Contra variante delta do coronavírus, Chile e Uruguai já aplicam terceira dose
Os dois países são os mais avançados na vacinação na América do Sul
Com quase 70% de sua população imunizada com duas doses de vacina contra o coronavírus, Uruguai (69,7%) e Chile (68,7%) começaram, nos últimos dias, a aplicar uma terceira dose, com vistas a conter o avanço da variante delta. Os dois países são os mais avançados na vacinação na América do Sul.
Embora não existam estudos publicados sobre a necessidade da terceira dose e a OMS (Organização Mundial da Saúde) tenha recomendado que não se avance com doses de reforço enquanto faltam imunizantes a vários países, ambos os governos consideraram necessária a medida.
O Chile iniciou a aplicação de terceiras doses na semana passada, e o Uruguai, nesta semana. Na América Latina, além de ambos, apenas a República Dominicana vem aplicando a dose de reforço.
“As vacinas são eficazes e estamos vendo nossa curva de hospitalizações e mortes cair. Porém, temos de pensar também na qualidade da imunidade que queremos atingir, e queremos uma imunidade de maior duração”, diz à Folha Miguel O’Ryan, infectologista do Instituto Biomédico da Universidade do Chile.
“Levantamento feito pelo ministério da Saúde chileno, em que acompanhamos 10 milhões de pessoas vacinadas, nos mostra que, ao longo dos meses, a eficácia da vacina vai caindo lentamente”, afirma.
O levantamento do governo chileno, divulgado em 5 de agosto, afirma que “os anticorpos neutralizantes diminuem de modo mais acentuado depois de cem dias da segunda dose”.
Já Rafael Radi, ex-coordenador do Grupo Assessor Científico (GACH), que vinha assessorando o presidente uruguaio Lacalle Pou, afirmou que a terceira dose ajuda o Uruguai a estar “mais bem preparado para as novas variantes”.
O biomédico e presidente da Academia Nacional de Ciências do Uruguai diz que a dose de reforço é uma otimização. “Para que estejamos todos mais tranquilos e que não haja recuos na nossa volta às atividades, como vemos ocorrer em outros países que reabriram logo após a segunda dose e tiveram que retroceder”, diz ele.
“As variantes que estão aparecendo têm as pessoas não vacinadas como território virgem. Vemos no mundo que o que temos hoje é uma pandemia de não vacinados. A terceira dose é importante pensando num contexto de viagens e de mais interações sociais”, afirma Radi.
Ambos os países vêm realizando aberturas das atividades comerciais e de mobilidade. Suas fronteiras, porém, continuam fechadas para estrangeiros.
O Uruguai anunciou uma abertura por etapas. Em setembro, poderão entrar não uruguaios que tenham uma propriedade no país, realizando quarentena ao chegar. Em novembro, o governo prevê voltar a abrir para turistas estrangeiros, que estão vetados desde março de 2020. Eles terão de estar vacinados e com um PCR negativo.
O Chile também não permite, ainda, a entrada de estrangeiros. Os chilenos que chegam de fora devem realizar quarentenas de sete dias em hotéis e só são liberados depois de um PCR negativo e a necessidade de outra quarentena de mais sete dias em suas casas. O país estuda abrir as fronteiras para estrangeiros vacinados e com PCR negativo nos próximos meses, por isso a ideia de vacinar com a terceira dose o mais depressa possível.
No Uruguai, a dose de reforço começará com os que receberam duas doses da Coronavac. Os adultos com o esquema completo deste imunizante receberão uma dose extra de Pfizer.
“A resposta da Coronavac vai se reduzindo com o tempo, embora seja uma vacina eficaz e segura. Mas se complementarmos com uma dose de vacina de RNA mensageiro, vamos permitir uma melhor imunização contra a delta, devemos manter a resposta em um nível alto”, afirma María Moreno, da Comissão Assessora de Vacinação do Uruguai.
A especialista também considera que a terceira dose deve ajudar a evitar a transmissão comunitária.
Dos vacinados com duas doses no país, 67% tem a Coronavac. A dose de reforço para os imunizados com Pfizer ocorreria na sequência.
“A mistura de plataformas robustece a imunidade, de um ponto de vista teórico e experimental ao longo da história da imunologia”, diz o infectologista Santiago Mirazo. “A medida [da terceira dose] é razoável, acertada, oportuna e baseada em evidência. É uma decisão de saúde pública necessária com um vírus tão contagioso, especialmente com o avanço da variante delta e da possibilidade de outras surgirem.”
No Chile, receberão uma dose extra de AstraZeneca os adultos maiores de 55 anos vacinados com duas doses de Coronavac. Os que estão abaixo dessa faixa etária receberão uma dose extra da Pfizer, assim como os que são imunodeprimidos.
Por Sylvia Colombo