uma comunidade de neandertais”, comenta Benjamin Peter, que supervisionou as pesquisas juntamente com Svante Paabo.
O grupo em questão, geneticamente próximo dos neandertais do oeste da Europa, não se misturou a outras espécies – sapiens e denisova – como fizeram outros neandertais em outras épocas.
Sua diversidade genética é, por outro lado, muito frágil, um sinal de uma importante consanguinidade e de uma vida em um pequeno grupo, composto por 10 a 20 indivíduos, muitos menor do que as antigas comunidades de Homo sapiens.
“Provavelmente trata-se de uma população muito subdividida”, mas que não vivia completamente isolada, explica Stéphane Peyrégne.
As mulheres teriam tendido a emigrar de comunidade em comunidade para procriar, ficando os homens em seu clã de origem.
Este funcionamento “patrilocal”, que também prevalecia nos Sapiens, é sugerida devido a uma diversidade genética dos cromossomos Y (transmitidos pela linhagem masculina), muito mais frágil do que o DNA mitocondrial, transmitido unicamente pela mãe.
Esta organização já tinha sido antecipada depois da descoberta de fósseis na caverna de El Sidrón, na Espanha, mas com base em um material genético menos completo, observa o paleontólogo Antoine Balzeau, que não participou do estudo.
“É uma proeza técnica muito interessante para nossas pesquisas, embora seja preciso comparar com outros grupos”, respondeu este pesquisador no Museu Nacional de História Natural.