CNN demite âncora Chris Cuomo após revelações em caso de irmão acusado de assédio
Nesse sábado (4/12), a emissora divulgou, por meio de comunicado, sua decisão definitiva
A emissora americana CNN demitiu o âncora Chris Cuomo neste sábado, após novas evidências apontarem um envolvimento maior do jornalista na estratégia de seu irmão Andrew Cuomo, ex-governador de Nova York, para reagir a denúncias de assédio sexual, segundo o jornal americano The New York Times.
No início da semana, a CNN já havia suspendido por tempo indeterminado seu âncora do horário nobre, um dia depois da publicação dos documentos que basearam o relatório no qual o ex-governador é acusado de assediar sexualmente 11 mulheres –ele renunciou uma semana após a divulgação.
Neste sábado, a emissora divulgou, por meio de comunicado, sua decisão definitiva. “Contratamos um escritório de advocacia respeitado para fazer a análise [dos documentos] e o demitimos, com efeito imediato”, diz o texto, segundo o jornal americano. “No processo dessa análise, informações adicionais vieram à tona. Apesar da demissão, vamos investigá-las conforme apropriado.”
O anúncio completa uma queda surpreendente de Chris Cuomo, que desde 2018 comandava um programa no horário nobre da emissora, o “Cuomo Prime Time”. Antes disso, construíra uma carreira de sucesso na TV americana –havia trabalhado na ABC News até ir para a CNN, em 2013, apresentar uma emissão matutino, como uma das primeiras grandes contratações de Jeff Zucker à frente da emissora.
Era do presidente, aliás, que, até o último mês, Chris Cuomo contava com o apoio, sem nenhuma medida disciplinar aplicada por seu envolvimento na estratégia de defesa de seu irmão, uma quebra das regras da emissora. Ao menos uma vez Zucker defendeu o jornalista dizendo que era humano e enfrentava “circunstâncias bem particulares”, segundo o New York Times.
A posição da emissora, no entanto, mudou quando os materiais inéditos foram divulgados na segunda-feira (29/11). Cópias de mensagens de texto e emails, bem como depoimentos do ex-governador e de seus assessores mais próximos contradizem o que Chris Cuomo declarava.
Aos investigadores, o âncora da CNN insistiu que nunca manipulou a cobertura ou fez sugestões a outros jornalistas para beneficiar o ex-governador. Aos espectadores disse ter agido apenas como um irmão para “ouvir e dar conselho”, orientando o democrata a dizer a verdade, qualquer que fosse, e eventualmente a renunciar.
Devido ao acesso que ele tem a diversas fontes dentro e fora da imprensa americana, o jornalista foi acionado pela ex-assessora Melissa DeRosa –que deixou o cargo dois dias antes de Cuomo– enquanto ela tentava controlar, no início de março, os jornalistas que investigavam as histórias de assédio. “Pode deixar”, foi a resposta de Chris Cuomo, de acordo com o jornal americano.
Dias depois, ela voltou a escrever para ele após saber que um repórter da revista The New Yorker se preparava para publicar uma reportagem, pedindo que o âncora da CNN checasse a informação.
Ainda em março, o jornalista também procurou DeRosa por mensagem de texto, dizendo-se em “pânico” devido à forma com que a equipe de seu irmão estava lidando com as acusações e pediu para ajudar na preparação de Andrew Cuomo antes de redigir declarações propostas para o então governador ler.
Ele também pediu que a assessora confiasse nele e insistiu para que parassem de esconder detalhes. “Estamos cometendo erros que não podemos [cometer]”, escreveu a certa altura, segundo o jornal.
Chris Cuomo ainda procurou a ex-assessora após uma reportagem do New York Times sobre um assédio cometido num casamento. O jornalista escreveu dizendo ter uma pista de que a mulher estaria agindo para ferir a imagem do ex-governador –o que não era verdade, segundo ele admitiu aos investigadores.